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sábado, 20 de abril de 2024

Dois anos de volta à Amambai

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11/01/2016 07h00 – Atualizado em 11/01/2016 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos,
mesmo sabendo que,
com as voltas do mundo,
eles acabam indo embora de nossas vidas.

(Ariano Suassuna)

Nessa segunda semana de janeiro, completa dois anos que regressei a minha cidade natal. Sai de Amambai em janeiro de 1990. Sonhava estudar, conhecer o mundo, viver. Estudei, e muito. Conheci boa parte do mundo, cansei de viajar por ai. Vivi intensamente tudo o que quis, sem falsos conceitos moralistas de certo ou errado. Sobrevivi a mim mesmo. Fiz um caminho autônomo. E, por motivos concretos, resolvi voltar. Tinha receio se daria certo eu morar aqui de volta, cuidar de pai e mãe, assumir ser arrimo de família, depois de tantos anos de liberdade e de descompromisso. Parece que deu!

Tem algumas coisas engraçadas nessa minha volta. Eu vinha aqui todo ano a passeio, mas como sou antissocial assumido, ficava só em casa. Poucas pessoas além da família eu via. E eu ando na rua e a pessoa fala comigo, na maior intimidade, abraça, sabe meu nome, pergunta do povo de casa, e eu não sei que é. Fico na cara de paisagem normal nessa situação, mas como não tenho nenhum decoro, pergunto descaradamente quem é a pessoa. Alguns se ofendem por eu não recordar, outros entendem e dão risada. As vezes precisava achar um local, e as pessoas me indicavam, geralmente não achava na primeira, tinha que procurar. Afinal muitas coisas mudaram até nome de rua famosa. Nunca entenderei porque tirar o Nhu Verá da avenida.

Pensando aqui nesses dois anos, muita coisa aconteceu. Tive um ano de alegria na Escola Municipal Antonio Pinto, que eu nem conheci por dentro, vivendo com a molecada de uma idade que nunca havia trabalhado ainda, fazendo alguns colegas de trabalho que aprendi a gostar, cada um com seu jeito, mas com uma paixão pela educação que contagiava. Cai dentro da UEMS, onde me apaixonei. Paixão fulminante pelo debate, pelo embate, pelo conhecimento que se produz. Conheci pessoas que estão marcando minha história, me desafiando a estudar, a pesquisar, a querer ser mais, profissionalmente. Entrei no PROFUNCIONÁRIO, outra delicia para atuar. Qualificar profissionais que atuam nos serviços administrativos da educação é um desafio e uma conquista cotidiana.

Passei também por problemas. Pai passou mais de um mês internado, entre Amambai e Dourados. Quanta solidariedade vivenciei, entre amigos, familiares e alguns conhecidos. Pessoas preocupadas, visitando, perguntando. Quanta raiva também de ver o serviço ruim de saúde que temos. Mas sobrevivemos. Estamos todos aqui, ainda pelejando com as coisas da vida.

Alguns amigos me perguntavam se eu conseguiria me adaptar um uma cidade pequena, depois de tantas capitais e metrópoles. Depois de dois anos posso responder. Aqui tem tudo o que preciso: gente do bem; gente que me provoca a pensar; minha casa; minha família; alguns amigos novos; botecos agradáveis… Já tenho meu jardim de novo, meus dois cachorros, meus pés de manga produzindo, pé de jabuticaba crescendo… que mais uma pessoa precisa para ser feliz?

Quando em faltam alguns livros, tenho onde pedir. Aqui e fora. Quando me faltam alguns filmes, aproveito para passear em Dourados ou Campo Grande e busco, apesar dos buracos, sobrevivo.

Nunca desejei ter carteira nacional de habilitação, nem veículo. Já tenho moto e a CNH sairá em janeiro. Coisas que a necessidade nos provoca.

Não sei até quando ficarei em Amambai. Pelo menos enquanto pai e mãe estiverem vivos, ficarei aqui. Afinal assumi uma tarefa e, como de costume, tarefas, levo-as até o fim. Mas se forem 10 anos, ou o resto da minha vida, farei dessa cidade um local de ser feliz. Por ser feliz depende da gente e não do local onde vivemos. Gente faz gente feliz, não coisas.

Por mais voltas que o mundo dê,
um dia todos nós iremos nos encontrar em algum ponto.
Um ponto pacífico,
onde estaremos falando a mesma língua,
bebendo o mesmo vinho,
contando nossas histórias e rindo,
um riso leve e sincero.
Assim,
estaremos prontos para percorrer juntos este longo caminho;
em que simplesmente falamos de nossos dias,
vendo o futuro com olhos livres.
(Charles Chaplin)

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador

Dois anos de volta à Amambai

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