27.4 C
Dourados
quinta-feira, 28 de março de 2024

A morte, essa nossa velha amiga!

- Publicidade -

26/04/2016 07h54 – Atualizado em 26/04/2016 07h54

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Só temos uma certeza na vida: morreremos! O resto que a vida reserva é sempre uma surpresa. Podemos viver bem ou não. Sermos felizes ou não. Amarmos ou não. Viveremos como terá que ser, cheios de incertezas. Mas um dia morreremos.

Falar sobre morte sempre é difícil. E na filosofia é um tema atraente. Afinal a melhor parte de ser humano é saber-se finito. Isso nos dá condições de pensarmos qual legado queremos deixar para os que virão.
Se fôssemos imortais, seríamos, talvez, mais amorais. Afinal estaríamos aqui sempre e teríamos tempo de errar milhões de vezes e um dia, quem sabe, acertar. Sabendo-nos mortais, sobra-nos apenas uma tentativa.

Quem crê em reencarnação, ou mesmo na ressurreição, pode alegar que termos, sim, outra vida. Mas em matéria de crença, cada um vive no seu particular.

Sempre lidei bem com a ideia da morte. Sei que os meus queridos, aqueles que amo, irão embora dessa vida. Sei que eu irei. Quem irá primeiro é uma questão de oportunidades. Nós sempre colhemos o que semeamos.

Essa semana, quem me conhece sabe, que estou envolvido com saúde, ou melhor, doença, em família. Meu pai foi diagnosticado com um câncer, um tumor maligno no intestino. Teve que ser internado às pressas em Cascavel, no Paraná. Eu vim para cá, afinal sou o responsável por cuidar dele. A primeira sensação quando se ouve que seu pai tem câncer é um choque. Putz, morreu! Mas em seguida volta o racionalista. Na boa, espero que meu pai sobreviva, mas sei que ele morrerá. Ele tem 78 anos, talvez não morra do câncer, mas morrerá. Nessa idade, e daqui para frente, não se esperam mais os cinco anos vindouros. Um dia, uma semana, um mês, um ano é uma vitória, uma conquista.

No hospital CEONC –Centro de Oncologia Cascavel, tenho vivenciado uma experiência diferente. Estamos em um quarto com 4 pessoas que fizeram cirurgia de câncer. Quatro guerreiros. Só estou eu de acompanhante (palavra complicada, remete a profissionais da noite!). Acabamos todos nos ajudando, mutuamente. Uma experiência de solidariedade que fazia tempo que não via. Hospital é um mundo à parte do mundo concreto do dia a dia. Lá fora o discurso de ódio, o fascismo, o golpismo, a radicalização à direita e à esquerda etc. imperam. Aqui dentro ninguém está preocupado se o outro votou em Dilma, Aécio, Marina, ou na merda que foi. Queremos que os nossos saiam bem ou morram com dignidade. Nada além disso.

Estou dormindo, quando posso, em uma pensão. Descobrindo lá o tanto que estranhos podem ser parceiros em momentos de enfrentamento à morte. Na pensão, todos são doentes em tratamento ou familiares desses. E nós não falamos de sofrimento. Falamos sobretudo de alegria, de bem viver, de bem querer. Quando um entra no assunto “hospital” e seus derivados, a Bety, dona da pensão, já muda de assunto na hora.

Vivi duas experiências nessa segunda-feira que me abalaram o coração, confesso que chorei, e muito. A mudança climática me pegou de surpresa, afinal vim para ficar três dias aqui, e serão duas semanas. Mas:

  1. Uma mulher, que não sei o nome, pois na hora fiquei tão pasmo que não gravei (um dia descubro), que tem amigos em Amambai, ficou sabendo que eu não tinha roupa de frio, e essa, depois de colocar o pai de pé, tem sido minha maior preocupação, aparece no hospital e me doa, me dá de presente, três blusas, duas de lã e um casacão, daqueles de segurar frio mesmo.

  2. Uma amiga de Orizona – GO, com quem trabalhei, me diz que uma amiga dela, daqui de Cascavel, ia falar comigo via mensagem. Ela me chama e me diz que me levaria meias e sapato, e pergunta meu número.

  3. Outras amigas, colegas, me pedem o número da conta, para poder ajudar um pouquinho.

Não sei explicar isso tudo. Nem quero explicar. Estou em fase sensível. Lágrimas têm vindo fácil;

Não sei o final desse roteiro todo. Mas sigamos aqui. Mais uma semana cuidando do Seu Adão. Mais uma semana sentindo tudo intensamente.

Que a morte seja sábia, como sei que ela é, e assim leve quem sofre. Dê descanso aos enfermos e às famílias. Ou cure-os. Mas não acredito em milagres. Sorte a quem crê.

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

A morte, essa nossa velha amiga!

A morte, essa nossa velha amiga!

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -

Últimas Notícias

28 de Março – Dia do Revisor

- Publicidade-