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terça-feira, 23 de abril de 2024

A verdade é filha do tempo e não da autoridade

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07/03/2016 07h50 – Atualizado em 07/03/2016 07h50

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

A frase que serve de título a esse texto é de autoria ainda duvidosa. Pesquisando, existem citações que a atribuem a Bertold Brecht ou a Galileu Galilei. Tenho em vista que são dois gênios, cada um na sua época e área, podem bem serem coparticipes da ideia… Acredito que essa frase expressa uma verdade, pelo menos na minha vida.

Quando era jovem, buscava algumas verdades, algumas definições. Sempre que compreendia uma coisa, esta perdia o sentido, perdia a importância. E surgiam coisas novas a serem descobertas. Acabei entendendo que o que mais me estimulava era a busca e não o encontro. Que as certezas não me servem, prefiro as coisas incertas.

Estava dando uma aula, nessa semana passada, sobre Política. Sim, essa ciência existe e bem fundamentada, apesar de muita gente ignara a tratar como coisa comum. Na aula, ainda introdutória, usei um poema do Bertold Brecht, “O analfabeto político”, acreditando que todos já conheciam o texto e o autor, afinal estão no 3º ano do curso superior. Para meu espanto a maioria não conhecia. Responsabilidade de um sistema educacional que prioriza aula em vez de leituras e estudos. Acabei gastando um tempo não previsto para debater quem é o autor – coisa que sempre se deve fazer ao apresentar uma ideia é entender de onde partiu, quem é a pessoa que elaborou e quais são suas influências e referências – e um tempo ainda maior debatendo com a turma o que esse pequeno poema traz de contribuição ao debate da Ciência Política e do conhecimento científico.

O pior analfabeto, é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha
Do aluguel, do sapato e do remédio
Depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que
Se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil,
Que da sua ignorância nasce a prostituta,
O menor abandonado,
O assaltante e o pior de todos os bandidos
Que é o político vigarista,
Pilantra, o corrupto e o espoliador
Das empresas nacionais e multinacionais.
(Bertold Brecht)

Não irei explicar o texto aqui, não existe explicação, e sim interpretações. Sempre acreditei que quando explica-se sem debater, mata-se a possibilidades das pessoas entenderem. Entender não é decorar, gravar as falas da pessoa que explica, mas sim conseguir compreender as nuances das ideias e seus paradigmas. E ainda parece-me que o texto é suficientemente autoexplicativo.

Mais interessante foi ver no dia seguinte o circo midiático em torno da figura pública de um ex-presidente da república. Não analisei ainda os fatos em si, mas defendo que todos devem e podem ser investigados, apesar de acreditar que as medidas deveriam ser iguais para todos. Um é conduzido de forma coercitiva para depor, ferindo os princípios da legalidade – basta pesquisar um pouco para entender esse recurso constitucional – enquanto outros, com a mesma ou maiores denúncias, são laureados com o silêncio, da justiça e da mídia.
As redes sociais, território sem lei, tornaram um palco de atrocidades, de mentiras e de enganos. E como bem definiu Humberto Eco “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

Defendo, por princípio de vida, a liberdade de opinião e de expressão. Apenas tenho aprendido que liberdade não exime de responsabilidade. Antes de falar, compartilhar, curtir ou comentar, deveríamos tentar conhecer, entender o que está sendo dito. Afinal, o pior analfabeto, é o analfabeto político.

Deveríamos entender que o calor do embate embrutece a reflexão. Tenhamos posição. Mas acima de tudo, tenhamos respeito pela verdade e pelo tempo. Não basta querer ter autoridade, ela não vale nada frente ao tempo, o pai de todos os deuses.

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

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