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sexta-feira, 19 de abril de 2024

‘Não deveria haver homofobia em nenhum esporte’, diz atleta olímpica do Brasil

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15/02/2017 08h32

Nos Jogos Olímpicos de 2016, a jogadora de rúgbi Isadora Cerullo viu sua vida pessoal ganhar as manchetes da imprensa quando foi pedida em casamento pela namorada Marjorie Enya. Em vídeo para a campanha da ONU ‘Livres & Iguais’, a atleta olímpica e a esposa refletem sobre como a história trouxe visibilidade para os desafios de atletas LGBTI.

Fonte: ONUBR

Quando começou a praticar rúgbi, aos 19 anos, Isadora Cerullo não esperava representar o Brasil em uma Olimpíada. Ainda estudante da Universidade de Colúmbia, a jovem sonhava em ser médica e não podia imaginar que, seis anos mais tarde, viria ao Rio de Janeiro para participar dos Jogos Olímpicos de 2016. A atleta tampouco pensava que a competição lhe renderia mais do que o reconhecimento pelo talento nos gramados.

O Brasil não levou o ouro no rúgbi feminino, mas Isadora levou o coração da namorada Marjorie Enya, que lhe pediu em casamento no parque olímpico de Deodoro, logo após a final da modalidade, entre Austrália e Nova Zelândia. A história do casal rodou o mundo e trouxe para a pauta da imprensa nacional e internacional a visibilidade de atletas gays, lésbicas, bissexuais, trans e intersex.

Isadora conta que nunca escondeu a orientação sexual quando deu início à carreira no esporte de alto rendimento, mas reconhece que cada atleta tem uma história particular. “Eu tenho essa consciência de que muitos atletas profissionais sentem um medo de perder patrocinador ou talvez de ser chutado para fora da federação porque não querem um atleta assim representando o esporte”, afirma a jogadora.

Para ela, o inesperado pedido de casamento acabou sendo “um momento de romper o silêncio e falar que não deveria haver homofobia no rúgbi e em nenhum esporte”. Os próprios valores da modalidade à qual Isadora dedica sua vida vão contra a discriminação, lembra a atleta. “Você tem a disciplina, integridade, solidariedade, paixão e respeito. O respeito é primordial no esporte, dentro e fora de campo.”

Isadora é filha de brasileiros, mas cresceu nos Estados Unidos, onde começou a praticar rúgbi ao frequentar a faculdade. Há cerca de dois anos e meio treinando com a seleção, ela também joga pelo Niterói Rugby Clube. As Olimpíadas de 2016 foram celebradas por fãs e atletas do esporte, pois marcaram o retorno do rúgbi de sete ao quadro de esportes olímpicos, após 92 anos da exclusão da modalidade.

Para Marjorie, que trabalhou como gerente da instalação olímpica onde ocorreram os jogos de rúgbi, esse esporte “procura naturalizar a diversidade”, o que não significa, porém, que não haja preconceito.

“Eu acho que o tipo de violência que acaba permeando qualquer uma dessas relações (LGBTI) até no meio esportivo é a invisibilidade, é não ser levado a sério”, comenta a jovem de 28 anos, que reclama de piadas e comentários ofensivos e também do incômodo que pessoas sentem ao ver Isadora e ela juntas.

Formada em História pela Universidade de São Paulo (USP) e trabalhando atualmente com gestão de esportes, Marjorie espera que “quanto mais pessoas forem abertamente gays, menos digno de nota isso vai ser”.

“Eu nunca quis que qualquer um dos meus afetos fossem tidos sempre como um gesto político, mas eu acho que ainda é o momento para isso ser necessário”, acrescenta.

Nem Marjorie nem Isadora tiveram problemas com familiares ou amigos ao se assumirem lésbicas, mas as duas contam que não ficaram imunes a estereótipos e ideias negativas que ainda circulam na sociedade.

“Tem muita pressão para você se encaixar numa identidade que não é sua”, comenta a atleta da seleção. “Eu acho que muito do medo ou da infelicidade vem de achar que alguma coisa está errada com você ou de achar que você não vai ser feliz assim. Não precisa ter toda essa angústia”, afirma Isadora.

Para Marjorie, “a dificuldade maior não é depois que você sai do armário, (mas) é todo o processo até você entender para você mesmo que você precisa aceitar e que você precisa ser feliz da forma como você é”. “O (poeta) Paulo Leminski fala que isso de a gente ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai levar a gente além, e eu acredito muito nisso”, completa.


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