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Nem o tempo, mesmo que sejam 40 anos, apaga o amor

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09/06/2017 23h39

Confiança, respeito e não ter o sentimento de posse são fundamentais. Quem garante isso são os protagonistas desta história: Wilsonir Gomes Vasconcelos e Heloir Holsbach.

Fonte: Redação

Eles têm pouco mais de quatro anos de diferença de idade. Ele é de 1945 e ela de 1949. Ele é nascido em Amambai e ela veio para a cidade criança ainda, com três anos de idade.

Naquele tempo, Amambai era ainda uma vila, distrito de Ponta Porã, era Patrimônio União. Todos se conheciam. As famílias deles se conheciam; eles se conhecem desde sempre.

Do lado da mãe dela eram os Araújo e os Batista, do lado paterno, os Holsbach, famílias grandes. Ele é Vasconcellos.

Ela se tornou profissional ainda adolescente. Costureira, bordadeira, confeiteira, professora. Por necessidade ou não, soube logo administrar suas finanças. Ele sempre quis ser médico, provavelmente influenciado pelo pai, farmacêutico, dono da primeira farmácia de Amambai. Dizia que se não fosse médico não seria outra coisa. Ela ganhou a vida como costureira, ele como médico. Tornaram-se o que se propuseram ser na vida.

Na época, isso há mais de meio século, as reuniões dançantes eram muito esperadas pelos jovens, e pelos adultos também, por que não. Com eles não foi diferente. Dançaram muito, os dois gostam e sabem dançar. Dançam muito e bem até hoje.

Um olhar aqui, outro olhar ali, uma música dançada, um encontro e depois um reencontro. Pronto, se apaixonaram. Ela tinha então 15 anos e ele 19. Isso em 1965. Eram férias escolares dele, que fazia o antigo segundo grau, hoje ensino médio, em uma cidade paulista, Ribeirão Preto.

Antes disso, ele lembra que só foi perceber mais tarde que ela, propositalmente, mesmo sem precisar, sempre dava um jeito de passar em frente à farmácia onde ele já trabalhava com o pai. Isso antes de começar o namoro, sempre nas férias escolares dele. Provável que ela, ainda menina moça, aguardava ansiosamente o retorno do pretendente à cidade, contando os dias de sua volta.

E também ainda antes do namoro, em uma dessas passadas dela pela farmácia, ele chamou-a e contou que havia sonhado com ela naquela noite. Coincidência ou não, ela respondeu-lhe dizendo que também havia sonhado com ele. Opa! Era o faltava para fazer a diferença.

O namoro foi oficializado em 8 de julho de 1965. Correspondiam-se por cartas. Semanalmente, ao menos uma. No seu primeiro retorno após a formalização do namoro, novamente as reuniões dançantes. E as danças prosseguiam, o par não perdia uma. Quando ele estava na escola em São Paulo, ela “guardava a ausência”, expressão e costume da época, uma demonstração de respeito ao compromisso com o namorado.

Em 1966, ele novamente se ausentou para estudar em curso pré-vestibular em São Paulo. “Minha vida era ficar esperando esse homem”, conta ela. No ano seguinte, ele tentou o ingresso na faculdade de Medicina, mas não obteve sucesso. Passou o ano em Amambai, estudando e trabalhando na farmácia. Namorando também, claro.

No mesmo ano, ele se inscreveu para participar de um convênio luso-brasileiro que contemplava com uma bolsa para o curso de Medicina em Portugal. Conseguiu. Isso já no final de 1967. Novamente iriam se separar. Ficaram noivos para garantir a seriedade do compromisso, tanto da parte dele que ia para terras distantes, como da parte dela que ficava em Amambai. Não era o ideal, mas ela apoiou-o e comprometeu-se em esperá-lo. A intenção era ir e voltar formado. Seriam longos anos de espera.

Em Portugal, ele não poderia trabalhar, tinha que se dedicar exclusivamente ao estudo, era o que o convênio estipulava. O pai mantinha-o com o trabalho na farmácia da família. Ela seguiu a vida, esperando-o, trabalhando em seus ofícios.

Por motivos adversos, ela foi morar com a mãe em Campo Grande, até então ela residia em Amambai com uma tia. Nesta mesma época, o pai dele começou a ter dificuldade para administrar a farmácia, estava cansado, ficou doente. Foi aí que ele propôs que ela voltasse para Amambai, morasse com os pais dele e trabalhasse na farmácia. Isso em meados de 1968. Os costumes sendo outros, mais rígidos, para que ela morasse com os pais dele com a moralidade imposta pela época, definiram pelo casamento. Casaram-se por procuração. Ele em Portugal, ela em Amambai. Um irmão dela foi procurador dele.

