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sexta-feira, 29 de março de 2024

Tomar decisões sempre é difícil!

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18/07/2016 07h15

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

“Não tive tempo para ter medo”
(Carlos Marighela)

No muro de um banco, na Rua da República, no final dos anos 1980, havia uma pichação que dizia “Optar é sempre deixar algo de lado”. Não sei o autor da frase, nem da pichação, mas essa frase ficou na minha cabeça o resto da vida. A partir dessa experiência passei a olhar as pichações ao longo do mundo onde andei com outros olhos. Em umas das minhas estadias em Campo Grande, em 2005, alguém escreveu no muro da casa que eu morava, em vermelho, “LUTE”, eu comprei um spray preto e respondi “SEMPRE”. O muro pode ser espaço de poesia e de filosofia.

Fazer opções é uma coisa difícil. Decidir mudar mais difícil ainda.

Em meados da década de 1970 meus pais decidiram mudar para a cidade, deixando a roça, afinal tinham dois filhos e queriam que nós estudássemos. Não participei dessa decisão, afinal eu tinha cerca de 3 anos em 1974. Mudaram totalmente de vida. De peão de fazenda, pai virou carpinteiro. A mãe virou dona de casa e costureira na cidade. E eu virei urbano. Se tivesse condições de opinar na época não sei o que teria dito, afinal sou fruto das decisões tomadas.

No começo dos anos 1980 meus pais decidiram mudar para Dourados. Para tentar “ganhar a vida”, como se dizia. Lá fomos. Viver de aluguel, trabalhar em cidade estranha. A aventura durou alguns anos. Sem nada de ganhar muita coisa. Decidiram voltar para Amambai. E eu e ia e vinha, sem muito poder de decisão. Foi em Dourados que comecei a estudar, a andar na rua, sair de casa. Mas foi aqui, em Amambai, que me tornei gente, aprendi a conviver, principalmente por causa do grupo de jovem JUPAC, lá na capela Rainha dos Apóstolos. Até hoje guardo alguns colegas desse tempo.

Entre erros e acertos, em 1990 decidi ir embora, ganhar o mundo, e fui. Nem sabia o que queria, mas tinha certeza que queria ser mais do estava fadado a ser se continuasse aqui. As opções na época era terminar o ensino médio e seguir trabalhando ou no comércio, se tivesse sorte, ou na construção civil que era o que eu já fazia.

Arrumei a mala, uns poucos livros, e fui. Campo Grande, não deu certo. Dourados, foi bom por um tempo, primeira experiência de faculdade, antigo CEUD, primeiro trabalho noturno, aprendi muito sobre pessoas sendo recepcionista noturno de um hotel. Campo Grande de novo, agora na articulação da Pastoral da Juventude estadual, segunda experiência de universidade, agora na UCDB, cursando um sonho, que era Filosofia, e vivendo o inferno de ter que pagar todo mês a mensalidade. Logo depois de formado, Cuiabá, sair do estado, viver outra cultura e sofrer no calor, primeira inserção total nos movimentos sociais, saindo do viés eclesial, foram 4 anos dentro do MST, aprendi muito. De lá, partiu Goiânia, ser secretário executivo de uma ONG que trabalha com direito humano à alimentação. A partir de Goiânia conheci o mundo, rodei todo o Brasil, boa parte da América Latina e uns países da Europa. Até hoje considero indescritível a experiência de passar um tempo na Itália e na Alemanha. Lembrava sempre de onde eu saí e onde estava.

Decidi ir voltando. Goiânia. Campo Grande. Nova Alvorada do Sul. Outra proposta de trabalho irrecusável me levou de volta para Brasília em 2009. Depois mudamos com tudo do trabalho para Orizona em Goiás, foi como voltar para casa, cidade de 13 mil habitantes, tudo pacato e tranquilo. Em 2012 de volta a Campo Grande, logo depois Nova Alvorada do Sul de novo, e no começo de 2014, de volta à Amambai.
Sempre me perguntam se eu não achei estranho voltar. Pois é, achei! Não conhecia quase ninguém aqui, nem os nomes das ruas eu acertava. Algumas pessoas se incomodam quando falam comigo e eu não as reconheço. Minha memória é seletiva e recente. Não lembro de muita gente do passado. Isso só reforçou minha fama de mal-educado.

Sou feliz por estar em Amambai. Pretendo ficar aqui. Esse mês de julho de 2016, tomamos uma decisão difícil, mudamos de Amambai para Dourados. Não é bem uma mudança, é mais uma segunda casa. Precisamos priorizar o tratamento oncológico do pai, e aqui não existe estrutura de saúde para tal tarefa, e a estrada acabaria matando ele mais rápido que o câncer.

Decisão difícil. Eu moro aqui, eu tenho cuidado deles nesses últimos dois anos e meio em tempo integral, eu trabalho aqui, não quero e nem posso largar Amambai. Logo eu ficarei no processo de ir e vir, uns dias aqui, dando minhas aulas, e uns dias lá, ajudando minha irmã e meu cunhado a cuidar de pai e mãe.

Decidir sempre é difícil, e exige que a gente deixe sempre algo de lado, não é possível escolher duas opções. A vida é feita de tomadas de decisões, nunca tive medo de decidir, mas dessa vez deu uma certa angustia…

Seguimos…

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

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