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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Dr. Diobelso Neili faz homenagem ao grande peão “Badé”

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08/04/2017 10h38

Fonte: Notícias Amambai e Região

BADÉ (Abad Rodrigues Lopes)

Foi o peão Badé quem me falou pela primeira vez do canto triste do Urutau, carregado de presságios. Me dá um ardume aqui dentro Dotô (apontando a caixa do peito), uns pressentimentos, mas escuto ele por que gosto de uma boa cantiga afinada e de apreciar a Lua. Tive o privilégio de tê-lo como capataz por onze anos.

Quando tomei posse daquela fazenda, próxima ao Km 30 da Rodovia Amambai-Tacuru, lado Poente, em Outubro de 1996, aos poucos fui percebendo que a principal qualidade e riqueza daquele lindo lugar, tão bem cuidado, era o capataz e peão Badé, com seus 49 anos de idade. Dono de uma pureza tão transparente que mais parecia uma criança. Tinha muita paciência com crianças, que o viam como um tio herói, digno de total confiança e com uma farta sabedoria da vida campeira.

Dono de uma fala típica, arrastada e mansa, tão característica sua, devido à cicatriz antiga de lábio leporino, era um exemplo de campeiro trabalhador: acordava às 4 da manhã e ia aos fundos da fazenda, cuidar da sua chácara localizada praticamente dentro de uma propriedade do Gomes, como ele dizia referindo-se ao falecido Gumercindo Bonamigo.

Nessas andanças lindeiras, seguia no seu cavalo Baio e era acompanhado pelo seu cãozinho “Ajudante”, que alertava com seus latidos insistentes quando se aproximavam da chácara do seu padrinho Zeca, genro do cerqueiro Ramão Barriga e pai do Paulinho.

Permanecia na lida por umas duas horas em sua propriedade e retornava para os seus afazeres em minhas invernadas, vistoriando o gado, os bebedouros, açudes, os cochos de sal, etc. No final do dia, cuidava do pomar da sede, que gostava de deixar que nem um brinco – ele dizia orgulhoso. E então recolhia as ovelhas, banhava os cavalos e cuidava das suas galinhas.

Após o jantar, o Badé às vezes ainda arranjava tempo para tocar sua sanfona animada, e só interrompia de vez em quando pra falar do Urutau: é um pássaro muito feio, Dotô, pior em feiúra do que uma coruja encolhida no paiol. Mas tem uma coisa: sua cantiga é diferente, muito afinada e tudo por aqui se aquieta e pára quando ele canta, parecendo querer escutar também. Só que me enche de pressentimentos aqui dentro (apontando para o peito). Não gosto muito, mas eu escuto assim mesmo – ele dizia.

Certa feita, eu e os meus filhos, Tomás e Murilo, fomos conhecer a sua chacrinha e percebi que a casa tinha o mesmo formato e as mesmas repartições da que ele morava na minha propriedade. Perguntei o porquê e ele disse que era pra não depender de ninguém para fazer comida ou pegar as coisas quando ficasse velhinho. Ele era assim, prático demais, cuidava do futuro dos filhos Adair e Fátima e dizia: tudo o que consegui foi assim Dotô, no “muque” e no lombo do cavalo. Naquele tempo ele ainda não vivia com a Dona Valdete e seu filho Maique.

Escrevo essas coisas sobre o Badé, alguns minutos após receber, a notícia do seu falecimento, pelo Murilo, que está em São Paulo. O Tomás me ligou em seguida, chorando. Era o queridinho do Badé, que apertava suas bochechas carnudas quando o colocava sobre o cavalinho Soneca quando tinha 4 aninhos.
Lá se foi meu amigo Badé: por certo, a Lua se mostrará murcha hoje à noite lá pras bandas da Fazenda Flamboyant. E com certeza o Urutau cantor ficará em silêncio total.

Diobelso T. de Souza, orgulhoso de ser ex-patrão do melhor peão de todos os tempos.

Homenagem ao grande peão

Dr. Diobelso NeiliFoto: Divulgação

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