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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Viva o idiota da aldeia, viva!

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13/06/2016 07h30

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Em uma de suas falas, o grande escritor Humberto Eco, disse que: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

O uso da palavra é uma coisa perigosa. Defende por princípio que todos têm direito a se expressarem livremente. Mas defendo também que cada um deve arcar com as consequências de tudo o que diz (ou escreve).

Sou de um tempo (e essa frase é ótima, pois sempre remete a saudosismo) que as pessoas não usavam rede social, nem aplicativos de mensagens, para se comunicarem. O que tinha que dizer, dizíamos na cara. E tanta briga isso deu. Mas também tanta amizade se criou pelo uso da palavra direta, olho a olho.

Quando estou na sala de aula (não dando aula, pois não dou, vendo-as, barato, mas vendo), uma das coisas que mais incomoda é um acadêmico com o celular na mão o tempo todo, vendo e mandando mensagens. Não por usar o aparelho, eu também o uso quando necessito. Mas pelo desinteresse e desrespeito que mostra com o meu trabalho.

Um professor que se preze, prepara suas aulas com um certo esmero. Eu me prezo. Gasto um bom tempo dos meus dias lendo, procurando novas fontes de informação, comparando autores, para não ficar na mesmice. Vou para a sala de aula com uma empolgação tremenda. E é desestimulador estar em sala, fazendo o meu melhor naquele momento, e olhar para um indivíduo, ou dois, três, mostrando claro desinteresse pelo que estou fazendo.

A vontade é ser autoritário. Recolher o celular, ou mandar guardar.

Como tenho me esforçado todo o tempo de professor, e de cidadão, para superar os resquícios de autoritarismo que a sociedade machista, brancocêntrica, cisnormativa me incutiu, continuo tentando ser um educador mais libertário.

Se eu usar a frase “guarde esse aparelho!”, ou ainda “para de usar o celular ou eu o tomarei”, simplesmente estarei repetindo tudo o que a sociedade me ensinou para ser professor: eu mando e os estudantes obedecem. E eu não acredito nesse tipo de educação.

Educação, em qualquer nível, é para formar cidadãos e cidadãs com um mínimo de qualidade para a vida em sociedade. Por mínimo, entendo uma pessoa com algum senso de ética, de estética, de política, de respeito à diversidade, de valorização do diferente, de autoestima, entre outras coisas. Isso não se faz com mordaças ou proibições. Isso se faz com liberdade.

Que o idiota da aldeia possa dizer o que ele quiser, e que Humberto Eco me perdoe, mas tem idiotas que me interessam mais ouvir que alguns doutores com nobel (ou outros títulos) que não conhecem a aldeia de onde vim.

O direito a palavra é sagrado. Saiba usar esse direito.

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

Viva o idiota da aldeia, viva!

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