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sexta-feira, 29 de março de 2024

Cidadão ou contribuinte? Quem somos?

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14/01/2018 08h30

Por Loreni Giordani

Fui ontem e voltei hoje de Amambai. Lá estive realizando um trabalho inimaginado: finalizando o inventário de meu sobrinho.

A tão sonhada recuperação da rodovia quase pronta. Finalmente podemos rodar na MS 156. Finalmente nossos tributos nos são, pelo menos parcialmente, devolvidos em forma de obra, esta mesma obra que, indiretamente, fez com que a ordem da vida sofresse uma inversão em nossa família.

Na viagem de ida, solitária e, por óbvio, triste, o coração salta quando vai se aproximando da curva trágica, responsável pela interrupção de várias vidas, entre elas a de Henrique Giordani Vitorasso, um jovem alegre, de bem e do bem, amigo, solidário, que todos queríamos por perto, confidente de tanta gente, uma mão sempre estendida, sem nunca esperar retorno.

E nestes saltos emocionados, o pensamento se rebela para analisar criticamente o ocorrido. Na mesma semana do acidente, segundo chegou até nós, numa roda de conversa, um dos engenheiros da obra de recapeamento comentou sobre o perigo da curva do Rio Amambai, dizendo: “Lá, vai morrer muita gente.” Sim! Após isso, a primeira vida que se foi era nossa.

Já por duas vezes parei para ver o local, organizando em minha cabeça os fatos que ela insiste em negar. Desta vez, me detive a olhar para a estrada, com olhos de cidadã, de contribuinte sul matogrossense, contribuinte que paga o terceiro ICMS mais caro do Brasil, Estado em que se paga FUNDERSUL, criado com a finalidade de atender a malha viária estadual, muito criticado na época, mas nunca abolido. Entra governo e sai governo e ele está aí. E, neste governo, o ITCD foi majorado de quatro para seis por cento.
Não há o que sacie a gula tributária!

E, neste livre pensar, lembrei-me de recente viagem de carro à Florianópolis, cortando os Estados de Paraná e Santa Catarina. Passamos por vários trechos em obra, todos muito bem sinalizados, cheios de cones, cheios de alertas, de cavaletes com informações, aviso de desvios, de degraus, de pista irregular. Nas estradas sinuosas, muitas placas avisando sobre curvas perigosas, curvas em declive, recomendando redução de velocidade, uso de freios, enfim, zelando pela vida do viajante. Isso chamo de respeito para com o cidadão, cuidado com a vida. A isso, chamo de cumprimento do dever da Administração Pública que se entende a serviço da população.

Não pude evitar a comparação com o pouco caso a que somos e estamos expostos. Em todo o percurso, vi muitos cavaletes informando que a recuperação da rodovia é mais uma obra do Governo do Estado. A propaganda se faz presente em todo trecho. Vi também, nos locais em que haviam trabalhadores, cones e informação sobre “homens na pista”, sinalizadores e tudo mais que as leis trabalhistas obrigam e que a justiça do trabalhos fiscaliza. Nada, além disso.

Mais uma vez parei para ver melhor o que minha razão se recusa a aceitar. Hoje, vi a sinalização horizontal pronta. Somente isso. Mas no dia do acidente, nem isso havia. O trabalho de recapeamento chegou até a curva e parou, deixando um degrau de oito a dez centímetros de altura. Havia chovido. O Henrique fazia este trajeto todos os finais de semana, quando ia para casa, passar com a família. Sabia da curva e a conhecia muito bem. O que ele não sabia é que naquele dia havia um degrau. Nada avisando, nenhum cone, nenhum cavalete, nenhum alerta. Nada! E o desfecho foi o conhecido.

E, na sinalização vertical, nada mudou. Nenhum alerta, nenhum aviso de curva perigosa, de curva em declive, nada! Uma única plaquinha escurecida pelo tempo e escondida pela mata, invisível até que não se chegue a alguns metros dela. A segunda placa, caída e abandonada. Vi carros descendo em alta velocidade e temi por aquelas vidas, temi por cada cidadão, por cada contribuinte.

E minha mente irrequieta, então, perguntou: Quem somos nós para este Estado tão ávido por arrecadar, mas tão negligente com a vida de quem enche seus cofres? Somos cidadãos ou não passamos de contribuintes coagidos? Quanto vale uma vida perdida por falta de sinalização? Quanto valem todas as que ali já se perderam? Quem é cidadão neste nosso Mato Grosso do Sul tão lindo, tão rico, tão pujante, mas onde os deveres são tão pesados e os direitos tão poucos? Como fica a aplicação dos Princípios Constitucionais da Administração Pública, no que se refere à Moralidade, Razoabilidade e Proporcionalidade, Eficiência e Interesse Público?

UM APELO PELA VIDA E PELA CIDADANIA. RESPEITO É O QUE QUEREMOS.

Loreni Giordani – 11.01.2018

Abaixo as fotos tiradas no dia 11 de janeiro:

Loreni Giordani / Foto: Divulgação

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