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quarta-feira, 24 de abril de 2024

A primeira bicicleta!

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14/12/2015 09h06 – Atualizado em 14/12/2015 09h06

Por Odil Puques

O menino foi acordado no meio da madrugada para seguir os passos do pai. Como este sempre acordava àquelas horas para ir torrar o café, achou estranho o convite ainda mais porque desde que começara o primeiro ano de sua vida escolar já se acostumara a ficar um pouco mais na cama aos sábados, decifrando os mistérios do que havia nas telhas da casa. Juntos a pé, pai e filho iam sem dizer ai, o pai porque seu pai também não soube expressar o que se passava a não ser por chibatadas, o filho sem entender por quê não podia se achegar mais e pegar lhe as mãos para ser guiado seja a que porto fosse. Sentia que o pai lhe gostava pela expressão do olhar que vez ou outra deixava trair. Do resto exigia sempre a bênção ao acordar, o servir do mate com a mão direita e que a todos os chamados as respostas viessem impreterivelmente acompanhadas de um senhor. Ultimamente o pai não estava bem, dera para estar na casa cada vez com menos frequência e as discussões eram intermináveis a ponto da mãe preferir ficar a sós com os dois meninos. Chegaram quando ainda estava escuro e o pai iluminou com a lanterna uma monareta azul reluzente e apontou com a cabeça na direção do menino causando-lhe a sensação que doravante poderia dominar o mundo. As primeiras pedaladas ainda foram sobre a proteção de umas rodas laterais, mas em seguida sem que se apercebesse o pai as erguera e o menino começou a se equilibrar na vida. Dali em diante todas as aventuras eram feitas em cima de duas rodas, não sem antes causar certo desconforto entre aqueles da mesma idade que frequentavam a sua rua e do irmãozinho que ainda não entendia muito bem aquela história de ter que aguardar a vez. Com o tempo ela passou a lhe entender melhor que todos. Somente a ela contava o que se passava consigo, na casa, na escola e o que pretendia. Um dia ela não lhe coube mais nas pernas e também deixou de ouvi-lo. Teve que abandoná-la num canto qualquer e ir atender o chamado do que não conhecia, mas o fascinava. Rodou planeta afora em busca de afazeres, frequentou lugares, conheceu pessoas, experimentou gostos, desgostos, mulheres e um dia voltou para sua aldeia com a certeza de que o equilíbrio que procurou mundo afora, sempre esteve ali, nas rodas da sua monareta.

O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna.

A primeira bicicleta!

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