24.7 C
Dourados
quinta-feira, 25 de abril de 2024

Me sentindo intolerante!

- Publicidade -

25/01/2016 07h00 – Atualizado em 25/01/2016 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
(Nelson Cavaquinho)

Historicamente fui me treinando para ser tolerante. Mais que isso, para ser respeitoso. Respeitar as pessoas, com opiniões, desejos, práticas, valores… diferentes dos meus. Deu certo por um tempo. Mas comecei a me sentir intolerante e desrespeitoso agora depois dos 40. Talvez seja a idade. Talvez seja a chatice acumulada com o tempo.

Caso 1: A pessoa é de boa-fé, vai a igreja toda semana (qualquer igreja), passa o dia postando mensagens bíblicas nas redes sociais, gasta tempo tentando me converter a sua fé. Mas também defende a pena de morte, diz que bandido bom é bandido morto. Não tolero! Não respeito! Isso não é opinião. É papagaismo midiático. Parece que a pessoa esqueceu que o messias que ela cultua morreu numa cruz, assassinado como bandido na época. Não é admissível que esqueça que um dos mandamentos bíblicos diz algo como “Não matarás!”. Não fala para não matar gente de bem, para não matar inocente. É claro e direto. Não matarás! Mas matam. Com palavras, como olhares, como discriminação. E eu não posso tolerar e respeitar quem mata.

Caso 2: A pessoa vive dizendo que defende a educação, que quer uma educação pública de qualidade, que educação é um direito de todos. As vezes até se elege para cargos com esse discurso. Mas seus filhos estudam, ou estudaram, sempre em escola particular, com o máximo de recursos (financeiros e pedagógicos) possíveis. E vem dizer que cotas são injustas. Não tolero! Não respeito! O discurso meritocrático só engana quem não pensa, e eu ainda penso. No fundo essas pessoas são hipócritas disfarçados de defensores da cidadania. Quem vive na lógica do “falo uma coisa mas faço outra”, também mata. Mata a esperança num futuro melhor para nossas crianças. E eu não posso tolerar e respeitar quem mata.

Caso 3: A pessoa é pai de família, vive defendendo a família tradicional, atacando com piadas (e as vezes sem mesmo) as práticas sexuais diferentes da heteronormatizada pela sociedade. Ai ele vai ao boteco, e passa uma menina de uns 12 anos e ele assovia e chama de gostosa a novinha. Não tolero! Não respeito! Não admito a pedofilia. Nem o assédio sexual. Esse tipo também mata. Mata a possibilidade de uma criança ser criança, de brincar, se crescer de forma saudável. Causa medo e pânico. E eu não posso tolerar e respeitar quem mata.

Caso 4: O cara é um exemplo em sociedade, bem sucedido, respeitável. Em casa é agressivo com esposa e filhos, violento com gestos e palavras. Tratam a esposa como subalterna. Não tolero! Não respeito. Toda forma de violência é um ataque a todas as pessoas. Esse cara também mata. Mata a relação, mata o futuro dos filhos, mata a esposa. E eu não posso tolerar e respeitar quem mata.

Poderia citar outros casos (de preconceito em relação aos guarani, de racismo, de arrogância…) mas esses já exemplificam o motivo de eu estar me tornando intolerante. Como diz Galdalf no filme: “Não passarás!”. Como dizem as militantes: “Não passarão!”.

Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

Me sentindo intolerante!

Me sentindo intolerante!

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-