07/03/2018 13h42
Fonte: Redação
Amambai (MS) – Não é novidade que as mulheres vêm tomando seu espaço em diversas áreas e a rural também é uma delas. Jocy dos Santos Dias é um exemplo de mulher que encontrou na Agricultura Familiar a sua fonte de renda e hoje administra o seu próprio negócio.
A agricultora acompanhou desde pequena os trabalhos de sua família na fazenda, mas casou e veio para cidade, onde viveu por 15 anos até sentir a necessidade de voltar para a área rural. A motivação foi uma doença de sua irmã, que possui IDH.
A doença é degenerativa e fez com que sua irmã precisasse de cuidados o tempo todo, reunindo assim toda a família na fazenda de 6,5 hectares, onde cada irmão administra uma parte. Foi assim que surgiu a Orgânicos São Pedro.
Jocy foi a irmã escolhida para tomar conta de toda a parte burocrática da fazenda e se tornou a responsável também por sua parte da terra. Seu marido administra uma bicicletaria na cidade, para onde vem todos os dias pela manhã.
Segundo ela, quando foi para fazenda não tinha nada, foi com muita determinação e força de vontade que assumiu o lugar e hoje oferece diversos produtos, é ela que toma conta desde o inventário até da produção.
“Eu planto de tudo um pouco para que possamos ter sempre alguma coisa”, explica ela.
As vendas de seus produtos acontecem por dois meios, um grupo no WhatsApp da Orgânicos São Pedro, onde ela e seus irmãos anunciam os produtos e também na Feira Municipal, uma união dos agricultores do município, apoiada pela Prefeitura Municipal de Amambai e pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
“O trabalho começa às 3h da manhã e vai até acabar a luz do dia, tenho que gerenciar o tempo para cuidar de tudo, filhos, família, produção, venda, entrega, às vezes não consigo fazer tudo, mais escolho o mais importante, o cliente quase sempre é mais importante que a organização da casa”, diz Jocy.
Preconceito
São nos pequenos detalhes que encontramos o preconceito que ainda existe na sociedade. Jocy conta que neste ano comprou seu carro próprio, mas ao invés de assinarem o nome dela no recibo, a assinatura ficou no nome de seu marido.
É assim que vemos a desvalorização, muitas vezes vão até a minha fazenda, mas não pedem para falar comigo e sim com o meu marido”, explica.
Para mudar esse preconceito, Jocy indica que as mulheres precisam mostrar seu empoderamento. “Hoje em dia existem faculdades online e empregos para nós, só fica sendo submissa quem realmente quer, só nós podemos mudar esse conceito que nos é imposto, são nossas ações que edificam o olhar, fico muito feliz que algumas mulheres se inspirem em mim para conquistar o seu lugar”, acrescenta.
De acordo com a Jocy a situação vem mudando, pois as mulheres passaram a acreditar mais nelas mesmas. “Existem sim preconceito, até mesmo por parte das próprias mulheres, mas nós estamos superando isso admitindo que somos capazes, até mesmo pra mim disseram que eu não iria conseguir, só disse para voltarem depois de três anos e hoje estou aqui”, conclui.
Projetos
A agricultora enfrenta a doença de sua irmã junto a sua família com pouco apoio da área da saúde que até mesmo desconhece a IDH. Para lidar com isto, participa de um grupo onde são trocadas informações, ideias e laudos de pacientes.
O objetivo de Jocy é que no futuro consiga a realização de uma campanha de conscientização sobre a doença que hoje atinge mais de 12 mil brasileiros.
Segundo ela, alguns dizem que essas pessoas seriam de sua família, devido à doença ser pouco divulgada e para comprovar a não realidade desse fato está escrevendo um livro sobre sua árvore genealógica.
Para a fazenda, entre os projetos futuros está a construção de uma cozinha industrial para os produtos que são comercializados, pois hoje são todos feitos em processo artesanal.
“O que me motiva é acreditar que eu consigo e ver o resultado, na agricultura é assim, podemos ver o que a gente faz crescendo, saber que eu vou plantar isso e vou colher isso, isso me dá forças”, conclui.
