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sábado, 20 de abril de 2024

“Amambai não aceita que um terço da sua população é indígena”, diz vereador

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19/04/2018 08h35

“Amambai não aceita que um terço da sua população é indígena”, diz vereador

Amambai conta hoje com uma população de cerca de 12 mil índios

Fonte: Redação

Amambai (MS)- O professor e vereador Ismael Guarani Kaiowá foi categórico ao afirmar durante entrevista, que a sociedade amambaiense tem dificuldade para compreender e aceitar que um terço da sua população, o que soma mais de 12 mil pessoas, é constituída por indígenas.

Segundo ele, o preconceito, mesmo que velado, ainda existe e prejudica os indígenas na busca por seus direitos. “Toda vez que um de nós sai em busca de seus direitos em relação a benfeitorias para a comunidade em que está inserido, a sociedade de fora, que não sabe o que nós vivemos, começa a falar coisas que não existem, dão vida a mitos que nos rodeiam e que nos desmerecem (…) essa falta de informação da população, que não sabe como vivemos, como lutamos, é o que mais nos prejudica”, afirmou o vereador.

A professora indígena, Lurdelice Moreira comenta sobre o preconceito contra o índio em Amambai: “O índio sofre preconceito todos os dias e não é só por conta da raça ou cor, mas por conta de estar sujo na cidade (…) Quando o índio vai ao mercado, todos já olham como se ele não tivesse dinheiro e fosse roubar,sem contar a mulher indígena, que é vista por todos como prostituta (…) Nós temos o nosso dia e gostamos disso, mas todo dia é dia de índio, todo dia é dia de lutar por direitos, todo dia é dia de valorizar e buscar quebrar esse preconceito que infelizmente é tão presente na nossa cidade”, explica a professora.

Para Dilmar Bervian, presidente da Câmara Municipal de Amambai, o preconceito por pare da população amambaiense não existe e sim, um descaso dos órgãos públicos responsáveis pela população indígena. O vereador cita a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e a Fundação Nacional do Índio (Funai). “Acho que esse preconceito por parte da população não é tão forte, o que é forte é o descaso desses órgãos como Sesai e Funai, que deveriam cuidar dos nossos indígenas, mas não fazem isso (…) esse abandono os prejudica muito, porque sabemos que anualmente são feitos grandes repasses federais para esses órgãos, mas o que chega de investimento para a população indígena de Amambai, por exemplo, é mínima”, ponderou Dilmar.

A luta contra o preconceito

Para tentar a driblar esse preconceito existente contra a comunidade indígena em Amambai, os trabalhos estão voltados a dar mais visibilidade a comunidade, através de feiras, eventos… “Nosso foco é mostrar que nós, indígenas também trabalhamos, a sociedade tem aquele estereótipo de que indígena não faz nada, mas nós também produzimos, não em escala industrial, mas produzimos e é isso que queremos mostrar, que somos um povo que produz alimento, arte, cultura, entre outras coisas”, ponderou.

Maiores dificuldades

Para ele, o acesso a órgãos públicos, sejam eles municipais, estaduais ou federais, é uma das maiores dificuldades do povo indígena, o que contribui para que continuem às margens dos serviços.

“Os órgãos públicos têm que entender que nós somos um povo com uma cultura diferente, com uma língua diferente, mas moramos no mesmo município, estado ou país, então temos os mesmos direitos e deveres de qualquer cidadão (…) se os órgãos públicos fizessem a parte deles, com certeza, muitos problemas que nós, das comunidades indígenas enfrentamos, seriam evitados”, comenta Ismael.

30% dos indígenas de Amambai não possuem moradia

Outra grande dificuldade enfrentada pelos indígenas do município, além do preconceito e da dificuldade de acesso aos órgãos públicos, é o déficit habitacional.

De acordo com Ismael, cerca de 30% da população indígena de Amambai, que corresponde a cerca de 3.600 pessoas, não tem moradia e vivendo debaixo de lonas ou em estruturas improvisadas. São homens, mulheres e crianças e idosos que vivem em péssimas condições de moradia, alojados em barracos de lona e sem saneamento básico. “Se nós tivéssemos o mesmo acesso que o não-índio tem, com certeza o cenário em que vivemos seria diferente”, finaliza.

A população indígena em Amambai soma cerca de 12 mil pessoas / Foto: Moreira Produções

Professor e vereador Ismael Morel / Foto: Moreira Produções

Feira Tekoha Guapoy é forma de dar visibilidade a comunidade indígena de Amambai / Foto: Moreira Produções

Cerca de 30% da população indígena de Amambai / Foto: Divulgação

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