No início de 1970, ele teve que retornar ao Brasil por conta da enfermidade do pai que se agravara; mesmo correndo o risco de perder os anos de estudo. Chegou em 5 de janeiro.

E agora? Como retomar o estudo e garantir a conclusão do curso de Medicina. Difícil, muito difícil. As condições financeiras não ajudavam. Inusitadamente, ela envia uma carta a então primeira dama do Brasil, Iolanda da Costa e Silva, presidente da LBA – Legião Brasileira de Assistência, relatando a história de seu marido, a dificuldade de viabilizar o curso e pedindo uma vaga ou uma transferência em uma universidade. A resposta veio 15 dias depois. Foi lhe oportunizado o ingresso em uma universidade em Manaus, com meia bolsa de estudo. Ela se preparou para ir para lá, para viver sua vida de casada. Mas ele não quis, achou que seria inviável, que ficariam muito isolados.

Acabou indo para o estado de Espírito Santo, Vitória. Um conhecido que morou em Amambai e estava residindo no estado capixaba conseguiu para ele uma vaga no curso de Medicina. Ele foi no dia 3 de março. Ela ficou; novamente. Benigno Vasconcelos, pai dele, faleceu em 15 de março deste mesmo ano.

Chegando no Espírito Santo, percebeu o quanto seria difícil para ele; mais ainda para os dois, praticamente inviável. Enquanto isso, ela se preparou para finalizar seus trabalhos e garantir uma renda extra para a nova vida. Tão logo se liberou dos seus compromissos profissionais, ela foi para São Paulo. Quando chegou à casa do seu irmão, já tinha um telegrama esperando-a. “Não venha, impossível a vida a dois”. Eis a íntegra do telegrama.

Hoje, ela avalia que foi imaturidade deles. Pois ela sempre trabalhou, era independente financeiramente, poderiam ter construído uma vida no Espírito Santo. Mas não o fizeram. Encontraram-se em São Paulo. Conversaram. “O que mais você poderia fazer, estudar, além de ser médico?”, perguntou ela. E ele responde: “Nada, se eu não for médico, eu não vou ser nada na vida”. Resolveram separar-se. Afinal de contas, um futuro promissor estava em jogo. “Mais uma vez você está sendo grande, abrindo campo para que eu faça o que quero fazer na vida”, disse ele.

Ele concluiu o curso de Medicina. Casou-se. Teve filhos. Morou no Espírito Santo por muitos anos. Ela também se casou, igualmente teve filhos. Quis o destino que um amor assim tão digno fosse interrompido. De 1970 até 2006, muita água passou embaixo das pontes das vidas dos dois. Cada um seguiu seu curso.

E se o destino não é tão favorável assim às vezes, ele também pode ser esperançoso. E é neste momento que se pode acreditar no amor, crer que no fim tudo dá certo, porque quando se é do bem, a vida é boa.

Reencontraram-se em Amambai; quase 40 anos depois, exatos 38 anos. Ambos disponíveis. Maduros, claro. Cientes do legado justo da vida de viver e difundir. “O amor é muito mais profundo; eu achava que tinha esquecido, superado, mas nunca fui feliz (…) é como se tivesse tido um parênteses, passamos a viver bem, a adaptação foi super fácil, porque a afinidade era muito grande, amor é essa afinidade muito grande (…) onde um se preocupa com o outro (…) onde um quer ver a felicidade do outro”, confessa ele.

E a história de amor teve um final de feliz. Para alegria de todos os que acreditam no amor, que já viveram uma história de amor ou querem vivê-la. E se alguém tem dúvida se o amor tem vez ainda nos tempos atuais, eles não têm. “Sim, tem, mas as pessoas têm que evoluir, se preocupar com o sentimento, não com as coisas, com o ser e não com o ter”, reflete ela.

Confiança, respeito e não ter o sentimento de posse são fundamentais. Quem garante isso são os protagonistas desta história: Wilsonir Gomes Vasconcelos e Heloir Holsbach.

Wilsonir Gomes Vasconcelos e Heloir Holsbach.

Nem o tempo, mesmo que sejam 40 anos, apaga o amor

O casal quando jovem.

Dançar é um dos prazeres do casal, dançaram quando adolescentes, dançam hoje.

Na época do namoro.

Nem o tempo, mesmo que sejam 40 anos, apaga o amor

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