12.9 C
Dourados
quinta-feira, 18 de abril de 2024

Dinheiro achado!

- Publicidade -

30/11/2015 07h58 – Atualizado em 30/11/2015 07h58

Por Odil Puques

De uma feita quatro almas se encontraram na capital dos sul-mato-grossenses no lugar para onde sempre vão todas as almas perdidas deste mundo: uma pensão. Cada um sonhando seu sonho, tendo objetivos distintos, mas querendo um igual, mudar a sua realidade e dos seus. O ajuntamento se deu naturalmente diante das dificuldades em comum, a principal delas era a sobrevivência naquele mundo inóspito e desconhecido. Um fronteiriço, outro da beira do rio Paraná, um das Minas Gerais e o último Bandeirante, formavam a trupe. A pensão lhes dava pouso e sustento nos dias da semana, nos finais somente pouso. Então a cada sexta começava a saga e expectativa de como sobreviveriam naqueles dois dias posto que o que ganhavam já tinha sido compromissado, pois a proprietária só lhes aceitava na casa mediante pagamento adiantado. As vezes em conjunto, as vezes separados utilizavam de todas as técnicas para conseguir pelo menos uma das refeições do dia. Iam estrategicamente para a casa dos poucos conhecidos lá pelas dez, pediam tereré e iam ficando. Quando não conseguiam o intento a situação piorava justo porque todos sabemos que a erva com água aumenta o vazio do estômago, quando conseguiam exageravam, para aguentar muitas outras horas. Numa dessas a mãe de um dos visitados pediu não tão gentilmente que se evitasse a terceira repetição. Outra técnica era gastar pouca energia, dormir cedo e acordar tarde visto que assim a fome não doiria tanto. Para aqueles quatro a segunda feira era o melhor dos dias, as cinco já se sentia o melhor odor do mundo, o cheiro da saciedade. Mas naquele final de semana as coisas andaram mal, nenhum deles tinha conseguido grande coisa. No sábado a noite um se lembrou de alguns tíquetes que sobrara, o que deu para somente um lanche que foi dividido em quatro partes, mas só. Terrível domingo, não adiantou ficar na cama até as nove e só a água não ajudava a aplacar a fome. Eis que no lusco fusco chegou um deles esbaforido, acabara de encontrar nas alamedas uma carteira e conclamou os outros três a verificar o que nela havia. Documentos, uma folha seca, a fotografia de uma bela morena, uns rabiscos e alguns merréis. A primeira sensação foi de fazer o que seria o certo, devolver tudo. Então um rugido interior lhes lembrou que ainda haveria uma noite mal dormida pela frente. Cada um escolheu o cheese que vinha de tudo, lambuzaram-se e foram dormir. Ledo engano. Não conseguiram. Pesava lhes a consciência…

O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna

Dinheiro achado!

Dinheiro achado!

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-