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17/08/2015 15h19 – Atualizado em 17/08/2015 15h19

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Não é por não falar
em felicidade
Que eu não goste
de felicidade
Não é que eu não goste
de felicidade
É por não falar
em felicidade
E é por falar
infelicidade
Que eu não gosto de falar
em felicidade
(Titãs)

O título acima é o nome de um CD da banda “Titãs”, de 1991. Sou do tempo que ouvir música valia a pena. A gente gastava um bom tempo para entender a letra, não tinha opção de pesquisa na internet, onde tudo vem mastigado. Não tinha aplicativos onde a pesquisa vinha feita. Não tinha aparelho de som portátil, ouvir música só em casa. Corrigindo, já existiam sim aparelhos portáteis, só não existiam pra gente pobre.

A minha relação com a música sempre foi visceral. Amo e odeio ao mesmo tempo. Amo a música, a letra, a poesia, o clima que o som cria em volta de mim e dos meus amigos. Odeio não saber tocar nenhum instrumento, não ter voz afinada para cantar nem em igreja, ter que aturar a indústria “cultural” que empurra goela a abaixo, verdadeiros lixos, disfarçado de música. Isso não é de hoje. Muitos criticam os funks e suas letras (sic!) sexualizadas, mas esquecem do Axé (vai descendo na boquinha da garrafa… ou rala o tchan e rala a tcheca! Só pra lembrar).

Não sou dos saudosistas que acham que só houve música boa no passado. Afinal de contas temos por ai ainda uma Zélia Duncan, Ana Carolina, Leci Brandão, Maria Bethânia, Oswaldo Montenegro entre tantos outros. Sou da geração que ouvia rádio. Hoje muito difícil, afinal rádio virou monotemático no quesito musical. Comprei meu primeiro CD em 1991. Um CD do Cazuza. O legal é que eu não tinha aparelho que reproduzisse um CD. Lembro que passei mais de dois meses com o CD em casa, lendo as letras, decifrando-as, sem ouvi-las. Quando, finalmente, consegui comprar o aparelho, as músicas foram surpreendentemente melhores que eu havia imaginado. Eu fiz um experiência diferente com Cazuza, saboreei as músicas sem ouvi-las. Talvez, por isso, até hoje sempre ouço o cantor e me delicio com as letras e com as jogadas de ironia que ele faz.

Falar em música é falar em espaço coletivo. Afinal, a música que deveria ser para agradar os ouvidos de um certo grupo, tornou-se quase uma obrigatoriedade. Andar pela cidade é ouvir de tudo, quase sempre do mesmo. Muitas lojas tentam chamar a atenção com música alta. Até entendo a lógica por trás da propaganda, mas precisa ser sempre e sempre o mesmo? Existe uma necessidade de um grupo de pessoas que andam de carro pela cidade de nos fazer ouvir sempre o mesmo estilo musical, e sempre em tom elevado. Detalhe que quem entende um pouco de música, sabe que o som, a regulagem de graves e agudos, quase sempre está incorreta, acarretando mais barulho do que música em si.

Sempre entendi que música deve ser algo prazeroso. Quando morei em cidades grandes (principalmente Brasília e Goiânia), desenvolvi o hábito de usar o fone de ouvido. Não só para ouvir minhas músicas, mas principalmente, para impedir que outros sons me afetassem. Não que eu considere meu gosto musical melhor que o dos outros, apenas espero ter meu gosto musical respeitado. Estou voltando a usar o fone de ouvido nas ruas de Amambai. Mesmo sabendo do risco que isso acarreta. Eu ando a pé, não tenho carro, não aprendi a dirigir até hoje, não tenho necessidade de aprender. Nas esquinas da cidade parece que as faixas de pedestre são elementos invisíveis à maioria dos condutores. Parece que seta é um item opcional na maioria dos carros. As calçadas parecem que são pistas de skate e de bicicleta, quase sempre em grupo e em disparada.

Quem anda a pé, tem que sempre desviar de veículos nas calçadas, de mesa de bares, lanchonetes e sorveterias, de meninos e meninas andando em seus skates ou suas “bikes”, de gente que anda com o celular na mão, teclando… Mas mesmo assim terei que usar os meus fones, afinal não sou obrigado a ouvir a música que os carros e lojas insistem em me enfiar ouvido a baixo.

Posso parecer só mais um velho reclamão. De repente sou mesmo. Mas sempre entendi que o bom senso deveria ser a regra social de convivência e de vivência em uma cidade. Então algumas sugestões:

  1. Calçada é local de pedestre. Deveríamos começar a multar quem coloca veículo, mesa, mostruário de loja, não importa onde seja (no boteco do fim da cidade ou no colégio mais elitizado que temos aqui);

  2. Calçada é pra gente andar. Deveríamos tem um ciclovia, uma faixa ligando a cidade de ponto a ponto, onde bicicletas pudessem ter seu espaço. Eu também ando as vezes de bicicleta, e entendo que enfrentar as carretas e caminhões na Avenida Pedro Manvailler é coisa de louco;

  3. Skate é para pista. Se uma só não basta, que tal fazermos outras? E nesse interim, deveríamos educar a meninada a respeitar quem anda nas calçadas;

  4. Ter acessibilidade é um direito humano fundamental. Andar nas calçadas da cidade é uma aventura constante, visto os desníveis, os buracos, a falta de calçada… Que tal se pudéssemos padronizar isso?

  5. Uma lixeira não custa tão caro. Então porque as lojas, bares, etc, não as tem nos seus comércios? Seria falta de fabricantes locais, ou falta de vontade mesmo? È horrível ter que desviar de lixo na rua…

Caso me veja andando na rua e eu não te reconheça, pode ser que eu não seja um esnobe, apenas esteja usando toda a minha atenção (eu é pouca) para conseguir caminhar sem atropelar o que fica na calçada e sem cair, aos tropeções, pelo estado que as mesmas se encontram. Me desculpem!

Sigamos caminhando! Querendo sim, tudo, tudo o que for necessário para uma vida mais pautada no bom senso. Ao mesmo tempo e agora, sem esperar que o dia de amanhã resolva. Resolvamos nós hoje mesmo!

Luiz Peixoto é Filósofo por formação (UCDB). Cidadão Amambaiense por nascimento. Professor por opção. Educador por princípio e pensador…. por necessidade. Pedestre. Reclamão. Mas ainda credita na vida e nas pessoas e segue sonhando um mundo mais justo e mais igual.

Tudo, ao mesmo tempo, agora!

Luiz Peixoto

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