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sexta-feira, 29 de março de 2024

Quaresma e os diferentes jejuns escolhidos em preparação para a Páscoa

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18/02/2018 08h00

Além de privação, é tempo oração e caridade

Fonte: Midia Max / Tatiana Marin

Tradicionalmente, o jejum realizado por católicos em todo o mundo durante a Quaresma é o de carne, mas existem fiéis que adequaram o mandamento e escolheram outros tipos de privação, como doces e até redes sociais. Entretanto o propósito continua o mesmo: a busca pela espiritualidade e se tornar uma pessoa melhor.

A sugestão do padre Carlos Alberto Pereira, vigário da paróquia Sagrado Coração de Jesus, é que as pessoas façam jejum de acordo com o que podem fazer. Segundo ele, normalmente a privação é de alimentos, bebidas, falar muito, uso do celular, computador, redes sociais e televisão. “Tem que ser algo que gosta muito, algo que vai sentir falta. A igreja amadureceu muito nisso, tem pessoas que não podem se privar de alimentos por causa da saúde”, explica.

O arcebispo de Campo Grande Dom Dimas Laras Barbosa confirma que “não existe instrução oficial na Igreja Católica e o jejum depende da criatividade das pessoas. Quaresma é tempo de abstinência e jejum. Tradicionalmente, o jejum é de comida, se abster de carne, mas, como exemplo, na Amazônia, onde as pessoas já não consomem carne, os padres recomendam abstinência de peixe. A ideia da abstinência de doce, da língua ‒ muito difícil e útil ‒ são conselhos que padres dão por iniciativa própria e depende da realidade de suas paróquias”, avalia.

Mas nem só de privação se vive a Quaresma, neste período os fiéis são aconselhados a orar e praticar obras de caridade. “É necessário conversar com o Senhor pelo menos uma vez por dia. Ir à missa pelo menos aos domingos, fazer obras de caridade, como visitar asilos, hospitais ou doar cestas básicas ou objetos que você não usa mais. Tem que tentar se reconciliar com alguém, perdoar, pagar suas dívidas”, acrescenta padre Carlos Alberto.

Da carne às redes sociais

Depois dos 16 anos, quando já estava crismada e foi coroinha na paróquia onde participa, a contadora Jaqueline Alves Garcia, hoje com 28 anos, passou a se dedicar ao jejum e oração nos 40 dias que antecedem a Páscoa. “Comecei a guardar a quaresma quando tive maturidade maior na fé. Todo ano faço jejum. Não é sempre o mesmo. Mas sempre respeito os três quesitos: jejum, oração e caridade”, conta.

Em alguns anos, ela se privou de carne, em outros de pão e neste ano vai deixar de comer doces. Jaqueline relata que “quando se propõe fazer algo, as provações são maiores e dá mais vontade consumir, se estressa mais, acontecem coisas para tentar tirar o foco do jejum. Mas a gente se coloca em oração e consegue chegar até o final. Acho que é pra provar nossa fé”, salienta.

​Quando finalmente o período termina, Jaqueline diz que percebe que realmente aquilo do qual ela se privou realmente não fazia tanta falta assim. “Não é uma coisa que não vive sem. É uma dependência que não é uma coisa boa. É um período quando a gente se aprofunda, e as leituras da Quaresma são propícias para isso e a gente coloca bem pequeno no colo de Deus”, conclui.
Conforme as palavras do padre Carlos Alberto, quem guarda a Quaresma “ganha principalmente uma intimidade com Deus” e a percepção de que “neste mundo não precisamos de todas as coisas que queremos para sermos feliz. A privação nos mostra que aquilo não vai nos tirar a paz, alegria ou felicidade”, ensina.

Este foi o entendimento do funcionário público Giovany Dutra, de 33 anos, em anos anteriores quando deixou de tomar café. “Sempre tomei muito café, mas quando a quaresma acabou eu nem percebi e a necessidade havia diminuído”, relata. Mas neste ano, ele foi inspirado pela namorada a, nestes 40 dias, se desligar do mundo virtual. “Desde ontem [terça-feira] já desinstalei o aplicativo do meu celular. Percebi que perdia pelo menos duas horas e meia por dia no Facebook. Neste tempo, posso me dedicar à oração e a ajudar outras pessoas”, pontua.

O sacrifício oferecido por Giovany é, como ele diz, “uma vontade do meu coração” e não é moeda de troca a procura de bênçãos. Entretanto ele acredita que no final do período vai estar fortalecido na questão do tempo gasto. “Acredito que quando voltar, eu tenha um equilíbrio melhor sobre a rede social”, e acrescenta que as privações a que se submetem os fiéis na Quaresma devem ter um propósito. “Jejum sem propósito não é jejum, é dieta”, enfatiza.

Devoto de São Miguel Arcanjo, o funcionário público atribui ao jejum realizado na Quaresma do santo, um emprego que esperava muito. “Consegui o registro nesse emprego no dia de São Miguel, 29 de setembro”, relembra. Para Giovany, o período é uma forma de agradecer e reforçar a crença no Salvador. “É como se estivéssemos dizendo: ‘os 40 dias de jejum de Jesus Cristo e a Paixão não foram atoa. A gente acredita que você está aqui, que você ressucitou’. Queremos fazer algo em agradecimento, sem receber algo em troca”, conclui.

Adepta do jejum tradicional, a dona de casa Maria José Chianezi de Sá, de 63 anos, se abstém de carne por três vezes na semana durante a Quaresma e incrementa as refeições com legumes e vegetais. “O costume vem da minha bisavó. Foi passando de filho para filho. Eu sigo a tradição que meu pai deixou”, relembra.

Talvez para Maria José, o sacrifício seja ainda maior, pois precisa preparar carne mesmo nos dias que não irá consumir, pois o filho de 23 anos ainda não é adepto da tradição. “Depois que passa a Quaresma sinto que estou aliviada, que fiz alguma coisa, pedindo perdão a Deus por pecados que a gente cometeu”, comenta Maria José e relata que há pessoas riem debocham da fé. “Se essas pessoas fizessem, livraria de muitas coisas. Vem de Deus, dá proteção”, acrescenta.

Para Dom Dimas, apesas das mudanças, a Quaresma sendo um “tempo de preparação para páscoa, continua conservando sua importância e centralidade. Tem a oração, o jejum e obras de misericórdia que são formas adequadas de guardar a Quaresma. Considerando que este ano a Igreja nos convida a refletir caminhos para superar a violência, e em Cristos somos irmãos, a principal mensagem é meditarmos a cada dia na bem aventurança ‒ ‘bem aventurados os que constroem a paz, pois deles é o reino de Deus’”, finaliza.

Colaborou Mariana Lopes.

Foto: Reprodução

Jaqueline vai deixar de comer doces. (Pixabay)

Giovany vai ficar 40 dias sem Facebook. (Pixabay)

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