09/08/2013 15h41 – Atualizado em 09/08/2013 15h41
Fonte: Rodrigo Costa de Souza / Da redação
Amambai (MS) – Nem todos têm a chance de comemorar o Dia dos Pais com seu pai. A ausência paternal é um problema grave que acontece, tanto em Amambai, como no Brasil e por todo o mundo.
No mês de agosto, as vitrines e a mídia em geral reproduzem campanhas com filhos junto aos pais, colocando o pai como herói, mostrando uma figura de carinho, escondendo um dos verdadeiros dramas que muitos filhos enfrentam de não possuir um pai presente ou um pai que não o reconheceu desde o seu nascimento.
Estas pessoas convivem com o drama diário da ausência da figura paterna, esta ausência que pode causar muito problemas na vida dos filhos, sendo estes problemas, tanto físicos, quanto psicológicos.
Veja abaixo algumas matéias sobre o assunto
Em Amambai, 1.700 registros de nascimento sem o nome do pai
Com a realização do Censo Escolar de 2009, pelo MEC (Ministério da Educação), foi possível identificar no Brasil 4.869.363 alunos para os quais não existe informação sobre o nome do pai; destes, 3.853.972 eram menores de 18 anos.
Na comarca de Amambai, que abrange este município e Cel. Sapucaia, foram identificados pelo Censo cerca de 1.700 registros de nascimento onde constam apenas os nomes das mães.
Além do problema da falta de reconhecimento de paternidade, outros ocorrem, como a ausência paternal após separação de casais e a construção de outra família.
Este drama geralmente se agrava sempre nesta época do ano, principalmente com crianças e adolescentes, quando geralmente, em suas escolas, ocorrem eventos ou em aulas de Artes quando são confeccionadas lembrancinhas para presentear os pais.
A representação da figura paterna é fundamental na formação, no desenvolvimento e construção moral, social, emocional e psicológica da criança.
Opinião de profissional
A profissional de psicologia, Danna Maira Dresh, explica como a ausência do pai pode ser prejudicial na formação dos filhos.
Em resposta sobre a ausência do pai, ela fala que isso pode ocasionar traumas que precisam ser tratados com muita atenção, carinho e muita conversa e que é sempre bom, diante estas situações, buscar ajuda de profissionais.
Algumas vezes, observa-se a sociedade rotulando filhos de pais separados ou de mães solteiras como “problemáticos”. Segundo ela, isso é uma tendência que deve ser evitada.
Danna esclarece que tudo varia de pessoa para pessoa e cada uma reagirá de uma forma à esta situação da separação e da ausência paterna.
A psicóloga ainda diz que quando a ausência ocorre desde o nascimento da criança é importante não falar mentiras sobre a existência do pai. Sempre falar a verdade de forma com que a criança entenda que o pai tem outra família, para que quando a mesma crescer, não acabe descobrindo a existência do pai e se sinta enganada pela mãe, acarretando assim, mais problemas.
Nestes casos, pode ocorrer que a criança transmita esta figura materna à um avô ou tio, podendo até chamá-lo de pai.
O meu pai me reconheceu, porém é ausente
Este drama é o que a jovem J.L vive desde seu nascimento. Seu pai apenas a reconheceu, mas após isto não manteve contato. A jovem recebeu todo carinho, amor e presença material de sua mãe.
“Durante minha infância e adolescência, para mim, era normal viver com a ausência do meu pai, mas com o passar do tempo, agora que estou mais madura, eu sinto mais falta do meu pai, principalmente quando vejo minhas amigas elogiando seus pais e falando coisas legais sobre eles”.
“Eu percebi que sentia falta do meu pai em uma época que eu andava chorando muito e minha mãe me levou à uma psicóloga, foi lá que eu descobri o impacto que a ausência do meu pai causa em mim”.
A jovem diz que sabe que seu pai vive na cidade e tem outra família. Ela conta que só conviveu com seu pai por um curto período quando tinha 14 anos, mas, após isto, não falou mais com ele e diz que o problema é a sua timidez que a impede de ir procurá-lo.
Separação de casais
Quando ocorre uma separação entre um casal com um filho já de certa idade, é necessário um cuidado especial e acompanhamento psicológico, pois a criança já esta acostumada com a figura do pai.
