28/09/2015 17h37 – Atualizado em 28/09/2015 17h37
Crônicas de uma Alma Solta
Por Luiz Peixoto
“É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há”
(Renato Russo)
Quando a gente e criança, nossos pais são os maiores, os mais fortes, os eternos. O tempo passa e a gente desconstrói essa imagem, vemos eu os nosso envelhecem, ficam frágeis, debilitados e dependem de nós para muita coisa. Ser pai deve ser uma coisa difícil, digo deve pois não sou e nem serei, a vasectomia feita em 1992 resolvei isso. Imagina ter que dar conta de criar um outro ser para o mundo, passando valores, educando, ensinando a ser gente. Achei demais essa tarefa para mim. E acertei na escola.
Sou filho (eita coisa obvia de dizer, afinal todos somos) e estou vivendo a tarefa de cuidar do meu pai. Confesso que não é coisa fácil. Cresci imaginando meu pai forte, sempre meio assustador, afinal sempre houve pouco carinho e muita bronca e bordoada na relação. E vê-lo frágil me desnorteou. É muito estranho ter que dar banho no seu pai, fazer a barba, por frauda, ajudar a nadar e a comer. Mas não é nada impossível de fazer.
Não sou um cara afetivo, pelo contrário, sou bem frio e insensível. Mas ver meu progenitor prostrado e dependente mexeu comigo. Não em tornou mais sensível, mas como sempre estou aprendendo, me ensinou algumas coisas:
- Somos seres decadentes. Um dia cada um de nós irá, morrerá. E antes de morrer iremos definhar, ficar fracos, depender dos outros;
- Existe mesmo a lei do carma, do eterno retorno. Só eu e minha irmã sabemos o que passamos com nosso pai. Hoje ele depende da gente. Quem planta rosa não pode colher trigo;
- Meus amigos são foda! Cada um, de sua forma, me apoia, me da ajuda, me ilumina;
- Minha irmã é o que eu preciso. Tento aliviá-la, não contar tudo, não chamar sempre. Mas na hora do aperto é ela, e o cunhado, que me sustentam;
- Cunhado é parente. Mais que isso, o meu é um irmão, companheiro, que segura junto comigo as barras;
- Eu sou fraco. Desmonto e preciso fingir que sigo forte.
Tenho cada semana descoberto a maravilha do SUS – Sistema Único de Saúde, e a competência da equipe do Hospital Regional de Amambai. Quando tem um familiar doente, tudo o que queremos e precisamos é informação. Nisso fui bem atendido. Eles fazem o quem podem, com os poucos equipamentos que tem. Não citarei nomes, para não ser injusto, mas todos e todas (quase a maioria de mulheres) eu atenderam meu pai foram de uma educação e dedicação incomensurável.
Senti na pele as delícias de ser de Amambai. O tempo todo gente visitando. Gente normal, gente como eu. Os parentes tem obrigação, e muitos foram, mas os outros não. Cara, que mágico ver a solidariedade de tantos. Me senti amado. Tanto no real como no virtual.
Amambai é uma cidade única. Aqui estou aprendendo o que é ser filho. Eu que sempre fui arrogante, independente, frio… estou aprendendo a chorar, a pedir ajudar, a aceitar apoio. Esse texto deveria sair no dia do aniversário da cidade, nem sei se dará tempo, afinal minha cabeça e minha vida estão em torno de meu pai doente, internado até ontem e hoje em casa, sendo cuidado. Mas não posso deixar de agradecer a cidade que me fez ser quem eu sou.]
Quando cheguei em Roma, a cidade eterna, pela primeira vez, tive que parar, olhando o coliseu e lembrar que eu sou e de onde vim. Tudo o que caminhei para chegar até aqui.
Estamos vivos. Somos sós que somos responsáveis pelos nossos. Eu sou. Eu serei. Com minha Maria e meu Onil junto. Cada momento nos torna mais família e mais nós mesmos.
Queria ter ido na feira de flores, nos eventos da rua, no passeio ciclístico. Não fui. Fiz minha opção. Mas sei que a festa foi boa.
Parabéns Amambai. E Parabéns a todos nós amambaiense….
Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador.
