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Floresta é a solução pra tudo

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24/11/2014 16h46 – Atualizado em 24/11/2014 16h46

Floresta é a solução pra tudo

Fonte: Por Daniel de Paula/Rural Centro

A luz no fim do nosso túnel pode ser a primeira árvore do nosso bosque. Seja para a tão ameaçada energia como para o dinheiro que a madeira pode gerar, é na floresta que está boa parte das soluções que precisamos para valorizar a terra, produzir de forma sustentável e ainda contribuir sobremaneira com o meio-ambiente. E campo não nos falta. A carência ainda é de enxergar essas aptidões e trabalhar política e estruturalmente para pavimentar esse caminho que podemos percorrer com a competência que o Brasil tem para gerar riquezas no agronegócio. E floresta é agronegócio.

Tem muita gente que já vislumbra isso, mas algumas esferas de governo, principalmente a federal, não conseguem largar alguns escândalos para cuidar de suas galinhas dos ovos de ouro, no caso aqui de sua galinha das madeiras de ouro. São poucas, mas algumas empresas especializadas já enxergaram essa necessidade e agora passam a mostrar alternativas em encontros como o que participei dia desses em Campo Grande/MS, o Programa Mais Floresta – Biomassa e Madeira Nobre, idealizado pelo Senar e organizado pela Painel Florestal, do amigo Paulo Cardoso.

De todas as palestras e apresentações práticas no campo, na sede da Embrapa Gado de Corte, brotou a possibilidade de multiplicar a área de floresta plantada no Brasil dos atuais 7,6 milhões de hectares para 16 milhões nos próximos anos. Faz parte, inclusive, de uma meta estabelecida em um dos projetos da Secretaria de Assuntos Estratégicos e do Ministério das Minas e Energia. Mas, como quase tudo – saúde, educação, segurança e fim da corrupção – neste governo não sai do papel, ainda é um projeto o aproveitamento de 15 milhões de hectares de área degradada que poderiam ser preenchidos com floresta plantada.

Nem cabe aqui – mas o assunto voltará a ser manchete da Enfoque em várias ocasiões – discriminar que madeiras são mais indicadas, que mercado pode ser mais explorado, porque tem muita vertente para o segmento e todos com altíssimo potencial de ganhos de toda natureza. Pode ser o mercado de US$ 270 bilhões de madeira nobre do qual o Brasil é o terceiro maior produtor mundial (atrás de Indonésia e Malásia!), com programação para mais que dobrar esse montante até 2030. Pode ser o bambu, isso mesmo, o bambu, que, só na China, movimenta um mercado superior a US$ 30 bilhões e pode ser alternativa para uma série de mercados, como o de produção de fibra para fabricação de pás que movem aerogeradores da energia eólica. Pode ser o eucalipto, nossa maior floresta, que fornece matéria-prima para a gigantesca indústria de celulose, em que o Brasil compete com vantagem no mercado mundial – inclusive em relação à Índia.

Por falar em Brasil, por mais que o produtor de madeira dura, aquela mais valorizada (mogno, teca, ipê, etc.), assuma que o ideal é usar a terra para intensificar o seu manejo para agregar valor ao produto final, ainda se verifica a cada dia o crescimento do interesse do produtor em integrar sua lavoura e/ou pasto às florestas. Misturar pau, carne e grão.

Manejo correto, arranjo espacial bem programado e definição de suas prioridades dentro da fazenda, pode – e deve – fazer o produtor ganhar de todo jeito, de toda fonte. Se o seu negócio é carne, vai embutir qualidade nela consorciando, inteligentemente, com uma boa assessoria, os renques de sua floresta com forrageira ou lavoura no seu espaço e garantir renda – boa renda – extra. Se o negócio for madeira, pode garantir no sub-bosque, como um bom pasto alternado com outras culturas, outra fonte de renda que preencha a cesta de negócios de sua propriedade.

E tem gente que já admite consórcio de florestas, para atender uma demanda que é crescente no Brasil e no mundo. Os gringos têm grande interesse nas nossas florestas e na nossa terra para produção de mais florestas. Só esbarram em legislação limitadora – que nem cabe aqui aprofundamento – e investem no que pode ser aprontado para eles. Vêm buscar aqui a madeira que o Brasil pode produzir. E pagam bem por ela.

