12.9 C
Dourados
quinta-feira, 18 de abril de 2024

Tempo de Festa! Tempo de Manga!

- Publicidade -

28/12/2015 07h00 – Atualizado em 28/12/2015 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Quando chega essa época do ano as pessoas se reúnem para comemorar, festejar. É uma tradição antiga, reunir a família, reunir os amigos. Afinal foi Natal, e logo será Ano Novo.

Particularmente não tenho muito apreço por essas festas. Na minha casa quando era criança, nunca houve o costume de reunir a família, fazer ceia, comer peru, panetone, esperar Papai Noel, coisas desse tipo. Natal em casa de pobre era mais simples, e talvez, mais concreto. Lembro que a gente ia à igreja, e sempre na saída, o pai esquecia alguma coisa e tinha que voltar rapidinho, a gente esperava e ia para a missa do galo – nunca entendi o que o galo tem a ver com isso, ele nem canta meia noite. Na volta sempre tinha alguma lembrancinha, coisa simples, para os dois filhos. Incomodava-me a ideia que um velho, de roupa vermelha e barba por fazer, que nunca vi na vida, tinha invadido minha casa, meu quarto, para deixar uma lembrancinha. Mas criança pensa ligeiro e o pensado passa rápido. A atenção focava na novidade.

Depois de mais velho, na juventude, comecei a perceber algumas discrepâncias dessa festa. Natal é a comemoração do maior ícone do cristianismo, da fé de muita gente. E eu sempre respeitei toda forma de fé.

As pessoas passam boa parte do dia na cozinha, geralmente as mulheres, fazendo uma mesa farta, recheada de gostosuras, para se refestelarem à noite. O peru é preparado com todo cuidado, quase o dia todo envolvido nesse processo, de temperar, marinar, rechear, assar, essa ave que a maioria não come ao longo do ano. Eu não gosto de peru. Prefiro um frango caipira, ou um pernil de porco. Coisa mais saborosa e que dá menos trabalho. Nunca entendi que relação tem o peru, comum na festa estadunidense de ação de graça, pois simboliza a fartura da festa pagã da colheita, com o natal. Os homens montam a churrasqueira, salgam a carne, e gelam as bebidas. O povo se reúne e começa a comilança e a beberagem. Com a barriga cheia e o álcool na cabeça, verdades se revelam. Pessoas que não se visitam o ano todo, trocam abraços carinhosos e desejam tudo de bom um para o outro. Pessoas que ao longo do ano não se importam muito com outras, são só afeto. Considero isso de uma falsidade marcante. Quer mesmo cuidar de alguém, visite-o ao longo do ano, da vida, não só no natal. E dê-lhe álcool… E a fé? Sei lá!

Depois que passa o natal temos uma semana, um pouco menos, para nos recuperarmos da ressaca e preparar o ano novo. Ressaca de bebida, de comida, e as vezes, moral. Em festas as pessoas tendem a mostrar seu lado mais animado.

Quando chega o réveillon, nome francês que define o conjunto de comemorações da virada do ano, as pessoas projetam todas as esperanças em coisas boas. Pena que só na virada do ano. Usam roupa branca para ter paz, mas ao longo do ano cultivam essa paz? Ou apenas na virada? Usam roupa vermelha para conseguir u fortalecer o amor e o desejo, mas se esquecem de que amor e desejo são construídos no dia a dia, cuidado, cultivado. Não basta uma cor. Usam amarelo, para simbolizar o otimismo e a criatividade, que deveria ser atitude de sempre, não só cor de roupa na festa. E bebem. E comem. Como se o mundo fosse acabar no dia primeiro.

Fim de ano também é tempo de manga. Isso me traz sempre boas lembranças. Afinal desde criança sou perito em pegar as mangas da mangueira do vizinho. E olha que sempre teve manga em casa, mas a do vizinho é mais doce. A manga, originária da Ásia, tem a cara do Brasil. Podemos encontra-la em praticamente todas as regiões. Tem pessoas que comem manga com faca, sem sujar as mãos. Mas o bom mesmo da manga é a gente se lambuzar, o rosto, a roupa, as mãos. Maga é fruta simples, produz em abundancia, e meio que não tem dono. Afinal nas ruas a molecada vive jogando pedra ou subindo nas árvores e saindo com as mãos cheias de gostosuras. De graça, sem muito esforço. Só o trabalho de subir no pé, correr as vezes do dono do terreno, e depois tirar os fiapos dos dentes.

Sempre desejei que as pessoas saboreassem o Natal e o Ano Novo igual criança saboreia manga. Se lambuzando. Lambuzar de alegria, sem receio de parecer tolo. Lambuzar de esperança, sem ser ingênuo em acreditar que esperar basta. Lambuzar de solidariedade, sem perder o sentido da dignidade. E não só em dezembro. Afinal, Natal é todo dia. E ano novo é cada dia que nasce, que se renova, pois carrega em si a possibilidade de que tenhamos novas oportunidades.

Quem quer um novo ano o constrói! Ai sim a fé será algo efetivo. Fé na gente, fé na vida…

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador

Tempo de Festa! Tempo de Manga!

Tempo de Festa! Tempo de Manga!

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-