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quinta-feira, 28 de março de 2024

As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos

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22/02/2016 07h00- Atualizado em 22/02/2016 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Meu sobrinho-neto Guilherme, nos seus quase 8 anos, vem aqui em casa passear, visitar o biso e a bisa (como eles chamam), olha bem na minha cara e solta, na lata, com a honestidade que só as crianças tem: “Tio, o senhor tá velho!”, perguntei porquê, e ele devolveu “Tá com a barba toda branca”. Eu só ri. É verdade. Estou ficando velho. E não é a barba que mostra isso. Ela ficou branca depois das sessões de quimioterapia lá pelos anos 2000. Meu envelhecimento não está nas rugas, na expressão mais séria, nas dores físicas que antes não existiam… está na paciência e na sabedoria que fui acumulando. Tenho orgulho de estar ficando velho. Sinal que vivi.

Lembrei de um texto de José Saramago sobre o assunto:

Quantos anos tenho?

Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma,
mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os dedos
e as ilusões se tornam esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes,
é uma louca labareda,
ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada.
E outras, é um remanso de paz, como o entardecer na praia.
Quantos anos tenho?
Não preciso de um número marcar,
pois meus desejos alcançados,
as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.
O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho,
pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.
Quantos anos tenho?
Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.

Ter rugas no rosto é sinal que nunca negamos sorrir quando preciso, ou seja, sempre. Ter mãos envelhecidas, e elas são as primeiras a mostrar os sinais, significa que nunca as escondemos de tocar quem e o que gostamos, de abraçar nossos amigos e amores, inclusive os de quatro patas.

Uma amiga me perguntou porque eu deixo a barba se ele me envelhece… simples, não tenho vergonha de ter idade. Teria vergonha se a idade viesse desacompanhada de sabedoria.

Que venham mais fios brancos…

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos

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