Além de tudo isso, dois fatores que sacramentam a vantagem de se começar a pensar em reflorestar. Uma área de integração da floresta com pecuária pode fazer com que a primeira, independente da lotação de um segmento ou de outro, ajude no sequestro de carbono, componente tão prejudicial e combatido no mundo por causa da camada de gases do efeito estufa. E um dos mais importantes: qualquer floresta plantada pode ser averbada com reserva legal – apesar de muita jurisprudência.

Quer mais vantagem? Com poucas citadas aqui dentre as tantas que os especialistas podem descortinar para qualquer tamanho de produtor ainda tem a perspectiva de que esse mercado crescente e um bom planejamento para aproveitamento da demanda ainda faça com que ninguém mais precise desmatar, já que a tendência constatada no Mais Floresta é de que entre 5 e 10 anos acabe a extração irregular de madeira nativa das nossas florestas.

Em Foco

  • Quando se fala em aproveitar a demanda, precisamos aprender com os americanos, por exemplo. No Brasil, além de 40% do carvão vegetal que temos acesso ainda ser de uma procedência desconhecida, ainda existem 50 mil pessoas que se alimentam de cocção por forno a lenha. No mundo, são 150 milhões de pessoas! Só que o governo brasileiro ainda não desenvolveu linha de financiamento para fabricação e comercialização de fogões com eficiência na emissão de gases, por exemplo. Enquanto por aqui a prioridade é a linha branca a perder de vista, os Estados Unidos desenvolveram esse bem que está comercializando para o mundo inteiro. E ganhando dinheiro com isso, valorizando a madeira que nós produzimos.

  • Se alguém adivinhar o motivo pelo qual o Brasil não avança mais no segmento floresta para gerar energia e riqueza com a madeira para serraria, ganha uma muda de bambu do amigo Guilherme Korte, presidente da associação nacional dessa planta. Gestão! Enquanto a presidente leva dezenas de assessores aqui pertinho, para a Austrália, para participar da reunião do G-20 e deixar o pega ladrão da Operação Lava-Jato dominar o nosso noticiário, a Embrapa Floresta e demais áreas do órgão fundamental para o nosso desenvolvimento tem limitações de verba e de locomoção para seus principais pesquisadores, difusores de tecnologia. Descobri de fontes fora da Embrapa que cada líder pode ficar apenas 40 dias fora de seu escritório para tratar de assuntos relacionados às pesquisas com outras unidades e campos experimentais. E que a verba para movimentar uma equipe de 70 pesquisadores, por exemplo, não chega a R$ 50 mil – que não dá 1% do recorde batido pelos cartões corporativos da Presidência da República só com “gastos secretos” permitidos por Lei!!

  • Essas duas fotos publicadas pelo amigo Paulo Salgado, de Montes Claros/MG, no facebook descrevem bem a importância do assunto de hoje na Enfoque. São da mesma área da faenda Barra da Vereda em que ele cria com tanto capricho o seu Caracu e o seu Sindi no Norte mineiro. A primeira é de fevereiro, depois que terminou o minguado período de chuvas naquela região. A segunda, é recente, da entrada do período em que deveria estar caindo mais água. Que relação tem isso com o tema de hoje da coluna? Vai entender se der uma lida na coluna do colega Leão Serva essa semana, na Folha de São Paulo (clique aí nohttp://www1.folha.uol.com.br/colunas/leaoserva/2014/11/1545768-amazonia-morre-e-jornais-nao-veem.shtml). Depois, com um pouquinho de tempo, veja o que o pesquisador Antônio Nobre revelou sobre o mesmo tema (http://infoamazonia.blogosfera.uol.com.br/2014/11/05/para-salvar-a-amazonia-cientista-brasileiro-declara-guerra-a-ignorancia/). Enquanto isso, vamos dependendo de São Pedro para aliviar o risco de as hidrelétricas não conseguirem suprir a demanda de energia num Brasil desse tamanho. Temos mais uma semana para rezar e ver o que podemos abordar na Enfoque da próxima segunda-feira. Até lá.

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