04/12/2011 08h20 – Atualizado em 04/12/2011 08h20
Fonte: Revista Oasis
Segundo a Bíblia, o Mar Morto é tão velho quanto a própria vida na Terra. Escondido no vale mais profundo do planeta, entre os territórios de Israel e da Jordânia, protegido por altas montanhas do deserto, esse imenso lago salgado é o mais importante acidente geográfico nessa terra tão rica de mistérios, milagres e mitos bíblicos. É preciso visitá-lo antes que seja tarde demais. Segundo os cálculos, dentro de três décadas a evaporação fará com que ele deixe de ser o Mar Morto para se transformar num mar seco.
“O Mar Morto tem sido um dos temas centrais da nossa civilização há mais de 10 mil anos”, diz Bruce Feiler, autor do bestseller Where God Was Born (Onde Deus nasceu). “Jericó, a mais antiga cidade da Terra, ficava às suas margens”.
No Gênesis, na narrativa sobre Sodoma e Gomorra, é Moisés quem relata como essa maravilha natural foi formada. Deus ordena a Lot e a sua família para fugir, sem olhar para trás. Mas a mulher de Lot não consegue obedecer à ordem e, quando ela se gira para contemplar o que estava acontecendo com sua cidade, transforma-se em estátua de sal. E assim nasceu o Mar Morto, segundo a Bíblia.
Hoje ainda, embora a ciência tenha encontrado outras explicações para sua origem, o Mar Morto continua a nos desafiar com seus mistérios. Pelo fato de se situar numa depressão tão baixa – 1.300 pés abaixo do nível do mar – ele é o que está mais perto de todos os minerais guardados nas profundezas do planeta. O sal é o mais visível desses produtos: ele se concentra nas suas margens formando ilhas, praias, barrancos e penínsulas brancas como a neve.
“O Mar Morto é dez vezes mais salgado do que o Mediterrâneo e três vezes mais salgado do que o Grande Lago Salgado de Utah”, diz o ambientalista israelense Gidon Bromberg, diretor da Ong Friends of The Earth Middle East (www.foeme.org/), uma organização que congrega ambientalistas da Jordânia, da Palestina e de Israel para a proteção do meio ambiente que essas três nacionalidades compartilham. Essa ONG, por sinal, também é muitas vezes apontada como um exemplo de como árabes, palestinos e judeus podem ser amigos e trabalhar juntos na construção do bem comum.
Ninguém consegue afundar no Mar Morto. Suas águas são tão saturadas de sal que fica difícil até mesmo tocar o leito marinho com os pés. Os turistas se divertem flutuando nele e melando o corpo com sua rica lama mineral que, segundo se diz, tem várias propriedades curativas.
Apesar da sua importância para o turismo, sua beleza cênica e seu valor histórico, o Mar Morto enfrenta um violento processo de evaporação.
“O Mar Morto está morrendo”, diz Bromberg. “Seu nível baixa cerca de um metro a cada ano”.
O Mar Morto depende da água doce que lhe é trazida pelo Rio Jordão, ao norte. Infelizmente, esse rio que outrora foi largo e pujante, hoje está reduzido a um mero riacho de águas esverdeadas e contaminadas pela poluição. À medida que a água salgada do mar desaparece, surgem nos fundais emersos grande buracos, os “skinholes”, que tornam o acesso difícil e perigoso em certas áreas.
Para salvar esse mar interior foi sugerida a abertura de um canal até o Mar Vermelho, de modo a trazer a água tão necessária. Bromberg, no entanto, afirma que essa não é uma boa ideia. “Somos muito céticos em relação a essa ideia, pois estaríamos misturando água marinha a essa composição mineral única que encontramos aqui no Mar Morto”, ele diz. “Isso provavelmente iria alterar a cor das águas para uma tonalidade marrom-avermelhada”. Para Bromberg, a melhor solução seria a revitalização do Rio Jordão, que é a fonte natural de reabastecimento do Mar Morto.
O Jordão perdeu a maior parte do seu volume nas últimas décadas. Suas águas são drenadas para a irrigação de fazendas. Israel tem muito orgulho do sucesso obtido com suas técnicas de agricultura num clima desértico, mas, segundo os especialistas, o uso da água para essa finalidade tornou-se insustentável.
Enquanto uma solução não vem, o mais bíblico de todos os mares continua a secar diante dos olhos espantados dos turistas.
O RIO JORDÃO
Com um único emissário importante (o rio Jordão) e um altíssimo índice de evaporação, o Mar Morto é uma das bacias mais salgadas do mundo: ele chega a ter 33,7% de salinidade, ou seja 8,6 vezes a do oceano.
Em poucas décadas, o Mar Morto perdeu milhares de metros cúbicos de água. O nível continuar a baixar de um metro a cada ano (hoje, seu nível de superfície está 424 metros abaixo do nível do mar) e a superfície está reduzida em cerca de 30% da área original. A causa? O bombeamento das águas do rio Jordão, para uso industrial e agrícola, por parte de Israel, Jordânia, Síria e Líbano.
SKINHOLES – VORAGENS NATURAIS
A prolongada extração de água do rio Jordão e do próprio Mar Morto também provocou o abaixamento do lençol aquífero salino velho de dez mil anos, ao redor da bacia. A água doce que chega através da chuva derrete o sal que impregna o terreno, que desse modo colapsa com facilidade.
Nos últimos anos formaram-se pelo menos 3 mil voragens (chamadas “skinholes”), quase todas na margem ocidental. Em alguns casos, esses colapsos do terreno arrastaram consigo automóveis e pessoas, o que levou as autoridades e fechar fábricas e plantações da região, bem como a proibir o desenvolvimento da infraestrutura turística em algumas regiões do litoral do Mar Morto.
Do Mar Morto extrai-se uma variada gama de minerais, dos quais os sais de potássio, o brometo e a soda cáustica são os principais. Alguns sais são usados pela indústria de cosméticos e a farmacêutica.
O Mar Morto é um das maiores atrações turísticas de Israel e da Jordânia. Visitantes de todo o mundo chegam em busca de suas água muito Salinas, fontes termais sulfurosas e um sol forte que não se esconde ao longo do ano todo. Embora não esteja tecnicamente morto, o Mar Morto está realmente morrendo, devido à evaporação de suas águas.






