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Em Amambai, escola indígena prioriza integração com a comunidade

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21/04/2014 11h08 – Atualizado em 21/04/2014 11h08

Em Amambai, escola indígena da aldeia Limão Verde prioriza integração com a comunidade

Fonte: Da Redação

Na aldeia Limão Verde, localizada em Amambai, a realização da programação deste ano alusiva ao Dia do Índio priorizou a integração entre a escola e a comunidade.

Na reserva indígena, funciona – desde 1990, como extensão da escola da aldeia Amambai e, como unidade escolar, desde 2002 – a Escola Municipal Polo Indígena Mbo Erenda Tupã I Ñandeva (Pequeno Deus).

As atividades do Dia do Índio aconteceram durante a semana passada e foram coordenadas pela direção, professores e coordenadores pedagógicos da escola. “É necessário que haja uma forma de integrar a escola e a comunidade; isto se faz através de eventos, sejam esportivos ou culturais”, explica o diretor Aurélio Oliveira.

Realidade da aldeia

A aldeia Limão Verde tem 663 hectares e está localizada no km 5 da rodovia 156. Residem na reserva cerca de 1.500 pessoas. A grande dificuldade dos moradores está relacionada à falta d’água. Segundo o capitão da aldeia, Valdinei Vilhalva Rodrigues, um único poço artesiano abastece cerca de 900 casas. “Há seis anos estamos solicitando mais poços”, fala o capitão. Algumas famílias precisam se deslocar por até quatro quilômetros para buscarem água.

Entre os homens, a maioria trabalha em empregos temporários, como o corte da cana-de-açúcar. As mulheres se mantêm em casa, cuidando dos filhos. Um grupo delas, com apoio de entidade de Amambai, está produzindo artesanato, com o objetivo de criar alternativa de renda.

Na Aldeia, estão instaladas quatro igrejas evangélicas e há também o grupo Jeroki, que é um nome genérico correspondente a uma igreja indígena.

Entre os moradores, a maioria pertence a um dos seis grupos familiares – os Martins, os Nelson, os Borvão, os Costelão, os Benitez e os Gonçalves. A disputa política sempre existiu na aldeia Limão Verde, que hoje é liderada oficialmente pelo capitão Valdinei Vilhalva Rodrigues, mas isso não impede a existência de outras lideranças.

Mesmo com a divisão política, a escola se manteve firme no seu papel. “A escola é a instituição que mais se fortaleceu”, diz o coordenador pedagógico da unidade escolar, Delfino Borvão. A escola reúne todas as tendências religiosas, políticas e familiares.

Escola X Comunidade

Na Escola Municipal Polo Indígena Mbo Erenda Tupã I Ñandeva, são mais de 400 alunos; além da escola polo, há ainda duas extensões. No corpo docente, atuam aproximadamente 20 professores e na escola funciona ainda o programa Mais Educação.

As atividades do Dia do Índio possibilitaram à escola trazer a comunidade para trabalhar com professores e alunos. “Jovens, mães, pais, trabalhadores em Educação e na Saúde: a escola tem juntado todos esses grupos (…) a programação foi uma alternativa para trazer a comunidade para trabalhar com a gente”, diz Borvão. Ele explica também que ao conhecimento universal de cada aluno é somada a língua materna, ensinada na escola, que tem a proposta da alfabetização bilíngue.

A escola faz o papel de articuladora da comunidade. “A escola está valorizando a cultura indígena, este é o seu papel (…) a escola tem influenciado em muito a comunidade”, finaliza Borvão.

Discussão acadêmica sobre o papel da escola

Este conceito sobre a importância da escola na formação das crianças e jovens é compartilhado no meio acadêmico. “A luta pela afirmação da identidade começa desde pequeno, tendo consciência dos valores e mantendo os valores para serem cidadãos indígenas, aprendendo a negociar com as mudanças do mundo.” A afirmação é de Wanderley Dias Cardoso e integra dissertação apresentada na Universidade Católica Dom Bosco como exigência parcial para a obtenção do Título de Mestre em Desenvolvimento Local.

A partir desta premissa, Wanderley declara que “A Escola deve ser específica e diferenciada: Deve trabalhar de acordo com a realidade do aluno, compreendendo e valorizando a sua cultura e costumes, abrangendo o conhecimento universal, para que ele possa estar preparado para entrar em uma universidade e no mercado de trabalho.”.

Foi neste contexto que foram criadas as escolas indígenas dentro das aldeias, oferecendo a educação bilíngue. Assim aconteceu na aldeia Limão Verde. Desde sua implantação, a escola se fortaleceu. “Deve ser uma escola comunitária: com participação da comunidade na administração e nos trabalhos, ajudando a indicar as diretrizes e a identidade que querem da escola, sendo igualitária e consciente na valorização de seus saberes tradicionais”, prossegue Wanderley.

Essa também foi a abordagem da Mestre em Educação, Elda Vasques Aquino, moradora na aldeia Amambai e assessora técnica do Núcleo de Educação Indígena da secretaria municipal de Educação, em palestra realizada na aldeia Limão Verde. Ela participou da programação o Dia do Índio na aldeia Limão Verde e palestrou sobre o tema Educação Escolar Indígena.

“Os conhecimentos e aprendizagens tradicionais e não tradicionais na atualidade são transmitidos durante as atividades do dia a dia e nos momentos especiais”, avalia Elda.

Geração de Emprego e Renda

Delfino Borvão explica que as atividades deste ano alusivas ao Dia do Índio oportunizaram discussões relevantes para a comunidade, como a questão da capacitação profissional, que foi abordada em palestra. O secretário municipal de Indústria e Comércio, Rodrigo Selhorst, falou aos jovens indígenas sobre os cursos do Pronatec.

Na opinião do coordenador pedagógico da escola, a questão da geração de emprego e renda é o principal problema da comunidade da aldeia Limão Verde. “Com a mecanização das lavouras de cana-de-açúcar, os homens terão poucas opções de emprego”, diz ele. Segundo Delfino, cerca de 500 trabalhadores indígenas são empregados a cada safra no corte da cana-de-açúcar.

Perspectivas

A integração entre comunidade e escola está mais presente do que nunca. Exemplo é o trabalho do professor de Artes, Jânio Ávalo, acadêmico do terceiro ano da Faculdade de Artes da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).

Ele traz para a escola o conhecimento adquirido na universidade. Através da dança e da pintura, por exemplo, ele desperta a motivação dos jovens. “A escola está retomando seu espaço e valorizando a cultura”, avalia Jânio.

Outros exemplos são: o trabalho de combate ao álcool e às drogas realizado por professores em sala de aula, o Mais Educação, o curso de violão realizado em parceria com a Associação Casa Paraguaia, o grupo de dança e os eventos esportivos. De dois anos para cá, avalia o professor de Artes e liderança jovem, diminuiu uns 40% os casos de violência na aldeia.

O desafio imposto agora à comunidade indígena é viver essas mudanças não deixando de lado o jeito de viver indígena, o “ñandereko”. Como escreveu Walderley em sua dissertação: “… as comunidades indígenas estão ressignificando o conceito da vivência a cada dia por estarem convivendo com as duas culturas, não deixaram a modernidade acabar com suas tradições o jeito de viver”.

Veja abaixo as dissertações de Elda Vasques Aquino e de Wanderley Dias Cardoso que abordam o tema educação indígena e educação escolar indígena







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