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quinta-feira, 28 de março de 2024

O Rato e o Réu

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21/09/2015 06h48 – Atualizado em 21/09/2015 06h48

Conversa nada fiada

O Rato e o Réu

Por Odil Puques

Devo confessar a minha ojeriza, para não dizer pavor mesmo, dos camundongos. Talvez se origine quando em tenra idade acordei no meio da madrugada com um deles sobre o meu peito tentando roubar o ar da minha respiração. A simples lembrança daquelas patinhas – ou qualquer nome que se dá aos pés de ratos – gélidas e o rabo que se sobrepunha sobre as costelas me causa sensações que não consigo expressar em palavras ou escritas. Pois bem, ou melhor, pois mal. Esta semana apareceu um desses cá por casa e uma alma benevolente emprestou-nos uma armadilha. Só que não era daquelas ratoeiras tradicionais que esmigalha quando inadvertidamente ele vai buscar o queijo, era uma espécie de gaiola que fechava as tampas assim que ele entrasse. Bingo. O problema: o bichinho continuou vivo mesmo que enjaulado. Nesta semana também, fui nomeado para fazer a defesa no tribunal do júri de um indígena acusado de tentar matar um jovem a facãozada em pelo centro da cidade, pelo simples fato que este se recusara a lhe dar cachaça. Contaram os autos que três amigos tomavam tereré em frente a residência de um deles, quando chegaram dois indígenas completamente embriagados e pediram pinga. Ante a recusa, até mesmo porque não tinham, um dos indígenas munido de facão desferiu um golpe na cabeça, só não vindo a ceifar a vida do menino de 17 anos porque as circunstâncias não permitiram. Como eu não tinha coragem de matar o rato, o deixei na gaiola para ver o que faria mais tarde. Ele me olhava com olhos pedintes, como a dizer pelo amor de Deus me livra desse cárcere. No júri tentei convencer os jurados sobre os problemas enfrentados pelos indígenas com relação ao consumo de álcool, que devido a falta de perspectivas de vida, recorrem a bebida como fuga de todos os problemas, o que acaba gerando um alto índice de suicídios, de violência e seriam muito mais vítimas por não se controlarem após a ingestão da maldita pinga. Não consegui o intento e o réu foi condenado pelo homicídio qualificado na forma tentada. Comprei um mata rato, embebeci um pedaço de pão e dei em doses cavalares ao meu enjaulado. O indiozinho sem saber direito o que estava se passando ante aquela parafernália toda afeita a julgamentos pelo tribunal do júri, me perguntava quando ia sair. O mesmo olhar de olhos pedintes…

O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna.

O Rato e o Réu

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