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Indígena vice-campeão mundial visita Amambai e prestigia o Joind

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16/01/2016 07h35 – Atualizado em 16/01/2016 07h35

Conheça um pouco sobre o jovem atleta que tem conquistado o mundo e que prestigiou os Jogos da Integração Indígena de Amambai

Fonte: Da Redação

Amambai (MS)- Aconteceu em Amambai durante esta semana a 13º edição dos Jogos da Integração Indígena (Joind), que é organizado pelo grupo Jovens Guarani Kaiowá em Ação (Jiga) e que visa realizar a integração da comunidade indígena de Mato Grosso do Sul, além de valorizar e enaltecer a rica cultura indígena que nos cerca.

Neste ano, o Joind contou com a presença de um atleta ilustre, o indígena douradense, Rocleiton Ribeiro Flores, ou Rocky, como gosta de ser chamado. Ele conquistou medalha de prata em arremesso de lança nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, realizado em Palmas, no Tocantins em outubro do ano passado.

Filho de pai Terena e mãe Guarani Kaiowá, o jovem “Guateca” – nome resultado da mistura dos nomes das duas etnias – de 21 anos, disputou com cerca de 50 atletas oriundos de aldeias de 22 países e mostrou para o mundo a força e a garra dos índios sul-mato-grossenses, trazendo para a aldeia Jaguapiru, em Dourados, o título de vice-campeão mundial.

Segundo Rocky, seu primeiro contato com a lança foi através de seu irmão, Laucídio Ribeiro Flores, a quem dedicou a medalha de prata, falecido em 2015 em decorrência de uma parada cardíaca, mas que sempre incentivou e inspirou o jovem atleta. “Nós sempre fomos muito ligados; para se ter uma ideia, quando eu era pequeno, ele jogava a lança e mandava eu ir buscar e foi aí que surgiu a vontade de saber fazer aquilo também; a partir dos meus 17 ou 18 anos, eu comecei a jogar junto com ele e passei a ganhar, isso o deixava bravo”, lembra Rocky, divertidamente.

No esporte, Laucídio era um grande exemplo na vida de Rocleiton. Ex-atleta e um dos líderes da aldeia onde vivia, Laucídio tinha no currículo quatro títulos nacionais no arremesso de lança, também era destaque no arremesso de dardo, e em 2007 ajudou a conduzir no estado a tocha dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.

“Somente o aprendiz pode derrotar o mestre”, foi praticamente isso que segundo Rocky, Laucídio disse em uma entrevista, quando foi indagado qual era a pessoa que ele tinha medo de enfrentar em uma arena de arremesso e ele disse que era Rocleiton, que além de pupilo, era irmão caçula.

O Mundial

Após a morte de Laucídio, que pegou toda a família de surpresa, Rocky decidiu que não participaria mais do mundial, já que tinha perdido não somente o irmão, mas também o treinador. “Eu não ia mais participar porque eu estava muito triste e também porque não tinha mais meu treinador, mas então minha família conversou comigo, me incentivou muito e eu decidi ir novamente”, conta o medalhista. E acrescenta: “Passei a treinar sozinho apenas dois meses antes da competição e fui com a cara e com a coragem”.

Rocky ainda conta que em certos momentos no decorrer dos jogos, batia a tristeza e a insegurança de não ter um treinador para o ajudar e incentivar. “Por vezes me bateu aquela tristeza em ver cada atleta, treinador e eu sozinho, sem ninguém para me treinar; dava aquela insegurança, mas eu consegui superar, afinal eu tinha que estar preparado para tudo” ressalta o atleta.

Rocleiton ficou cerca de 15 dias na capital tocantinense e durante esses dias viveu momentos marcantes, que serão lembrados para sempre. “São muitos os momentos lembrados do começo ao fim, mas o que me marcou muito, além do pódio, claro, foi o momento em que fiz o lançamento, quando o coração começou a bater forte, as mãos começaram a suar, eu corri, lancei e a plateia se levantou e começou a gritar, isso foi incrível”, lembra emocionado o vice-campeão.

Segundo Rocleiton, uma das maiores dificuldades encontradas nos jogos, foi a adaptação com o clima e com a arena de lançamento. “Eu tive que buscar me adaptar com o que a arena me oferecia, porque lá a arena era totalmente diferente daqui, era robusta, com areia que cobria até os pés e dificultava na hora de correr, sem falar da lança, que pesava quase um quilo; tive que me preparar muito, tanto fisicamente quando psicologicamente”, ressalta Rocky.

De acordo com Rocky, o mundial trouxe muitas coisas boas para a sua vida, além da medalha, é claro. “Foram muitos momentos marcantes que vivi, experiências únicas, como poder conhecer outras etnias que eu nem sabia que existia, nomes diferentes, línguas diferentes, culturas diferentes, isso me acrescentou muito”, pontua o jovem Guateca.

O que veio depois do mundial

Rocky já tinha uma vida recheada de fãs desde 2014, quando participou de um desfile na aldeia e levou o título de Garoto Oligran. Em 2015, ganhou o título de Mister Indígena e a partir daí começaram os convites para sair de Dourados, realizar abertura de eventos e a ser jurado de concursos.

Segundo o badalado Rocky, lidar com a azaração não é tão difícil para ele. “São coisas que a gente tem que saber lidar, tem que ter um certo jogo de cintura”, declara sorridente.

Sua visão sobre o Joind

O esporte faz parte da vida de Rocleiton, desde quando era criança e isso sempre despertou nele a vontade de se tornar alguém melhor e inspirar a vida de outras pessoas.

Dessa forma, Rocky destaca a importância dos Jogos da Integração indígena realizado todos os anos na aldeia de Amambai. “Tem índios que tanto aqui em Amambai quanto na minha aldeia que não praticam mais esportes, não possuem mais contato com essa fonte de saúde e o Joind é muito bom para despertar nos nossos indígenas a vontade de praticar esportes, além de claro, livrar muitas pessoas de drogas e bebidas”, destaca o jovem atleta.

Um exemplo a ser seguido

Por onde passa Rocleiton chama atenção, seja das meninas, devido ao corpo escultural, quanto dos meninos, que almejam um dia serem como ele.

Segundo Rocky, inúmeras crianças chegam até ele dizendo que um dia querem jogar como ele e isso o deixa feliz. “Cada um tem o seu dom, cada um tem a sua missão e está destinado a alguma coisa aqui na terra e acho que a gente nunca sabe lidar, simplesmente vamos lidando; não há como se preparar para isso”, declara o jovem. E acrescenta: “Ser reconhecido pela sociedade por influenciar algo bom é magnifico”.

Sobre o Rocky

Deixando um pouco o Rocleiton mister indígena, atleta e vice-campeão mundial de lado, vamos falar um pouco sobre o jovem universitário, religioso e apaixonado.

Dono de um sorriso simpático, Rocky conta que está terminando o curso de enfermagem e que pretende atuar na área, seja em Mato Grosso do Sul, ou em outros estados que oferecem maior estabilidade para os formados na área.

E a pergunta que não quer calar, e o coração? Rocky conta que o coraçãozinho já está ocupado, mas que prefere deixar o nome em aberto. “Encontrei alguém muito especial e que acho que vai cuidar de mim até eu ficar velhinho”, afirmou Rocky enquanto seus olhinhos brilhavam.

Para finalizar, Rocky deixa uma frase dita por seu irmão e que marcou muito a sua vida. “Maninho, de hoje em diante é só vitória em nossa vida” e continua: “A minha vitória está tendo sabor de mel”.

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