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sexta-feira, 29 de março de 2024

Tereré II

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21/03/2016 07h15 – Atualizado em 21/03/2016 07h15

Conversa nada fiada

Por Odil Puques

Eh ch’amigo, você já sorveu o tereré??? É um néctar que nos foi trazido pelos irmãos guaranis, antigos habitantes dessas paragens, composto de água, erva, bomba e cuia. Mas esses não são os principais ingredientes que lhe falo. O que impressiona é o que o tereré traz consigo, uma boa roda de gente, mãos a servir e serem servidas e seres a sorrir, a matraquear, a se reunir. Por isso o verdadeiro simbolismo desta bebida é o que ela representa para o cultivo da amizade. Sim, porque só se reúnem entorno da cuia, aqueles que desejam a convivência recíproca, pessoas de quem se gosta. Talvez a explicação para tanta devoção, seja porque, por aqui tudo era pé de erva, mas que era muito custosa e sofrida colhê-la, os homens precisavam passar por todo tipo de provação, trabalhavam como escravos e por isso precisavam uns dos outros para sobreviver, o seu alento eram as rodas de tereré onde podiam ter um tempo a vontade, pra falar o quê e de quem quisessem, coisas raras naqueles tempos, e, nessas horas esqueciam, mesmo que por pouco, o inferno verde em que viviam. Pra tudo, há paragem para o tereré, se trabalhando, lá pelo meio da manhã e depois no meio da tarde, são os momentos melhores para um merecido repouso, umas goladas do mate gelado pra poder recobrar as forças e voltar pro eito, se vagabundeando melhor ainda, aí é quando der sede mesmo e tiver uma companhia, por supuesto, o importante entre uma golada e outra é o trololó, sólito não tem graça. Se for preparado com ‘remédios de jujus’ tipo, cocum, burrito, quebra-pedra, ou boldo, melhor ainda que essas plantas medicinais são boas pra tudo, curam de ressaca até câncer, não ria, não digo que elas curam depois do bicho aparecido, mas que evitam dele aparecer, ah, isso elas evitam. A maior homenagem que você pode fazer ao tereré é servi-lo em cuia de chifre de boi, bem talhada e trabalhada, água numa moringa de porongo, recheada dos jujus que lhe falei e erva cancheada, colhida pelos ervateiros ainda sobreviventes, mesmo que não chamados mais de ‘mineiros’, passada pelo sapêco a moda antiga, nem tão grossa, nem tão fina. No ponto. Erva de tereré. Só não me venha com invencionices, ervas com sabor de menta, de laranja e não sei mais o quê, que isso já é frescura. Mas observe bem alguns rituais que são sagrados sob pena do Pombero lhe aparecer durante a madrugada e lhe arrancar as entranhas. Tereré se toma sentado, assim como o baile é bailado. Óbvio ululante, se se tem como princípio universal que o tereré é muito mais uma reunião para prosas e causos, não tem sentido tomá-lo em pé, num desassossego que isso é atitude de quem tá de passagem. Outra coisa, a servida é sempre da direita para a esquerda e o mais importante, a mão que serve e a mão servida, têm que ser sempre a mão direita, que senão é falta de respeito. Se você está totalmente impossibilitado de servir com a mão direita, humildemente reconheça: “Desculpa a mão”. Difícil??? Pois venha pra Amambai que aqui tudo há. Até time de futebol com nome de Tereré, você encontrará.

O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna.

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