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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Crianças têm aula diferente em cemitério histórico no Rio de Janeiro

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21/08/2014 09h03 – Atualizado em 21/08/2014 09h03

Fonte: Agência Brasil

Cerca de 40 crianças do 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Marechal Espiridião Rosas, que fica no bairro do Caju, no centro do Rio, tiveram uma aula na tarde de hoje (20) em um local que pode causar estranheza à primeira vista: o Cemitério da Penitência, vizinho à unidade escolar. Durante mais de duas horas, os alunos ouviram histórias sobre personalidades da época do Brasil Império e sobre os adornos dos jazigos e capelas, tudo guiado pelo historiador e professor Milton Teixeira.

“O tráfico de escravos foi proibido em 1850. Nessa época, uma migração imensa de lusitanos veio para o Rio atrás de trabalho. Eles vinham a para cá em condições sub-humanas, às vezes dentro dos porões dos navios, e às vezes trabalhavam nas lojas em troca de pratos de comida. Com o tempo e esforço, acabavam conquistando a confiança do patrão, atingindo altos postos e algumas vezes até casando com a filha do patrão, tornando-se sócios e construindo um império. É exatamente nesse momento da valorização do trabalho, da mudança do braço escravo para o braço livre, que se retrata aqui na Penitência”, explicou Teixeira.

Conhecido pelos túmulos de famílias luso-brasileiras, o cemitério foi fundado em 1875 após a proibição de enterros nas igrejas, que era comum naquela época. É um dos mais antigos da cidade e abriga personalidades como o produtor de café Barão de Vista Alegre, que morreu em 1891, o Conde de Vilela e o Comendador Francisco Ferreira das Neves. Ao passar pela via principal do cemitério, os alunos conheceram um pouco da história das capelas e encantaram-se com os azulejos e mosaicos da decoração.

A ideia de fazer a aula dentro de um cemitério partiu da administração do local para tentar desmistificar o clima de tristeza de muitas pessoas, principalmente crianças, com relação ao lugar. “É muito interessante [o Cemitério da Penitência] porque continua intacto, não sofreu vandalismos como outros cemitérios, escapou aos saques e roubos e ficou perfeito. Aqui existem túmulos que imitam capelas portuguesas”, disse o historiador.

Uma das professoras da escola, Maria Valéria Mourão, de 50 anos, acompanhou seus alunos no passeio e falou da importância desse tipo de aula para as crianças. “É diferente. Eles moram aqui por perto e não conhecem o que está próximo. As crianças sempre relacionam cemitério com tristeza. É importante para eles saberem que existem outras coisas aqui. E ainda assim algumas mães não autorizaram a visita dos filhos, mesmo depois de contarmos como seria. São coisas que até podemos levar para a sala de aula para desenvolver alguma atividade”, disse.

Empolgada com o passeio diferente, Ana Beatriz Fonseca, de 11 anos, contou que estava tentando aprender ao máximo com Milton Teixeira. “É legal descobrir túmulos dos portugueses aqui no cemitério. Vi uma capela com um mosaico muito bonito dentro. As casas realmente parecem portuguesas. O passeio vai me ajudar muito na hora de fazer prova, tenho certeza”.

Com os olhos fixos no historiador, as crianças participavam, faziam perguntas e espremiam-se para olhar cada detalhe dos túmulos quando Teixeira fazia as observações. O menino Nicolas de Oliveira, de 10 anos, ficou impressionado com as capelas. “Fiquei sabendo que os azulejos dos mosaicos de dentro da capela não foram fabricados no Brasil. O passeio é muito legal”, disse.

Antes de encerrar o passeio, o historiador passou uma mensagem para as crianças. “Todos que estão neste cemitério contribuíram de alguma forma para o crescimento do Brasil e do Rio de Janeiro. O importante é o que fazemos em vida”.

Crianças têm aula diferente em cemitério histórico no Rio de Janeiro

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