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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Adiós Bugre Nirceu

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15/12/2014 09h08 – Atualizado em 15/12/2014 09h08

Por Odil Cleris Toledo Puques

Poucas, bem poucas pessoas mereceram e honraram tanto esse nome como o nosso irmão Nirceu Teixeira.

Bugre para nosoutros significa, primeiro ser daqui dessa imensa região dos ervais, depois precisa se orgulhar disso e amar a sua gente, seus costumes, sua bóia, suas danças, suas músicas e cultivá-las e o bugre Nirceu fazia isso como ninguém, ah se fazia.

Não teve um que amou mais esse lugar do que ele. Natural da República do Tujuri, era autodidata em cultura geral, mas sua especialidade eram as coisas do lugar. Truco? Só se for o espanhol ou paraguaio como queiram, com seus ‘mbidos’, ‘flor’, ‘salve’, ‘tento’ ‘quero e retruco’, ‘ouro’, ‘copa’, ‘espadilha’, ‘gato’ e aquela manha típica de quem sabe o que o outro sabe. Dizia que bem mais que um simples jogo o truco espanhol era uma filosofia de vida. Ali naquela mesa tudo se resumia: respeito, companheirismo, alegria, alguns desafios – que não eram suficientes para torna-los desafetos – e o eterno ir e vir das mãos a acariciar a ‘sota’ como se fosse tê-la depois. Da música somente o legítimo chamamé correntino e a polca beeem paraguaia.

Aos falsetes e falsários se aconselhava não entrar mal no Bugre para não sair com um guascaço. Conhecia como poucos os compositores, a origem das músicas, qual a sua era e o seu real significado. Das carreiras gostava de analisar bem mais os hueinos do que os animais, dizia sentir quem dominava quem, se fosse o um apostava contra, se achasse que o cavalo tomara para si as rédeas do destino, pelo jeito que entrava no partidor, não perderia jamais. Convicções de Bugre.

Poeta, poeta de verdade, com conteúdo e sunstância, cantava as cores do seu habitat. Nirceu Teixeira tem para Amambai e região a mesma envergadura do Manoel de Barros para o Mato Grosso do Sul, não exagero, seus versos tem o que o do pantaneiro tinha: a alma do simples e do composto. A maioria dos seus versos são desconhecidos, tanto os escrivinhava, tanto os rasgava, não se achava merecedor deles e embora sabedores da imensa qualidade da sua obra, da poesia que se perdia, não ousávamos contrariá-lo. Bugre não se contesta, Bugre se respeita e pronto.

Se foi o Nirceu e com ele parte do espírito que nos cerca a todos os amambaienses e cultuadores do nosso jeito de ser, não temos como substituí-lo, não se faz um Bugre em uma ou duas gerações, temos como cultivá-lo, seus escritos estão aí para serem cantados pelo ídolo e admirador Mário Júnior, mas não vamos esquecê-lo jamais, pois não se esquece o seu próprio eu.

Fui privilegiado, a vida me fez afilhado dos seus pais, seu irmão portanto, enquanto pude saciei-me nas águas daquela sabedoria. Vai fazer falta Bugre véio. Encha aí um tereré ao som de “Alma Guarani” e olhai por nós.

Nirceu Teixeira da Rosa, em 2013.

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