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terça-feira, 23 de abril de 2024

Assim caminha a humanidade

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18/01/2016 07h00 – Atualizado em 18/01/2016 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

“Com passos de formiga
E sem vontade
Não vou dizer que foi ruim
Também não foi tão bom assim”

(Lulu Santos

Por algumas semanas nossa cidade foi, literalmente, invadida por caminhões que buscavam um desvio, visto o estrago causado pelas chuvas na BR 163. Foi impressionante ver a cidade. O risco de atravessar a avenida ficou enorme, as ruas laterais ficaram danificadas. Agora, o que mais me chamou a atenção foi o descaso dos motoristas dos caminhões, da maioria, ao adentrar o perímetro urbano. Aqui na minha região, na entrada de Ponta Porã, o que mais se via eram motoristas falando ao celular, dirigindo sem usar o cinto de segurança, parando nos poucos pontos de ônibus, atropelando as lombadas.

Numa dessas semanas um amigo meu, num belo sábado à tarde, resolve dar uma volta de carro na praça. Indo pela avenida toca o celular e ele, idiotamente, atende. A polícia logo em seguida o para e o multa. Certíssima a ação da força policial. Mas porque com os caminhões não era a mesma abordagem? Mais de uma vez vi a viatura passar por caminheiro ao telefone e nem advertir. Porque essa seletividade?

Tenho percebido, nas redes sociais e na mídia, que a seletividade tem sido a regra do começo desse século XXI. Comoção seletiva. Um cachorro arrastado em via pública, filmado, em Campo Grande, ocupa vários dias de destaque nas redes e na mídia. Uma criança indígena assassinada por degolamento não causa comoção. Talvez seja nossa seletividade moral. Amo cachorros, mas a vida de qualquer ser humano me é mais cara.

Indignação seletiva. Delator, criminoso confesso portanto, cita vários nomes, uns causam passeatas e panelaços. Outros causam silêncio. Quando delatam quem eu não votei, peço investigação, cadeia (alguns até pedem a morte da pessoa). Quando delatam quem eu apoio, faço cara de paisagem e nem levo a sério. Talvez seja nossa seletividade moral. No meu tempo, delatar era ser dedo-duro, X9, cagueta. Nunca levamos a sério esse tipinho na infância, agora endeusamos juízes justiceiros.

Revolta seletiva. O asfalto quebra, fica em estado lastimável por causa das condições climáticas, por ser mal feito, mal conservado, por excesso de cargas nos caminhos que aqui passam. Mas a revolta é contra a prefeitura (isso quando não jogam a máxima midiática “Culpa da Dilma!”). Talvez seja nossa seletividade moral. Quando interditam a rua para evitar maiores estragos, vamos lá e retiramos as fitas reflexivas de interdição, é mais fácil que desviar duas quadras.

Crise seletiva. A palavra crise está na moda. Todos estão em crise. Mas as estradas para a praia estavam lotadas, os hotéis e pousadas nas cidades praianas, com ocupação na faixa dos 98%, concessionárias de veículos com fila de espera de dois meses, supermercado sem cerveja na véspera do ano novo. Talvez seja nossa seletividade moral. A crise existe porque a mídia assim o decreta. Defendemos o fim de políticas sociais, por serem esmolas, mas queremos a bolsa do PROUNI, do PIBID, do mestrado, entre outras.

É a crise… de valores, de ética, de corresponsabilidade, de solidariedade, de respeito, de práticas, em suma, de humanidade. E essa crise não é culpa do governo. A culpa é minha, é sua, é nossa. Assumamo-la como nossa.

Só para lembrar:

“Não somos culpados pelo mundo que encontramos ao nascer. Mas precisamos, na medida de nossas possibilidades, fazer alguma coisa pelo mundo que está sendo construído (ou destruído). E que será herdado aos que hão de vir.”

(Gilberto Cotrim)

Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

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