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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Má formação atrapalha técnicos brasileiros em grandes times da Europa

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29/04/2014 14h58 – Atualizado em 29/04/2014 14h58

Nomes renomados como Zico e Parreira apontam falhas na preparação dos profissionais do País

Fonte: Estadão

Nas últimas semanas, torcedores do mundo inteiro pararam para acompanhar o clássico entre Atlético de Madrid e Barcelona, pelas quartas de final da Liga dos Campeões. Se dentro de campo os brasileiros chamavam atenção por suas jogadas, fora dele, o embate entre os argentinos Diego Simeone e Tata Martino reforçou um problema do futebol cinco estrelas: a dificuldade de firmar treinadores do Brasil em grandes equipes europeias.

Nos últimos 10 anos, o País teve apenas três treinadores em clubes de ponta do velho continente. Vanderlei Luxemburgo foi técnico do Real Madrid em 2005, Luiz Felipe Scolari comandou o Chelsea na temporada 2008/2009 e Leonardo liderou o Milan e a Inter de Milão entre 2009 e 2011. Pouco para o País que é considerado o maior exportador de jogadores para Europa.

Mas o que acontece com os treinadores daqui? Seria um problema de idioma? Adaptação? Falta de conhecimento tático e técnico? Preconceito? O Estado conversou com brasileiros consagrados fora do País para entender a situação.

Para Leonardo, que, além de ter passado pelos clubes italianos, também foi dirigente no Paris Saint-Germain, o problema não é preconceito, mas sim uma questão cultural e geográfica. “Acho que nunca atribuíram ao treinador o mérito de um grande sucesso no nosso futebol. Isso está mudando, mas ficou no inconsciente das pessoas que quem ganhava no Brasil era sempre o futebol arte, natural, que nasceu na rua e que encantou o mundo. Culturalmente eles não vêm o treinador brasileiro como alguém que pode trazer uma estratégia e que quem ganhava era sempre o jogador com sua espontaneidade”.

O ex-jogador do São Paulo e da seleção elogia os brasileiros, mas ressalta a dificuldade de chegar nos grandes clubes. “Hoje nós temos treinadores do Brasil que, com certeza, poderiam trabalhar na Europa. Porém, existe uma distância geográfica. O centro do futebol é na Europa. Isso faz com que exista pouco conhecimento do trabalho dos treinadores brasileiros. Aqui chega muito pouco”, conclui.

Zico, que começou a construir sua carreira de técnico no Japão, onde é ídolo até hoje, segue o mesmo pensamento de Leonardo. “Lá (na Europa), principalmente na Itália, tem a mentalidade de que jogador brasileiro não precisa de treinador, que ele resolve sozinho. Já conversei com alguns treinadores italianos e eles têm esse pensamento”.

No entanto, o Galinho de Quintino não para por aí. Para ele, um dos principais problemas é a formação que os profissionais possuem (ou não) aqui no Brasil. “Eu acho que no Brasil não existem cursos para te dar uma grande preparação. Quando eu fui para lá, me questionavam sobre o diploma (exigido fora do País para exercer a função) da CBF. Eu tirei o meu no Japão, pelos serviços prestados por lá. Na Itália, por exemplo, você tem cursos que te dão uma preparação muito grande para se tornar treinador de futebol. Isso te prepara em todos os sentidos”, completa Zico, que ressalta ainda que a procura de treinadores do País é só por aqueles que passaram por seleção brasileira ou então que jogaram por lá.

Sebastião Lazaroni é um destes exemplos. Mesmo com o fracasso da seleção na Copa de 1990, ele foi contratado pela Fiorentina, então de Dunga e Batistuta. Para ele, se o futebol brasileiro fosse como os europeus pensam, apenas individualidade e improviso, ‘seríamos como a África’. Lazaroni, que trabalha no Catar desde 2009, reforça que as barreiras impostas pela Uefa também atrapalham os brasileiros. “Muitos países exigem cursos e isso é conflitante com nossa regulamentação”.

Falar sobre a formação e capacitação de técnicos de futebol não é novidade para Carlos Alberto Parreira, fundador e anfitrião do Footecon, um dos eventos mais importantes para a discussão do futebol no território nacional. Para ele, não há muita diferença na qualidade técnica, mas a preparação ainda faz a diferença. “Nós levamos uma desvantagem na formação. Lá eles são mais bem preparados, sem dúvida alguma. Cada federação tem seu curso. O cara parou de jogador futebol, ele tem que fazer um curso para virar técnico”.

Parreira conta que ele mesmo já sofreu com essa falta de preparo, foi quando assumiu o Valencia, da Espanha, após ser conquistar o tetracampeonato da Copa do Mundo com a seleção brasileira. “Aqui os caras brigam por um contrato de 4 ou 5 anos, porque são salários garantidos. Eu e o Moracy (Sant’anna, preparador físico), nós ‘brigamos’, porque eles queriam fazer um contrato longo e nós não, só fazíamos um ano. Eles não entenderam nada”, diz.

Aos poucos a situação começa a mudar no Brasil. Desde 2009, a Fifa recomenda que todos seus países filiados promovam cursos de capacitação para treinadores. No entanto, ainda não existe uma data oficial para que isso vire lei.

No Brasil, esta medida já foi adotada pela CBF, mas os profissionais só estão habilitados para atuarem no território nacional. “Está em discussão na Conmebol para que seja aprovada a licença continental, válida em todos os países da América do Sul. Quando isso acontecer, será feito um pleito para que a Europa aceite essa licença como da Uefa, ou que pelo menos exista uma prova de equivalência”, explica o coordenador de desenvolvimento técnico da CBF. Agora resta esperar para ver em quanto tempo teremos brasileiros brilhando também fora das quatro linhas do velho continente.

Má formação atrapalha técnicos brasileiros em grandes times da Europa

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