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sexta-feira, 29 de março de 2024

O complexo de vira-lata

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09/11/2015 07h38 – Atualizado em 09/11/2015 07h38

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

“Não troco meu ‘oxente’ pelo ‘OK’ de ninguém”
(Ariano Suassuna)

Sempre que tenho tempo, coisa que não é tão rara assim hoje em dia, dedico-me a ler jornais ou ver notícias online e na televisão. É interessante, para não dizer revoltante, a forma com a mídia de massa trata o Brasil. Tão incomodo quanto é a percepção da incidência do complexo de vira-lata na nossa gente. O grande Nelson Rodrigues (1912-1980), escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro define assim “por complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.

Se a notícia é sobre o SUS – Sistema Único de Saúde, são apenas críticas, e ouço das pessoas “que só no Brasil esse tipo de coisa acontece”. Alguém que tenha memória boa lembra como era a saúde no Brasil antes da criação do SUS? Eu lembro. Não tinha acesso universal e gratuito, não tinha simplesmente. Ou você pagava ou se curava em casa, com chás e reza. Parece que as pessoas não entenderam ainda que em muitos países ditos de primeiro mundo não existe um sistema público e gratuito de saúde, que atenda as pessoas. Ou a gente tem dinheiro para ser atendido ou não é, simples assim.

Se a notícia é sobre educação, parece que nada por aqui dá certo. Tem gente que não lembra como era morar em Amambai em 1990 e não ter opção de acesso ao ensino superior. Eu me lembro. Eu tive que ir embora para poder estudar. Existe mesmo uma necessidade de melhoria no sistema educacional, porém muita coisa caminhou com a reformulação pós-LDB. A educação pública, gratuita e de qualidade é uma garantia legal. E ainda ouço pessoas dizerem que “a educação no Brasil é uma porcaria”. Parece-me que falta um pouco de conhecimento de outros países para fazermos uma análise mais precisa…

São só dois casos, mas poderia abordar uma série de casos. Para cabeças pequenas e pensamentos “coxinhas”, somos um dos piores lugares do mundo, afinal grosam nas redes sócias e mídias as ideias que:
– corrupção só existe no Brasil, e foi inventada agora!
– o transito no Brasil é o pior que existe!
– ciclovia é sinal de atraso!
– música boa é cantada em inglês!
– somos o país do futebol e carnaval!
– brasileiro não gosta de trabalhar!
– bolsa família é bolsa esmola!

Sempre que leio ou ouço isso me pergunto quantos países essas pessoas que propagam essas ideias conhecem, mas conhecer mesmo, de ter estudado a conjuntura e a estrutural social, não apenas ter visitado uma cidade, uma vez na vida.

Como dizem os jovens “Só que não!”

Corrupção é sistêmica a espécie humana…

Trânsito é reflexo da educação de quem anda nele…
Ciclovia é a revolução do transporte urbano em boa parte da Europa…
Música boa é boa música. Em qualquer idioma, ou até sem falas, como Bach e Chopin…
Somos o pais que somos, com futebol corrompido pela CBF e pelos interesses comerciais de transmissão esportiva. Mas também somos o país do frevo, do bumba-meu-boi, do boi-bumbá, do Forró, da vaneira, do chamamé, da guarânia, do caarapé, da MPB, do samba, do axé, do funk, do sertanejo, do São João, das vaquejadas, da capoeira, das rodas de viola…

Brasileiro trabalha e muito. Pelo menos boa parte dos que conheço. Trabalham, produzem e criam possibilidades…

Redistribuição de renda e políticas públicas são ações efetivas, por parte do Estado, para reduzir a miséria e criar novas possibilidades de vida…

Já imagino uns me dizendo “Vai pra Cuba”.

Vou sim.

Aliás já fui e gostei!

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador

O complexo de vira-lata

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