23/06/2014 13h14 – Atualizado em 23/06/2014 13h14
Fonte: FIFA
Ele é um homem calmo, de gestos calculados e decisões refletidas. O técnico da Costa do Marfim, Sabri Lamouchi, se parece bastante com o jogador que um dia foi. Trabalhador incansável, o ex-volante francês de 42 anos passou por clubes como Auxerre, Inter de Milão e Olympique de Marselha, além de ter disputado 18 partidas pela França. Dentro de campo, sempre fazia as escolhas certas. Agora à beira do gramado, não perdeu o hábito.
“Estamos tentando encontrar o nosso próprio estilo”, analisa Lamouchi em entrevista à FIFA. “Faz dois anos que estamos trabalhando juntos, construindo esse grupo. Aprendemos a nos conhecer e queremos imprimir a nossa marca dentro de campo.” Ele, em todo caso, já conseguiu imprimir a sua numa seleção marfinense na qual convivem iniciantes talentosos e craques tarimbados. Em suma, um grupo com a sua cara, que mescla juventude e a sabedoria que vem com a maturidade.
Se gerou dúvidas quando assumiu o comando da Costa do Marfim, em maio de 2012, Lamouchi os dissipou à medida que avançou na sua missão. Logo na sua primeira experiência como treinador, o ex-jogador de ascendência tunisiana nascido em Lyon está a uma vitória de classificar os Elefantes às oitavas de final da Copa do Mundo da FIFA pela primeira vez na história — uma estreia de sucesso ditada por decisões corajosas: o treinador abriu mão de Didier Drogba e Kolo Touré, por exemplo, e deu mais espaço para jovens como Serge Aurier, uma das revelações do Brasil 2014.
De fato, as atuações marfinenses no Grupo C dão razão a Lamouchi. Brilhantes na abertura da campanha com a vitória de 2 a 1 sobre o Japão, os africanos fizeram uma apresentação cheia de personalidade que merecia mais que uma derrota diante da Colômbia, também por 2 a 1. “Adorei o desempenho da minha equipe nessa partida e acho que podemos ver grandes vitórias na derrota, e vice-versa”, diz o técnico. “Se jogarmos assim, não deveríamos perder tantos jogos. Além disso, os adversários nem sempre terão a qualidade da Colômbia”, acrescenta.
Um luto e um desafio
O próximo adversário, justamente, será uma Grécia que exibe um ponto e nenhum gol marcado na competição. Mas, como sempre, a prudência se impõe. “Nada de empolgação”, afirma Lamouchi. “Estamos concentrados nesse confronto. Sabemos que uma vitória nos fará ficar na história do futebol marfinense, o que seria uma grande realização. Os jogadores têm consciência disso, portanto seria inútil tentar pressioná-los ainda mais. Não se pode esquecer que a Costa do Marfim só disputou oito partidas em Copas do Mundo, o que não é muito. Essa classificação não tem nada de certo. Precisamos conquistá-la dentro de campo contra uma equipe grega que possui um bloco defensivo bastante sólido. Sabemos disso, então precisamos nos preparar de acordo.”
É aí que mora o problema. Logo após a partida contra a Colômbia, a delegação marfinense recebeu a trágica notícia da morte de Oyala Ibrahim Touré, o irmão caçula de Kolo e Yaya, aos 28 anos de idade. Diante desse drama, a preparação para um jogo de Copa do Mundo vira futilidade. “É difícil falar de futebol quando se recebe uma notícia dessas, parece até uma indecência”, confia Lamouchi.
“As sessões de treinamento foram mais curtas que o normal”, prossegue. “Yaya e Kolo viveram uma verdadeira tragédia. Estamos ao lado deles e de toda a família. Eles optaram por ficar conosco. Foi uma decisão crucial e difícil. Quanto a mim, quando falo na próxima partida, tento ser o mais profissional possível. Eu me dirijo aos homens que eles são. Eles tomaram uma decisão extremamente difícil e eu agradeço a eles por sua coragem.”
Naturalmente, o duelo desta terça-feira em Fortaleza terá um sabor especial para os irmãos Touré e para toda a família formada pelos Elefantes. “O grupo está ao lado deles. Com essa escolha, acho que Yaya e Kolo também quiseram nos mostrar que estão do nosso”, conclui Lamouchi, com sabedoria na voz e na via do sucesso.
