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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Sou professor, com orgulho…

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12/10/2015 07h00 – Atualizado em 12/10/2015 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida,
é a própria vida.
(John Dewey)

Comecei a trabalhar como professor em 1992, em uma escola municipal de Campo Grande, num bairro de periferia (não posso chamar de favela, afinal segundo o governo do PMDB na cidade por 16 anos, não existem favelas na capital). Escola com muitos problemas, tráfico de drogas e gangues. Confesso que o choque inicial foi difícil. Mas logo vieram as superações. Aprendi muito trabalhando lá. Imagina a minha reação quando o chefe da gangue me disse que eu podia ir para casa tranquilo que eles cuidavam dos professores que cuidavam deles. Nunca mais andei na rua sem perceber um ou outro me cuidando. Como eu morava perto da escola, conhecia quase todos, sabia dos problemas que viviam. Aprendi a não julga-los, a só vê-los como estudantes. Foi nessa experiência que defini que seria professor, que assumiria essa profissão como minha!

De todas as profissões que existem, creio que a de professor é a mais desafiadora. Na maioria das profissões que tem contato com pessoas, o profissional dificilmente atende ou se ocupa com mais de trinta indivíduos, ao mesmo tempo, no mesmo lugar e com várias turmas. Portanto, quando entra nas salas de aula, o professor tem que lidar com dimensões, perspectivas, expectativas e dinâmicas de vida as mais diversas. Ter competência técnico-científica seria, nesse caso, apenas um aspecto das tarefas que precisa ou poderia desempenhar. Nesse sentido, o professor deve ter uma compreensão mais ampla do ser humano com o qual trabalha; bem como de si mesmo.

Não consigo entender professores que reclamam de estar em sala de aula. Toda profissão é uma escolha. Se essa não serve, muda-se, simples assim. Eu sou professor com muito orgulho, mesmo crendo que deveria ter um salário maior, que deveria ter melhores condições de trabalho, mais valorização, eu sigo sendo! Muitos que me conhecem e sabem das minhas formações me perguntam “porque eu ainda dou aula”, vamos a algumas respostas:

  1. Eu não dou aula. Quem dá algo oferece uma coisa que não usará mais, nova ou usada, mas passa para a frente, dispensa. Eu vendo minha força de trabalho em sala de aula, vendo minhas aulas. Está certo que vendo baratinho, mas as vendo! Não sou um doador de aulas, sou um profissional em educação, um educador.

  2. Sou professor porque acredito na mudança da sociedade, a partir dos jovens. Acredito que meu trabalho pode fazer alguma diferença no futuro e no presente de tantos e tantas que passam pelas salas que atuo, já vi isso acontecer e tenho certeza que ainda acontece.

  3. Sou professor porque tenho esperança que a educação pode e deve ser priorizada como a melhor e a maior forma de contribuir para que as pessoas sejam melhores em sociedade, sejam cidadãos plenos.

  4. Sou professor porque estudei para isso, me qualifiquei para ser profissional!

O Brasil corre o risco de num futuro bem próximo ter uma grave crise na educação por falta de professores. Os cursos que formam docentes estão se esvaziando e os alunos que ainda acreditam estão perdendo as esperanças. Se isso não bastasse, os conteúdos que são ministrados aos futuros professores parecem que não dão conta das exigências que o cotidiano escolar apresenta. Entre elas está a questão do reconhecimento de um conjunto de individualidades que circulam na sala de aula, isto é, cada aluno tem a sua singularidade, a sua própria identidade.

Em muitos momentos me bate uma incerteza se ainda vale a pena. Ai volta para a sala de aula, olho para os meus egressos, e reafirmo que valeu e vale sim. Um pátria educadora se faz com educadores que acreditem no que fazem. Posso não fazer muita diferença, mas acredito muito.

Tive a sorte e a felicidade de ao logo da minha história ter convivido com professores e professoras que me fizeram acreditar nessa atuação, não citarei nomes para não ser injusto com os que esquecerei, mas cada um e uma sabe o tanto que me ajudaram nesse processo de entender que eu não estou aqui, na terra, a passeio, tenho uma tarefa humana a cumprir, e optei por cumpri-la como professor.

No 9 anos que passei na Escola Família Agrícola Rosalvo da Rocha Rodrigues aprendi muito mais que ensinei, e olha que eu tinha umas 5 áreas diferentes em sala. Aprendi com os estudantes assentados o que é educação do campo, o que é luta pela e na terra, o que é autonomia, o que é sonho coletivo de uma vida melhor.

Nos meus últimos anos na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, tenho aprendido que não sei nada, que estou apenas aprendendo coisas para pessoas a reelaborarem nas suas práticas. É com esse espirito que encaro as aulas: contribuir para que cada um e cada uma que navegue comigo no conhecimento seja e faça melhor.

Eu reafirmo: acredito na educação e no papel do professor nesse universo!

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador.

Sou professor, com orgulho...

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