20.6 C
Dourados
quinta-feira, 25 de abril de 2024

Bilu Tetéia!!!

- Publicidade -

15/02/2016 08h47 – Atualizado em 15/02/2016 08h47

Conversa nada fiada

Por Odil Puques

O menino não saberia explicar a origem daquela bola de pelos brancos, que diziam ser seu e que já veio nominado. Desde que se sentia por gente e que tem lembrança, Bilu estava por lá, brincando, pulando, fazendo artimanhas e proferindo agudos insuportáveis para quem ousasse chegar perto dele menino, tamanha a ciumeira do dono.

Não se pode dizer que iam a todos os lugares juntos porque em dias de missa a mãe ralhava com os dois e os deixava acabrunhados, um que ficava, se lamentando em forma de grunhidos e o outro que ia abrindo o berreiro pelo caminho.

De resto podia se saber, onde estava o um lá estaria o outro. O menino dividia o quarto e a cama com o irmão, Bilu resignava-se em aconchegar aos pés do dono e dormia sempre com as patas sobrepostas em eterna posição de vigilância para qualquer eventualidade. Em todas as brincadeiras ambos estavam envolvidos e a molecada reclamava que durante o futebol tinham que jogar com um jogador a mais, pois quem driblasse o menino corria o risco de levar uma mordida. Na hora do esconde-esconde, por mais que o menino tentasse, sempre era o primeiro a ser descoberto, já que Bilu entregava a localização de ambos.

Andaram tanto e por tanto tempo juntos, tamanha era a simbiose, que compreendiam os sentimentos recíprocos, pela forma de se comportar. Naqueles tempos o pai perdeu o emprego e ficava mais em casa. Menino e cachorro se apiedaram do pai porque perceberam que ele não trazia mais as coisas para casa e o dinheiro que a mãe ganhava lavando roupas só dava para comprar o arroz. Duma vez, o pai chegou com uma guloseima para o menino e uns ossos para o cachorro e ambos perceberam que apesar de não saber demonstrar, o pai os queria bem. Naquela noite o menino não dormiu direito, se debateu e teve pesadelos.

Naquela noite, o menino não dormiu direito. Ao acordar fez como fazia todos os dias e foi acariciar Bilu, mas como este permaneceu inerte, o cutucou com força e mais e mais, na medida em que os gritos e o desespero tomavam conta do seu ser. De nada adiantaram as tentativas de consolo, que os cães também tem o seu céu, o menino soube que a partir daquele dia parte de si partiu para sempre. Hoje ao ouvir um uivar sabe que Bilu olha por ele.

O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna.

Bilu Tetéia!!!

Bilu Tetéia!!!

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-