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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Sobre cachorros e políticos, ou ainda: A falácia e o oportunismo

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14/09/2015 07h00 – Atualizado em 14/09/2015 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

Cachorro é um ser interessante. Vive em torno da gente, vive com a gente, vive como a gente. Porém não é gente! É, em muitos casos, mais amoroso e cuidadoso conosco do que que muita gente. Sempre os tive, ou eles me tiveram, não sei dizer direito. Ao todo foram uns sete que moraram comigo e que ainda moram em mim. Aprendi que uma pessoa que não gosta de cachorro (ou de algum animal) provavelmente não gosta de gente também. Nunca entendi a música do Waldick Soriano quando dizia “Eu não sou cachorro, não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro, não, para ser tão desprezado”. Nunca meus cães foram humilhados ou desprezados. São seres amados e cuidados, como cachorros. Nunca confundi meus cachorros com criança, ou com filho. No máximo são filhotes, que adotei e cuido. Amo-os. E recebe muito amor de volta.

Quando volto das minhas aulas, a noite, cansado de mais um turno de trabalho, sou sempre recebido com muito latido, pulo nas pernas e gritos pelos dois. Imagino que acordo toda a vizinhança com o barulho. Mas como me sinto amado ao entrar no quintal e, mesmo cansado, parar para brincar com os dois. Os meus atuais são o Prince, de um ano e setes meses, cachorro de porte pequeno, preto com manchas brancas e vermelhas, de uma carência constante, adora um colo e um carinho na barriga, não pode ver uma cadeira vazia, que ocupa; e o Pingo, de 3 meses, cachorro de porte ainda indefinido (já é maior que o Prince), branco com machas marrons, inquieto e bravo, adora morder um pé (seja o meu ou o da mesa) e é louco para subir no sofá (até hoje impedi).

O mais legal é ver os dois, tão diferentes e tão semelhantes, dividindo a casa, o prato (mesmo que o Pingo fique rosnando) e as bolas que brincam. Passam o dia se divertindo e divertindo a gente. É a ocupação da casa. Distraem a mente e ocupam o coração. Como meus pais são idosos e, em graus variados, enfermos, ter cachorro em casa mostrou-se uma terapia funcional incrível. Eles passam o tempo todo brincando. Aqui em casa também tem uma gata. Mas gato é bicho diferente, autônomo, independente, frio. Nem por isso menos cuidada pela minha mãe (a gata é dela, e o nome é só gata mesmo).

Calma, amigos e amigas, não chamarem nesse texto (nem nunca chamei) nenhum político de cachorro. Se bem que se eu chamar não será ofensa, afinal amo meus cachorros. Amo e cuido deles, e eles me amam e me cuidam de volta. É muito fácil ocupar a atenção dos meus cães. Com gente é diferente. Gente é ser de interesse, de vontade, de desejo e de intenções, umas ditas e outras ocultas. Para meus cães, basta água fresca, ração de qualidade, um abrigo e muito carinho e atenção. Para pessoas nunca nada basta, sempre querem mais.

Durante esse ano e nove meses que moro, de volta, em Amambai, tentei descobrir na internet qual o salário dos vereadores, prefeitos, vice e secretários municipais. Afinal, com a lei da transparência em vigor, isso deveria ser acessível e fácil de achar. Não achei. Talvez por incompetência minha. Essa semana a imprensa divulgou. Nada exorbitante. Mas bem fora dos padrões do nível de vida da maioria da população amambaiense. Quando começou a onda de propor projetos de redução salarial dos cargos públicos nos municípios (se não em engano o primeiro noticiado foi no vizinho Paraná) imaginei “quando essa moda chegará aqui?”. Achei louvável a iniciativa, mas, pasmem, sempre para a próxima legislatura! Como assim? Eu sigo recebendo meus R$ 6.000,00, mais a verba de gabinete (coisa que aliás nunca entendi, e olha que eu me considero um cara de inteligência mediana, entendo coisas até com facilidade) e deixo para quem vier assumir o lugar na próxima gestão um salário bem menor. Tem alguma lógica isso?

Sou totalmente favorável à redução salarial dos vereadores. Eles não são servidores públicos efetivos nesse cargo e sua maioria continua exercendo sua antiga ocupação, que imagino siga remunerando-os. Isso levando em conta o tempo trabalhado por semana. Não concordo com a redução do salário do prefeito e nem dos secretários, afinal eles trabalham em tempo integral (pelo menos os que conheço) e não conseguem exercer outra atividade que lhes dê renda. Já o vice prefeito para mim não deveria ter salário, a menos que ocupe uma secretaria, afinal, vice é aquele que não é, que espera a possibilidade de um dia vir a ser. Alguém lembra do vice-campeão do brasileirão 2014?

Nessa segunda (14/09 – meu aniversário) estará em discussão a pauta de redução salarial em Amambai dos cargos do executivo e legislativo municipal. Para dar meus pitacos, proponho:

  1. Redução imediata dos salários dos vereadores. Que passem a receber o piso nacional do magistério para exercício de 20h trabalhadas. Afinal se nós professores, que formamos e, hoje educamos, a geração vindoura podemos sobreviver com esse salário, eles também podem. Assim pode ser que os professores passem a ganhar mais, ou que só pessoas com vontade de ajudar a cidade se candidatem;

  2. Dirão que pelo artigo 29 da nossa Constituição não é possível definir isso para essa legislatura. Sobre isso preciso ver o parecer do procurador jurídico do município ou do Ministério Público Estadual. Se de fato não for possível, que todos os vereadores em exercício doem o montante superior aos piso nacional para a educação e a saúde do município. Doação nunca é ilegal e pode ainda ser deduzida do imposto de renda devido.

  3. Redução do número de vereadores para 9. Afinal na Constituição Federal fala em número máximo, mas não em mínimo. Então, que tal adequar nossa câmara a realidade orçamentária do município? Afinal, segundo a mídia, estamos em crise.

  4. Que as sessões da Câmara sejam realizadas a noite, em pelos menos 3 dias da semana, para que as pessoas que trabalham possam participar.

  5. Que os vereadores, ao receberem por 20h trabalhadas, sejam obrigados a cumprir as 20h na Câmara. Afinal, se eu não cumprir as minhas horas onde leciono, não recebo. Livro ponto ou cartão de ponto seria legal.

Acredito que, com um salário de professor é possível manter um casa e alimentar os cachorros. Eu o faço há muito tempo. E meus cachorros são extremamente saudáveis e bem alimentados. Minha família também. E, caso a proposta seja recusada, tanto de redução agora como no futuro, que lembremos disso em 2016. Lembremos da frase de Eça de Queiroz: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo”. Não deixemos que a falácia seja nosso norte, nem que o oportunismo de uns sejam a marca desse momento.

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador.

Sobre cachorros e políticos, ou ainda: A falácia e o oportunismo

Prince. /  Foto: Luiz Peixoto

Pingo. / Foto: Luiz Peixoto

A Gata. / Foto: Luiz Peixoto

Sobre cachorros e políticos, ou ainda: A falácia e o oportunismo

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