25/06/2016 17h38
Fonte: Folha de Dourados
“A história do Tekohá Apyka’i é uma história de resistência. Por décadas uma pequena comunidade de Guaranís e Kaiowás de Dourados-MS tem lutado para manter seu direito sobre suas terras tradicionais, lar dos seus ancestrais. Essa luta se personifica na Dona Damiana, que desde 2008 resolveu liderar seu povo na retomada desse território sobre o qual incide uma fazenda de cana-de-açúcar, saindo da condição indigna sob a qual foram forçados a viver às margens da rodovia BR-463. A partir desse momento se intensificaram as ações criminosas violentas contra os indígenas, como ataques de pistoleiros e atitudes truculentas da empresa de segurança Gaspem.
Agora a comunidade sofre um novo atentado aos seus direitos com a ordem de reintegração de posse expedida pelo juiz federal Fábio Kaiut Nunes, o qual convocou a Guarda Nacional que atua sob o comando do Ministro da Justiça interino nomeado por um governo ilegítimo, Alexandre Moraes, uma das figuras mais autoritárias de um governo totalmente alheio aos interesses e direitos das minorias representativas, o ilegítimo governo Temer. Mais uma vez o Estado brasileiro, representado por um Judiciário elitista e excludente, se coloca ao lado dos ricos e poderosos contra os pobres e oprimidos.
A luta do Tekohá Apyka’i está inserida em um contexto muito maior de conflitos pela terra no Mato Grosso do Sul. O avanço dos interesses do agronegócio sob a proteção da bancada ruralista se pauta pelo não reconhecimento dos direitos alheios, colocando o lucro acima de tudo e de todos. Assim, o modelo predatório agrário-exportador segue destruindo vidas e o meio ambiente, envenenando nossos rios e matas e patrocinando o genocídio indígena, cuja face horrenda se mostrou no ataque ocorrido na Fazenda Yvu, próxima à aldeia Te’ Ýikuê, tragédia que teve como saldo a morte de Claudione Rodrigues Souza, agente de saúde indígena, bem como vários feridos.
Há em curso no Brasil vários micro-golpes à democracia que, somados, dão amplitude e desenham o cenário trágico do grande golpe de Estado de 2016. A principal característica é um afastamento dos preceitos plurais, democráticos e humanos por parte de grupos historicamente conservadores que ousam não respeitar as escolhas populares e os direitos das minorias, principalmente os dos povos da natureza e, sobretudo, golpeiam o princípio máximo do sentido de existir da República Federativa do Brasil que é a Dignidade da Pessoa Humana.
Defender Apyka’i é um dever democrático de todos e todas que buscam construir um Brasil mais justo, com respeito à Constituição e sem golpes à República Federativa do Brasil, bem como um Mato Grosso do Sul onde a vida de um ser humano indígena não valha menos do que um saco de soja. Por isso, nós da Frente Brasil Popular de Dourados-MS manifestamos nosso total apoio e solidariedade aos nossos irmãos indígenas, especialmente à valente Dona Damiana, que bravamente afirmou “EU SOU UMA GUERREIRA. E GUERREIRO NÃO MORRE!”.
