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Projetos culturais incentivam moradores de rua a gerar renda em SP e no DF

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12/12/2015 08h44 – Atualizado em 12/12/2015 08h44

Fonte:ABr

Com máquinas fotográficas nas mãos e a sensibilidade de quem conhece bem as vielas paulistanas, cem moradores de rua passaram dois dias captando imagens da cidade. Eles fazem parte do projeto Minha Grande São Paulo – O Olhar da Cidade, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. As 20 melhores fotos foram expostas e 13, escolhidas para compor o Calendário Minha São Paulo, que será lançado hoje (12), como parte da programação do Festival de Direitos Humanos.

O coordenador adjunto de Política de Pessoas em Situação de Rua, Rafael Alves da Silva, conta que os moradores de rua selecionados frequentam núcleos de convivência e oficinas de atividades artísticas e que cada um recebeu uma máquina com 27 poses. Na devolução das máquinas, eles receberam entre R$ 10 e R$ 100 por foto pré-selecionada. No total, foram captadas 2.360 imagens. Parte do dinheiro da venda será destinada aos fotógrafos e outra, a um fundo a ser criado com o objetivo de financiar projetos de arte e cultura para a população em situação de rua.

O projeto ocorre no âmbito da rede With One Voice – que age na inclusão de moradores de rua em vários países –, em parceria com as organizações não governamentais inglesas People’s Palace Projects e Streetwise Opera, o British Council e Calouste Gulbenkian Foundation.

O projeto foi desenvolvido em Vancouver, no Canadá, e em Londres, na Inglaterra. “Um dado interessante é que nesses dois lugares a média de devolução de câmaras era de 80; em São Paulo, foram devolvidas 92 câmaras”, destacou o coordenador.

Um dos vencedores foi Cristiano Vicente. Ele tirou três fotos. “[Fiquei] com as mãos balançando, um pouco de nervosismo, mas no final o resultado foi melhor do que esperava”, conta na página da secretaria no Facebook.

Para Rafael Alves, o projeto de fotografia é uma maneira de garantir principalmente o acesso à informação. “É uma forma de fazer com que eles consigam mostrar para a sociedade que são capazes de ter uma visão crítica também do local onde moram, porque são sujeitos que vivem o preconceito ao longo de cada dia, são pessoas praticamente invisíveis.”

Rafael Alves ressalta que o objetivo é elaborar um plano municipal de política para a população de rua que inclua o eixo de arte e cultura.

Distrito Federal

Em Brasília, um outro projeto – já foi implantado em 123 cidades do mundo – ajuda moradores de rua por meio da venda da revista Traços. Segundo o editor André Noblat, a ideia é reinserir socialmente moradores de rua. A publicação custa R$ 5 – R$ 4 ficam para o vendedor e R$ 1 serve para comprar uma nova revista. Foram cadastrados e capacitados 50 moradores de rua para integrar o projeto como “porta-vozes da cultura”. Ele foram escolhidos em parceira com a Secretaria de Desenvolvimento Social, que tem um centro de atendimento a essas pessoas. No local, eles tomam banho e se alimentam.

De acordo com Noblat, todos participaram, por um mês, de uma oficina para conhecer o projeto e receber orientações sobre a abordagem nas vendas. Ele conta que é oferecido apoio humano, com psicólogos e assistentes sociais, com a finalidade de estabelecer com os integrantes uma parceria que vai além da venda da publicação. “Essas pessoas estão, às vezes, há cinco, dez, 15 anos nas rua. Eles têm baixa autoestima e enfrentam a barreira do preconceito, existe um muro no relacionamento deles com as pessoas. A revista ajuda a derrubar essa barreira, gerar renda, com o apoio social”, acrescenta.

Luiz Alves, de 49 anos, foi um dos selecionados. Ele conta que a experiência está mudando sua vida. “Tem vezes que eu estou andando na rua e as pessoas chamam para comprar a revista. Agora, posso pegar meus trocadinhos, comprar remédios. A revista me afastou das drogas e da cachaça.”

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