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sexta-feira, 29 de março de 2024

Em tempo de ódio, defendo a democracia

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05/09/2016 15h41

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Como algumas pessoas sabem, meu pai tem estado doente, há um certo tempo, acamado. E é costume cultural da nossa região as pessoas visitarem os doentes, o que é ótimo, sinal de solidariedade e de compaixão.

Mesmo que às vezes cause algum estresse, afinal as pessoas visitam doentes e ficam narrando casos de doenças piores que a que estão vendo. Creio eu ser uma coisa cultural, na desgraça temos que lembrar que tem coisa pior do que estamos vendo. Mas que irrita é fato. Em torno de um doente devemos falar de saúde, de vida e de alegria. Afinal a situação já é tensa, e o papo sinistro só preocupa mais ainda.

Na minha casa existe um adesivo na janela, que diz assim: “Em defesa da democracia, golpe nunca mais”. Apenas mais um adesivo de tantas lutas já travadas por mim e pelos meus.

Uma pessoa que veio visitar pai doente me inquiriu sobre o significado, me acusando, em voz de tom alto, de eu ser “petralha”. Fiquei sem entender bem, e como estou em uma fase (rara) de boa educação, optei por não mandar a pessoa tomar no orifício anal. Mas deu vontade. Apenas respondi que a democracia não pertence a esse ou aquele partido e que a defesa dela é tarefa de todos que pensam. A pessoa ainda me atacou falando que isso é coisa de comunista, de quem apoia índio, negro, mulher, de quem vive às custas do estado, etc., aquele típico discurso de quem lê a veja e assiste o jornal da rede globo.

Simplesmente dei de ombro, deixei a pessoa falando sozinha e fui fazer um tereré.

Mas, como de regra, isso ficou na cabeça, fiquei matutando.

O que leva uma pessoa com curso superior associar a luta pela democracia com um partido? Por que acusar quem tem luta social de ser comunista? Quem me dera todos os lutadores e lutadoras fossem mesmo, talvez tivéssemos menos injustiça e mais igualdade no nosso cotidiano.

Eu defendo sim, por princípio, todas as lutas vinculadas às questões sociais, sejam das mulheres (e elas não precisam da minha defesa, sabem lutar muito bem sem o patrocínio de um homem), dos índios (nunca me pediram apoio e nem necessitam dos palpites de um não-índio, são autônomos e sabem lutar muito bem, até têm me ensinado algumas coisas) e assim por diante. Defendo porque acredito na responsabilidade coletiva pelo futuro da humanidade.

Eu acredito na democracia por princípio de atuação social. E eu afirmo que esse processo de impeachment que ocorreu essa última semana é GOLPE. Golpe pois não existem as prerrogativas legais de crime de responsabilidade por parte da ex-presidenta Dilma. Golpe, pois os julgadores não possuem isenção e jogam no campo do “temos que tirá-la”. Golpe, pois a justiça está comprometida num processo de corrupção que perpassa vários níveis de poder.

Em tempos como esse, sempre lembro de quem sou e de onde vim. Sou fruto da história que vivi. E ela me exige postura. Serei, intransigentemente, um defensor da democracia. Foi assim que fui criado. Nada de autoritarismo me representa. Sei muito bem o que é viver sobre gestão neoliberal, sei o que é ter a liberdade tolhida. Sei como é ser espancado na rua pela PM sem que haja provocação, sou solidário aos atos que tem ocorrido, mesmo que não esteja indo em nenhum, minha prioridade é meu pai, acamado.
Em defesa do que acredito, declaro não voto em partido que apoiou o golpe, que traiu e vilipendiou a frágil democracia brasileira. Tenho vergonha na cara, tenho e faço história.

E o adesivo seguirá na janela, e se achar ruim, faço uma faixa e coloco no muro. Em defesa da democracia sempre.

Seguirei até as próximas eleições afirmando que golpistas não me representam. E por último, fora Temer!

O autor é filósofo e escreve semanalmente nesta coluna

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