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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Entre filme e artesanato, grupo reage contra discurso que mina cultura indígena

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20/02/2019 14h27

Realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, o evento teve exibição de curta, feira de artesanato e debate com lideranças indígenas e apoiadores da luta.

Fonte: CG News/Kimberly Teodoro

As portas do Museu da Imagem do Som de Mato Grosso do Sul ficaram abertas até mais tarde ontem (19) para exibir o curta Cunumi Pepy da Ascuri (Associação Cultural de Realizadores Indígenas), fazer feira de artesanato, arrecadar doações de roupas, materiais escolares, brinquedos e alimentos que serão entregues nas aldeias. Mas sob os holofotes o que mais interessou foi a preocupação com a cultura e os direitos indígenas diante de tantos ataques na política brasileira.

Entre os convidados, estavam Lindomar Terena e Rosalvo Kinikinau, lideranças que trouxeram o ponto de vista da aldeia para as salas do museu. Lindomar retoma a importância da demarcação das terras indígenas, uma pauta que nunca foi prioridade para governo algum. “O processo inicial da demarcação deixou de ser responsabilidade da Funai e está hoje nas mãos do Ministério da Agricultura, quem cuida disso é Luana Ruiz, secretária adjunta da Tereza Cristina. Isso é preocupante, porque eles são contra os direitos dos povos indígenas, como vamos lutar por políticas públicas que respeitem esse direito, se não temos nem a terra?”, questiona.

A demarcação e o direito dos índios às terras aos quais são ligados há gerações é pauta há 30 anos, praticamente todo o tempo de vida da designer Benilda Vergílio, que em todo esse tempo viu pouca coisa mudar.

Representante dos Kadiwéu, para ela outro ponto importante que precisa ser discutido é a educação. “Precisamos de médicos, enfermeiros, advogados, professores e profissionais indígenas que levem conhecimento para as aldeias, quando o acadêmico chega aqui, ele não tem amparo para seguir os estudos, não têm onde ficar na cidade e nem como se manter, é importante saber que existem pessoas que estão se juntando para mudar isso. Eu sou apenas uma voz entre as etnias no estado, mas acho que o que precisamos agora é união entre as lideranças para discutir as prioridades e as medidas possíveis. O que eu vi aqui hoje foi a formação de alianças entre os movimentos, não é uma resposta, mas é um começo”, afirma.

O evento “Povos Indígenas de MS, Vida e Resistência” foi realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, uma rede urbana de apoio às causas indígenas que existe desde 2011. Dessa vez, o objetivo além do debate, foi também reunir mais pessoas dispostas a se envolver na luta e fortalecer o movimento na cidade. Organizador do debate, o professor universitário Paulo Paes diz que um dos agravantes da situação indígena no País, nesse momento, é a proposta da retirada de apoios de ONGs e entidades sociais aos povos indígenas.

Na educação, Paulo vê uma maneira de frear a destruição da cultura indígena. “É muito importante a formação indígena na universidade, tanto que o maior número de indígenas assassinados desde que o coletivo está atuando, é de professores. Eles se formaram na universidade, voltaram para o seu povo e ao voltar, eles voltam com saber e uma liderança, nessa volta, eles são assassinados. Queremos que eles continuem se formando, que tenham direito à bolsa, e uma rede de apoio para que consigam se manter na cidade e estudar”, diz.

Entre as pautas de luta do coletivo estão constituir uma rede urbana de apoio aos indígenas, criar uma feira de artesanato que seja fonte de renda para as aldeias e que fortaleça a cultura na cidade, como uma forma de fortalecer a luta. Melhorar a rede de doações e entregas de roupas, alimentos, brinquedos e materiais escolares para as aldeias também é uma das metas. E principalmente, criar uma casa do estudante indígena, onde os jovens das aldeias possam ficar durante os estudos na capital.

O evento “Povos Indígenas de MS, Vida e Resistência” foi realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, uma rede urbana de apoio às causas indígenas que existe desde 2011 (Foto: Kísie Ainoã)

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