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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Mulheres, uma barreira para a vitória de Bolsonaro

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09/09/2018 02h07

Por Jairo Nicolau

Um aspecto das duas últimas eleições presidenciais foi pouco salientado pelos analistas. Depois de cinco eleições (1989, 1994, 1998, 2002 e 2006) em que apenas candidatos do sexo masculino obtiveram mais de 10% dos votos, duas mulheres concorreram (Dilma Rousseff e Marina Silva), e receberam juntas cerca de 2/3 dos votos: 66% em 2010 e 63 % em 2014.

O dado é significativo, sobretudo se levarmos em conta o crônico déficit da representação das mulheres nos postos de poder no país. A pergunta óbvia é: houve diferença entre o voto de homens e mulheres nessas duas eleições?

Para tentar responder a questão, utilizei os dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), a principal fonte para análise do comportamento eleitoral no Brasil. A figura abaixo apresenta os resultados dos três principais candidatos nas eleições de 2010. Em que pese algumas diferenças aparentes quando os comparamos —Dilma, por exemplo, parece ter tido um desempenho melhor entre os homens—, elas são anuladas quando observamos a margem de erro (linhas verticais acima de cada barra). Portanto, em 2010 não houve diferenças expressivas entre o voto para presidente de homens e mulheres.

Os dados da disputa de 2014 são apresentados na figura abaixo. As diferenças entre o voto de homens e das mulheres novamente não são relevantes para Dilma e para o candidato do PSDB (Aécio Neves). Já para Marina Silva, observamos uma diferença fora da margem de erro; a candidata do PSB obteve proporcionalmente mais votos entre as mulheres.

Um dado que chamou a atenção de muitos analistas após a divulgação da última pesquisa do Datafolha (que foi a campo entre os dias 20 e 21 de agosto) da corrida presidencial de 2018 é o volume de mulheres indecisas e dispostas a anular ou deixar o voto em branco; no cenário em que o ex-presidente Lula não disputa a eleição o somatório chega a 34%.

A figura abaixo mostra a diferença do voto para presidente, segundo o sexo do entrevistado na pesquisa do Datafolha. Infelizmente, como não tenho acesso ao banco de dados não posso calcular a margem de erro para apresentar no gráfico.

A indecisão e a disposição de não votar em um dos concorrentes entre as mulheres é um dos dados que chama a atenção de quem olha a figura. Em outras eleições observamos padrões semelhantes para o mês de agosto. Porém, a medida que a campanha avança a tendência é que a taxa de indecisos entre os homens e as mulheres seja semelhante.

Um outro dado que salta aos olhos na figura acima é o desempenho de Jair Bolsonaro. A discrepância entre homens e mulheres é enorme. Bolsonaro têm 30% entre os homens, e apenas 14% entre as mulheres. Do outro lado, Marina repete o padrão das eleições de 2014 e tem um desempenho um pouco melhor entre as mulheres (19%), do que entre os homens (13%).

A situação atual de Bolsonaro é singular. Na história das eleições presidenciais brasileiras não há casos de um candidato à presidência com uma discrepância tão grande quando comparamos os votos de homens e mulheres.

Teoricamente, nada impede que as mulheres que ainda não têm candidato decidam-se em grande proporção por Bolsonaro. Mas acredito que a probabilidade disso acontecer seja muito baixa. Ao longo de sua carreira, Bolsonaro priorizou temas associados tradicionalmente ao mundo masculino (vida militar; porte de armas; elogio à ação violenta em política de segurança). Durante a campanha eleitoral desse ano suas propostas e comportamento aumentaram sua rejeição junto ao eleitorado feminino.

Na eventualidade de Bolsonaro passar para o segundo turno, as mulheres devem se constituir em uma barreira quase intransponível para a sua vitória. Não sabemos quem estaria com ele na disputa desse hipotético segundo turno. Provavelmente, o (a) candidato (a) que conseguir consolidar seu apoio entre o eleitorado feminino.

**O artigo é de Jairo Nicolau, cientista político e professor-titular na UFRJ, publicado por El País, 05-09-2018.

Foto: Divulgação

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