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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Não são só as águas que levam o futuro embora!

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07/12/2015 15h39 – Atualizado em 07/12/2015 15h39

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

As forças da natureza
Naturalmente tornem-se mais fortes
Pela ação desumanizada
Dos humanos que se tornam
Responsáveis pelo que hoje acontece

Tenho ouvido dos mais velhos que nunca caiu tanta água sobre Amambai, como tem caído nesse final de novembro e começo de dezembro. Estamos vivendo um ciclo de sustos, ventos com características de tornado, chuvas torrenciais, pedras, pontes indo embora, asfaltos sumindo de vista no lamaçal, alagamentos… A sensação aqui na região da Vila Pimentel, que no passado era um banhado, é que estamos voltando a viver sobre palafitas.

Já morei em várias cidades, inclusive em área de risco, e nunca havia tido a casa alagada. Essa semana aconteceu. Foi tanta água vinda do céu, que a rede de esgoto não suportou, transbordou pelo ralo do banheiro. Foi um palmo de água suja dentro de casa. Foi uma tarde de rodo, pano e produtos para tirar o cheiro de esgoto. Mas tudo resolvido.

As imagens que circulam nas redes sociais são de impressionar. O Rio Panduí voltou a ser rio, me lembrou da infância, quando nadávamos nele. Para quem não se recorda, o Panduí já foi rio, já gerou energia, já correu caldoso e forte. As pontes sendo levadas ou interditadas causam um sensação de impotência. O asfalto sendo quebrado pela chuva e pelo peso dos caminhões nos causam revolta. As casas sendo alagadas, e teve até casa destruída, nos causam indignação.

É comum ao ser humano, quando indignado e revoltado, procurar os “culpados” da situação. Ao longo das duas semanas de chuva, pessoas que me conhecem e sabem que eu escrevo, me perguntaram o que eu penso sobre isso. Pois bem:

1. Quando vejo pontes indo embora e rios transbordando, olho para as margens e não vejo as matas ciliares, obrigatórias por lei, nem vejo um projeto de manejo sustentável da beira dos rios, penso que a “culpa” é nossa, de nós cidadãos amambaiense, que historicamente depredamos e degradamos as áreas em torno dos nossos rios, tornando-os em meros regos d’água.

2. Quando vejo as ruas alagadas e casas sendo inundadas, olho para as ruas e não vejo galerias de coleta da água da chuva, penso que a “culpa” é de quem preferiu investir em um asfalto rápido para garantir aprovação da população sem investir numa rede pluvial eficaz e necessária.

3. Quando vejo a área central alagada, onde tem bueiro, alguns até abertos demais, pondo em risco os pedestres, vejo lixo demais acumulado sobre os mesmos e lixeiras de menos, penso que a “culpa” é de cada um de nós que jogamos lixo nas ruas, desde a bituca do cigarro até o sofá largado na esquina, passando pelas garrafas pets e sacolas plásticas.

4. Quando vejo o asfalto das minha rua e das outras cinco no entrono, cederem e quebrarem sob a ação da chuva, e vejo caminhões de vários portes e ônibus escolares insistirem em passar sobre ele, penso que a “culpa” é de quem fez esse asfalto de dois centímetros, tanto a empresa quanto a gestão que a contratou, bem como dos motoristas que tratam ruas segundarias como se fossem avenidas.

5. Quando vejo os órgãos públicos que cuidam do trânsito urbano isolar as cinco ruas com grandes estragos na minha região, penso que o cuidado com o patrimônio coletivo está acontecendo. Mas na sequência vejo diversos motoristas, particulares e de empresas bem conhecidas, arrebentarem as fitas reflexivas e furarem o bloqueio para economizarem duas quadras de contorno, penso que a “culpa” é da falta de responsabilidade com o bem público e da falta de educação de cada um que conduz esses veículos, bem como das empresas que os contratam.

6.Quando vejo e ajudo a minha vizinhança colocar galhos, arames, fitas, pedras, na rua para evitar que os carros sigam destruindo nosso asfalto tão sonhado, penso que a esperança de que existem pessoas boas e comprometidas com a cidade ainda vale a pena.

Tenho ouvido muitos reclamarem, até com certo peso rancoroso, contra o atual prefeito. E, como sempre, fico pensando, é fácil culpar o Sérgio, difícil é fazer mas culpa e olhar para tudo o que fizemos e não fizemos pela nossa cidade. Até onde sei, o prefeito não tem poder de parar ou aumentar a chuva, não tem “culpa” pelo El Niño, não jogou todo o lixo na rua, não desmatou a mata ciliar, entre tantas coisas.

Em tempo difíceis assumamos nossa responsabilidade e ajudemos solidariamente nossa cidade a se reerguer. Pior que as chuvas, são as filas nas escolas de madrugada para garantir matricula na educação infantil, são as esperas desde as 4 horas da madrugada para conseguir atendimento no posto de saúde, são os estudantes apanhando da polícia em São Paulo, é o crime ambiental em Minas Gerais, é o desmando e descalabro político de Eduardo Cunha, é o ataque explícito à democracia brasileira… e sobre isso tenho ouvido poucas reclamações! Talvez eu não tenha andado nos ciclos certos, ou talvez as pessoas sejam tão limitadas que só enxerguem as consequências imediatas, sem verem as causas ou os conjuntos dos fatos.

Não são só as águas que levam embora o futuro! A indiferença, o golpismo, o oportunismo, e a ação criminosa dos poderosos matam a vida e ameaçam a sustentabilidade social, política, econômica e cultural de nossa cidade e de nosso pais.

Reajamos!

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador

Não são só as águas que levam o futuro embora!

Não são só as águas que levam o futuro embora!

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