20.6 C
Dourados
quinta-feira, 25 de abril de 2024

Leci Brandão atribui ataque racista à falta de diversidade na política

- Publicidade -

30/08/2014 10h54 – Atualizado em 30/08/2014 10h54

Fonte: Brasil de Fato

A baixa representatividade de negros e mulheres nos cargos eletivos é um dos argumentos utilizados pelos movimentos sociais que defendem uma assembleia constituinte exclusiva para a reforma política. Nesta semana um caso de racismo envolvendo a deputada estadual de São Paulo Leci Brandão (PCdoB) reafirmou a necessidade de ampliação desse debate.

A Procuradoria Regional Eleitoral do Estado determinou a exclusão de mensagens publicadas por uma internauta nas redes sociais que usou expressões como “macumbeira” e “verme” para se referir à deputada. O procurador eleitoral responsável entendeu que “o ódio e o racismo, contidos nessas e outras expressões, é prática vedada pela lei e é crime inafiançável de acordo com a Constituição”.

Leci é conhecida por ser uma defensora da cultura negra e por denunciar as desigualdades sociais em seu trabalho como cantora e compositora e, mais recentemente, como parlamentar. Nesta entrevista àRadioagência BdF, ela se queixa da falta de visibilidade das expressões culturais de origem africana nos meios de comunicação e defende a reforma política como forma de permitir a participação do “povão” nas estruturas de poder.

Radioagência BdF: Leci, como você reagiu aos ataque sofridos?

Leci Brandão: A minha atitude na condição de parlamentar sempre foi defender as pessoas. Eu respeito todas as religiões, tenho amigos em todas as religiões. De repente você vê um ataque grosseiro, ofensivo e racista. Você se espanta porque estamos em 2014 e, infelizmente, muita gente esconde atrás da internet para colocar o seu ódio, o seu racismo e a sua intolerância de alguma forma. Mas nós temos que conscientizar e sensibilizar as pessoas no sentido de mostrar a laicidade do Estado e o direito que as pessoas têm ao livre arbítrio.

Radioagência BdF: Você acha que isso pode ser usado de forma inversa? Da mesma maneira que faz aflorar essas manifestações racistas, a internet e as redes sociais podem ajudar a combater esse tipo de ação?

Leci Brandão: Com certeza! Porque principalmente a religião de matriz africana não tem um espaço significativo na mídia para mostrar sua realidade, mostrar as coisas boas que as autoridades religiosas de matriz africana fazem. É o acolhimento e o aconselhamento para os bons caminhos, para que as pessoas sejam voluntárias para ajudar a desenvolver a vida dos mais pobres, recuperar pessoas que estão excluídas, gente que está privada de liberdade. Enfim, a religião de matriz africana faz isso. Ela não tem preconceito contra quem quer que seja, ela sempre abre a porta para todos.

Radioagência BdF: Você colocou que, como as pessoas têm possibilidade de se esconderem na internet, é muito mais fácil de expor essa questão do racismo. Eu gostaria que você dissesse se nesses quatro anos de mandato você sentiu isso também ou se essa coisa é mais contida na vida real.

Leci Brandão: Aqui na Assembleia, logo assim que eu entrei, havia deputados que nem me olhavam na cara. Tipo assim: “o que essa negrinha está fazendo aqui?” É uma coisa que você percebe, as pessoas nem te cumprimentam. Eu tenho a mesma função que eles, mas é uma coisa mais ou menos invisível. Mas a partir do momento em que eu comecei a participar das Comissões, como a de Comissão de Educação e Cultura e a Comissão de Direitos Humanos, as pessoas viram a minha atuação e começaram a me respeitar.

A pauta da reforma política está na ordem do dia e uma das questões que mais aparecem é a baixa representatividade de negros e mulheres nos espaços de poder. E você representa justamente esses dois lados muito fragilizados. Então eu gostaria que você avaliasse o impacto dessa baixa representatividade.

Leci Brandão: Teria que ter o financiamento público porque com isso todo cidadão e toda cidadã teria a chance de concorrer a uma cadeira, seja no poder legislativo ou executivo. Porque a partir do momento em que há essa coisa de os empresários e poderosos bancarem as campanhas dos partidos, o “povão” não tem condições de disputar da mesma forma. E além do financiamento público o percentual de vagas deveria ser de 50% para as mulheres e aí você teria condições de ver uma representação infinitamente maior.

A maior parte dos deputados aqui tem curso superior e eu não sou formada em nada. Eu sempre digo que sou formada pela universidade da vida, com o que minha mãe me deu, que são sei palavras: bom dia; boa tarde; boa noite; com licença; por favor; e obrigada. Mas eu tenho noção do que é justiça social. Eu sei o que é direito, sei o que é democracia e entendo o que é liberdade. Em todos os meus projetos e pareceres que eu dou aqui, essa é uma característica muito presente.

Leci Brandão atribui ataque racista à falta de diversidade na política

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-