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sexta-feira, 29 de março de 2024

Sabedoria… Entre buracos frios, mornos e quentes!

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29/02/2016 07h00 – Atualizado em 29/02/2016 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Adoramos a perfeição,
porque não a podemos ter;
repugná-la-íamos se a tivéssemos.
O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.
(Fernando Pessoa)

Em texto, nessa coluna, na semana passada disse, em um ato falho, que não quero a velhice acompanhada de sabedoria. A intenção inicial era dizer desacompanhada, como foi depois corrigido no texto na coluna. Mas como não creio em acasos, pus-me a pensar sobre isso. Será que, de fato, eu quero ser sábio algum dia? Creio que não!

Sabedoria tem origem no latim sapere e é um substantivo feminino que define a característica de uma pessoa sábia e que significa um conhecimento extenso e profundo de várias coisas ou de um tópico em particular. A sabedoria muitas vezes é indicativa de uma pessoa instruída, que tem muito juízo, bom senso e se comporta com retidão.

A definição é interessante e desperta desejo. Afinal também quero ser instruído, conhecer algumas coisas… mas na experiência concreta da vida, ser sábio é algo anestesiante. Viver é aprender, buscar, conhecer, descobrir coisas novas. Quem é sábio, já sabe. Não há mais necessidade de aprender. Não quero ser sábio. Quero correr o risco de alçar voos em busca de novos saberes, novos sabores e novos prazeres. Sempre achei interessante que entre saberes e sabores muda-se apenas uma vogal. Sempre defendi que o saber deve ser saboreado, a fim de ganhar significado e significância. Só gosto do que provo, só posso conhecer o que saboreio.

Em tempos de buracos, na rua e na barraca, quero seguir aprendendo. Na rua, estou aprendendo a andar em ziguezague, desviando de poças d´água, pulando atoleiros, escapando dos carros que passam e jogam lama nos pedestres (e são tantos que já desisti, meus queridos estudantes vão ter que se acostumar a ver um professor dando aula, devidamente enlameado). Fui surpreendido pelo fechamento da calçada, na esquina mais difícil de passar, no meu percurso, com fios de energia e arame, impedindo a passagem de pedestres por esse passeio público. Talvez eu me equivoque, mas a calçada é domínio coletivo, pertence à cidade. Se tapar buraco com entulho deu boletim de ocorrência, impedir livre passagem aos cidadãos dará o que? Dará nada! Foi feito por uma igreja, que nem paga tributos e ainda é dona da esquina. Eu que ande pelo barro acumulado…

Na barraca aprendi que um trocadilho, uma piada, revela tudo o que as pessoas pensam. Quando fazemos um discurso racional, somos obrigados a pensar e a elaborar conceitos, desse modo, usamos os filtros morais e não dizemos tudo, são regras básicas de socialização. Ao escolher um slogan, um trocadilho ou fazermos uma piada, revelamos nossos reais valores. Acredito firmemente que as mulheres de Amambai são bem mais que um buraco quente. Mas quem sou eu pra questionar? Se querem reforçar o estereótipo de mulher, construído pelo machismo ao longo dos séculos, apenas cabe a mim, como filósofo, questionar e tentar ajudar a refletir. Quando o fiz, fui atacado de forma sistêmica. Fui chamado de ignorante, de misógino, de machista, de “anti-mulher”. Por pessoas quem não me conhecem… Perdoo-os! Afinal a perfeição está longe do ser humano. Seja ele ou ela, esburacado ou não!

E entre buracos, eu sigo, vivendo, tentando ajudar pessoas a refletirem sobre seus valores. Só posso ajudar. Quem não quer pensar, sinto muito! Eu seguirei… E sei que algumas pessoas seguem junto.

Quero seguir não sabendo. Tenho dito em sala de aula, em palestras, em reuniões, que viver é aprender e quem já sabe, pode morrer, desocupa o espaço, e deixa os outros seguirem aprendendo. Não sou homem de certezas. O que tenho são dúvidas, e elas me ajudam a questionar tudo o que vejo, leio, ouço ou penso. Afinal, já disse Aristóteles, “A dúvida é o princípio da sabedoria”, e Sócrates “só sei que nada sei”.

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

Sabedoria... Entre buracos frios, mornos e quentes!

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