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sábado, 20 de abril de 2024

Valorização dos Profissionais de Educação

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19/10/2015 07h00 – Atualizado em 19/10/2015 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

“Um professor que o ensine a transformar-se
numa pessoa livre e plena de amor é,
e sempre foi, por definição, um alquimista.”

(Deepak Chopra)

Eu entrei na escola em 1978, com sete anos de idade. Estudei os primeiros anos da educação básica na Escola Estadual Antônia da Silveira Capilé, no Jardim Água Boa, em Dourados. Minha família havia migrado para a cidade grande em busca de melhores condições de vida, o que se mostrou um equívoco, que muitos cometeram nas décadas de 70 e 80 do século passado.

Nós morávamos cerca de 17 quadras da escola, e íamos a pé, caminhando, por um lavoura urbana de soja. Dourados, para quem não se recorda, tem uma terra vermelha, que gruda na gente, quando seca, gruda como poeira, quando molhada, gruda como barro. Na época os calçados que a criançada usava era o conga, o chinesinho ou o kichute. O kichute era preto, com travas embaixo, estilo chuteira. Era calçado para futebol, e eu, como nunca fui bom nessa área, tive poucos desses calçados. Já o conga era top, tênis classe média alta. Nós, os mais pobres, usávamos mesmo o chinesinho, made in Paraguai, de cor branca com detalhes que imitavam o famoso All Star, em azul, verde ou vermelho. Lembro muito bem da dificuldade que era manter esse calçado limpo…

Nesse tempo, nas escolas, usava-se um jaleco branco, por cima do uniforme, que não era oferecido pelo poder público como hoje, e sim comprado ou feito em casa. Até hoje detesto aquelas calças azuis, de tecido estilo social, que éramos obrigados a usar, fizesse calor ou frio. No calor o tecido sufocava, no frio, congelava. Levei algumas surras por sujar ou rasgar o tal de jaleco. Talvez por isso até hoje tenho ojeriza a uniformes.

Minha primeira professora foi a Cleuza Guerreiro. Nem me perguntem das outras, a memória já falha, mas dessa eu lembro. Eu nunca havia pego em um lápis, nem um caderno. E eu era muito tímido, gago, sem graça (ainda sou um pouco dos três). Ela teve uma paciência incrível, me ensinou a dominar os instrumentos, a escrever (se bem que assumo que a letra sempre foi feia, e não teve caderno de caligrafia que resolvesse), a entender a soma e a subtração. Foi a base de tudo. Nem me lembro quando aprendi a ler, só sei que depois que comecei, peguei gosto, e nunca mais parei.

Muitas coisas ficaram na memória dessa época… as primeiras brigas na escola, e olha que vieram outras depois; a primeira vez que matei aula e pulei o muro morrendo de medo e fiquei até as 11h sentado, sem fazer nada, do lado de fora, só pela emoção de quebrar um regra; a primeira ida à temida sala da direção, levar bronca, naquele tempo a gente tinha medo e tinha vergonha disso; os primeiros bullying, que na época nem tinha esse nome, era zoação mesmo. Mas me recordo principalmente da alegria que era poder estudar, descobrir um mundo novo.

Quando voltamos para Amambai, depois do desencanto com o sonho de “fazer a vida na cidade grande”, fui estudar na Escola Estadual Fernando Correa da Costa. Trabalhava de dia e estudava a noite. Tempo bom, de libertação, de poder sair de casa, ganhar a noite. Imagina o resultado: reprovação na 7ª série, por faltas e por não ter notas suficientes. Aprendi a lição rapidamente. Voltei e nunca mais brinquei com a escola, por mais que ainda brincasse muito na escola.

Disso tudo, guardei a lembrança de bons profissionais, tanto professores como técnicos administrativos, que fizeram parte da minha formação. Sempre fui meio nerd, ou CDF, como se chamava na época. Recordo, hoje com um sorriso nos lábios, do apelido de “biblioteca ambulante”, visto que sempre tinha um livro comigo. Continuei péssimo em esportes, mas aprendi a falar em público e a dominar o conhecimento e as técnicas. Passei pela faculdade, fiz pós, estudei fora do pais, me tornei professor… aprendi a pensar!

E foi assim, pensando, que me deparei com uma série de homenagens no dia do professor. Muita gente que está no poder, que governa, dizendo que professor merece ser valorizado. Não sei se me irrito ou se dou boas risadas. Meus caros, valorização é, entre outras coisas:

1. Salário condizente com a formação do profissional. Um professor ganha, geralmente, bem menos que outro funcionário, com formação similar, que atua no poder público. Os últimos dados que tenho, apontam que um professor, graduado, ganha em média 51% do que recebe um outro profissional com a mesma formação.

2. Elevação de rendimentos por qualificação. Um professor que faz uma pós, um mestrado ou um doutorado, deveria receber aumento salarial condizente. Ou será que queremos que nossos profissionais se acomodem e parem de estudar?

3. Condições dignas de trabalho. É desumano, inconcebível e improdutivo um professor atender 35 estudantes em uma sala de aula, com aulas de 50 minutos, em uma sala abafada, sem aparelho de ar-condicionado, as vezes sem ventilador, tendo que atender entre 7 a 10 turmas, em dois ou três turnos, para ter uma renda decente.

4. Efetivação e garantias de trabalho. Não é possível que o poder público continue com a política de contratação de profissionais, que ganham menos, pois não recebem os 12 meses, e não têm garantia de continuidade. Um profissional de educação merece saber que seu esforço em se qualificar não será perda de tempo, que ele ou ela, terá espaço para atuação. Chega de precarização das condições de trabalho.

5. Investimento na formação dos professores. Em alguns países que estive, um professor é estimulado e recebe bolsa dos municípios onde atua para fazer pós-graduação, mestrado e doutorado. Isso estimula os bons profissionais a serem melhores.

Escola não é depósito de criança. Educação não é gasto, é investimento. Valorização não é papinho pré-eleitoral. É, antes de tudo, ações concretas e efetivas que mudam a vida das pessoas.

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador.

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