É importante que, durante o processo de separação, o casal evite discutir ou chorar na frente da criança ou adolescente, para não acontecer de a criança relacionar a culpa daquilo em um dos dois. É importante também sempre conversar com ela, dizendo que o pai não vai abandoná-la, que ele sempre estará junto dela para que ela se sinta confortável.
É importante que o pai não demore em ver a criança, que não se distancie dela e que sempre esteja ligando, conversando com ela e dizendo que a ama, pois a criança, até os dez anos, tem que se sentir segura.
Esta orientação evita problemas futuros, como o da adolescente japonesa M.N, de 15 anos, que não vê o pai há dez anos, desde que ele se separou de sua mãe, passando a sua guarda aos avós no Brasil. A menina conta como foi este momento em sua vida:
“Separei-me do meu pai muito cedo e foi um pouco difícil conviver com a ausência dele, devido minha pouca idade não entendia algumas coisas e o porquê isto havia acontecido, só soube com o passar do tempo, que foi quando minha avó me contou dizendo que meu pai não tinha condições de cuidar de mim e minhas irmãs, e que ele havia se separado de minha mãe. No início, não sofri muito, porém, com passar dos anos, comecei a sentir a falta dele, mas já me acostumei um pouco com sua ausência. Não moro com ele já faz mais ou menos dez anos, quando ele passou a minha guarda aos meus avós e vim morar com eles no Brasil. Graças à internet, hoje posso vê-lo pelo recurso da webcam sempre que a gente pode, mas não é como pessoalmente. Considero meu avô como meu segundo pai, devido a ele ter me cuidado como uma filha e agradeço muito a ele por isso.”
O papel da escola
A psicóloga Danna Maira Dresh conta ainda que geralmente a criança não conta o que está acontecendo, e demonstra através de atitudes. É possível notar que esta situação está mexendo com a criança quando ela fica violenta, começa a ter dificuldades na escola, cala-se e retrai-se.
Neste momento, é importante a participação da escola, que, ao observar estas atitudes, deve comunicar os pais e conversar com eles, aconselhando-os a buscarem ajuda para criança, porém, em momento algum, a criança deve ser tratada diferente das demais para que ela não se sinta mal e piore a situação.
Então, cabe às mães, que estão com a guarda da criança, tratarem-na com amor e carinho e sempre dialogando.
No momento em que existe a construção de outra família, é importante que o pai não esqueça que tem outro filho em outro casamento e não comece a tratá-lo com indiferença, pois ele não tem culpa da separação e precisa da presença do pai.
O trabalho que Danna realiza com as crianças, para elas superarem este momento, é o de acompanhamento com brincadeiras para a criança se expressar.
Mães com dupla função
A adolescente Michaella Berwanger conta sobre a ausência de seu pai durante sua vida e como foi para ela como adolescente ter de viver longe dele:
“Meu pai sempre foi uma figura ausente, por conta do trabalho, estava sempre viajando ou na fazenda, e eu cresci sem criar quaisquer laços afetivos com ele. Depois da separação, nada mudou, foi até mais confortável pra mim, pois não tínhamos uma relação muito agradável”.
“Neste dia dos pais, quero parabenizar a minha mãe e agradecer por todo o imenso carinho que ela tem por mim, pois foi ela quem acabou desempenhando o papel de pai e cuidando de m
im durante todo esse tempo”.
Os adolescentes não gostam de mudanças, então, para eles, este período é difícil, eles custam aceitar ter de mudar de casa, quarto e perder sua rotina, amigos e família.
Neste tempo de ausência paterna, é onde se deve se ter muita conversa. Essa falta prejudica muito no desenvolvimento de um adolescente, principalmente para o menino, pois esta é a fase de “paqueras” e descobertas, onde eles precisam do apoio e conselhos do pai.
A psicóloga orienta os pais e mães a terem muita calma neste momento, conversar com os filhos, darem conselhos, explicarem a situação e procurarem saber a opinião deles sobre o assunto.
Ela também diz que, neste momento, assim como na infância, é delicado, só que os adolescentes já são compreensíveis e é mais fácil lidar com eles, mas mesmo assim é necessário buscar ajuda de um profissional.
Neste Dia dos Pais, os pais de todo mundo devem refletir a importância que eles têm sobre os filhos e receber e dar amor. Se você está ausente na vida seu filho, reflita o como eles precisam de sua presença.






