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Comunidade da aldeia Amambai investe em iniciativa para gerar emprego e renda

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05/08/2017 17h45

Sem apoio governamental, comunidade da aldeia Amambai investe em iniciativa para gerar emprego e renda

A 2ª edição da Feira Tekoha Guapoy aconteceu nos dias 5 e 6 deste mês na aldeia Amambai; na oportunidade, produtores rurais indígenas comercializaram hortifrutigranjeiros, produtos de padaria e de confeitaria, artesanato e alimentos prontos para consumir, entre outros.

Fonte: Redação

O desemprego no Brasil

Amambai (MS) – No Brasil, são mais de 14 milhões de desempregados. Gerar emprego e renda é um dos desafios para quem legisla e executa políticas públicas. É também uma das bandeiras de luta dos movimentos sociais, sindicais e comunitários.

Entre as comunidades indígenas a desigualdade social é mais marcante ainda. A deficiência das políticas públicas, a inoperância da Funai (Fundação Nacional do Índio), as vãs promessas e a falta de infraestrutura somam-se ao desemprego e à ausência de renda por boa parte da população indígena.

Há iniciativas, isoladas ainda, que apontam para uma perspectiva positiva. Mostram que é possível promover a geração de emprego e de renda.

Feira Tekoha Guapoy

A Feira Tekoha Guapoy na aldeia Amambai, em Amambai, é uma das iniciativas que visa a geração de emprego e renda. A segunda edição aconteceu neste sábado (5) e continuou no domingo (6). A aldeia é uma das três do município e cerca de 8.000 Guarani Kaiowá residem na localidade.

Na Feira, Guaranis e Kaiowás oferecem para comercialização produtos da agricultura familiar – hortifrutigranjeiros -, além de produtos de padaria e de confeitaria, artesanato e alimentos prontos para consumir, entre outros. Cerca de uma dúzia de feirantes estiveram presentes. O trabalho está iniciando e precisa vencer desafios e preconceito. A valorização da diversidade étnica e o conhecimento – por parte dos não índios – da cultura Guarani Kaiowá e da produção local são exemplos de barreiras a serem superadas.

Roda de conversa

A realização de uma Roda de Conversa, que contou com a presença de diversos segmentos da sociedade indígena e não indígena, fez parte da programação da Feira.

Na manhã do sábado, debateram a geração de emprego e renda na aldeia Amambai representantes do poder executivo, poder legislativo, Defensoria Pública, Funai (Fundação Nacional do Índio), Polícia Militar, Agraer, Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Casa de Saúde Indígena (Casai), Movimento Terra Vermelha, acadêmicos da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) de Amambai e da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), professores e diretores das escolas da aldeia e lideranças e comunidade indígena.

Desafios

Destinação correta e combate ao desvio de recursos, assistência técnica rural, parcerias, criação de espaço adequado para a comercialização, formalização dos pequenos empreendimentos rurais na aldeia, preparo do solo, sementes, óleo diesel… são alguns dos desafios a serem vencidos.

A Funai tem entendimento sobre todas essas necessidades, mas não promete nada e, pior, diz que a perspectiva não é favorável. O coordenador regional da Funai, Elder Paulo Ribas da Silva, esteve na Feira e afirmou que “é difícil contar com a Funai; hoje, não posso prometer nada (…) as notícias são más”.
Ele sabe dos desafios e da importância da agricultura familiar para o desenvolvimento das comunidades indígenas, mas diz que “é o momento das comunidades se organizarem com iniciativas que garantam a sustentabilidade sem depender da Funai”.

A coordenadoria regional da Funai tem sede em Ponta Porã e tem sob sua jurisdição 33 mil indígenas distribuídos em 40 comunidades. Em 2012, foram destinados R$ 450 mil para a agricultura familiar nas aldeias da região. Em 2016/2017, foram R$ 50 mil. “Esse valor era o que se investia na aldeia Amambai (…) é uma miséria (…) são quase dois salários mínimos para cada comunidade”, desabafa o coordenador.

Iniciativas governamentais ainda são projetos

A Prefeitura de Amambai, através do prefeito, Dr. Bandeira, e do secretário de Agricultura, Anilson Prego de Souza, esteve presente no evento.

Ambos compreendem as necessidades das famílias indígenas relacionadas à agricultura familiar, mas da parte governamental municipal também não há novidades.

A implantação da Feira do Produtor, através de uma emenda parlamentar, a definição de um plano de atendimento às comunidades indígenas ainda neste segundo semestre e um projeto de um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) Indígena para atender a comunidade são promessas.

O capitão da aldeia Amambai, Adair Sanches, disse que é preciso “olhar olho no olho, cara a cara, corpo a corpo” e que as promessas precisam ser cumpridas. Falou sobre como funciona a destinação de recursos.

Em sua opinião, se a pessoa é do lado do prefeito é atendida, caso contrário, tem que esperar meses.
“(…) falar sobre a feira é muito bonito (…) é preciso o apoio para a agricultura, como vender o produto se nós não temos o diesel, não temos o trator, a semente (…)”, falou ele dirigindo-se ao prefeito de Amambai.

Agricultura familiar valoriza comunidade

O vereador Ismael Guarani Kaiowá (PMDB), um dos responsáveis pela iniciativa, falou sobre os desafios para realizar a Feira, em relação à logística e também no convencimento da comunidade que a iniciativa é viável e que o produto tem valor.

“A gente tem muita dificuldade de convencer a própria comunidade de que o produto nosso é melhor que o da cidade … muita gente prefere comprar o pão lá na cidade do que comprar o pão produzido na aldeia “, disse ele.

Disse ainda que “muita gente fala que o índio não trabalha, que é preguiçoso (…) queremos mostrar para toda a comunidade que nós temos produção e temos produtos de qualidade”.

Feira como espaço coletivo entre indígenas e não indígenas

A enfermeira da Sesai / Casai, Paula Rodrigues, falou sobre a diversidade social. “A gente sabe que a forma de ver as relações em território e a busca por direitos se dá por vários caminhos (…) a feira deve ser construída coletivamente (…) a gente está aqui com parceiros importantes e precisamos aproveitar esta oportunidade para que a gente consiga ampliar a qualidade de vida da comunidade”, falou a enfermeira, também uma das responsáveis pela Feira Tekoha Guapoy.

A psicóloga entende ainda que os Guarani Kaiowá devem e podem construir este espaço de visibilidade. “Eles podem falar por eles, tem muita gente falando por eles e por elas (…) a feira veio de ideia da comunidade.”, concluiu.

A 2ª Feira Tekoha Guapoy possibilitou ainda a abordagem acerca dos direitos das mulheres com a participação da Coordenadoria de Políticas Públicas paras as Mulheres e do Movimento de Mulheres de Amambai. E também momentos culturais e de integração através da dança e da música.

Veja abaixo galeria de fotos da 2ª Feira Tekoha Guapoy

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