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sexta-feira, 29 de março de 2024

De tapas a braço cortado com serrote, mulheres sofrem diariamente em Amambai

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26/08/2021 09h04

De tapas, empurrões e chutes a braço cortado com serrote, mulheres são agredidas com frequência em Amambai

De 1º de janeiro a 20 de agosto, 136 mulheres procuraram a Polícia para denunciar seus agressores.

Fonte: Patrícia Dapper – Redação

Amambai (MS)- Entre 1º de janeiro e 20 de agosto de 2021, 136 mulheres amambaienses procuraram a Polícia para denunciar serem vítimas de violência doméstica. Contudo, elas não são só um número, uma estatística. Foram 136 vidas marcadas para sempre, traumatizadas e que precisam conviver diariamente com o medo porque ele nunca vai embora.

Esses dados foram obtidos por meio de uma consulta ao Sistema Integrado de Gestão Operacional (SIGO), em que jornalistas têm acesso às ocorrências. Durante essa consulta foi possível notar que a violência doméstica em Amambai atinge mulheres de todas as idades, desde adolescentes até às mais idosas. Em um dos casos registrados, a vítima tinha 72 anos. A violência doméstica atinge também todas as classes sociais e está presente em todas as regiões da cidade, incluindo aldeias e área rural.

Outro fator que choca é saber as motivações torpes e fúteis que alegam os agressores. Em um dos casos, uma jovem de 19 anos apanhou porque se negou a manter relações sexuais com o marido. Em outro caso, um homem de 38 anos usou um serrote para cortar o braço da esposa, de 29 anos; ela foi socorrida e levada às pressas para o Hospital Regional de Amambai. Uns mostram-se ainda mais covardes ao dar de cara com os policiais e afirmam não se lembrarem de ter cometido as agressões porque estariam bêbados.

São dados alarmantes e que se tornam ainda mais assustadores, sabe por quê? Elas não foram as únicas. Outras dezenas de meninas e mulheres foram violentadas e não denunciaram seus agressores. Talvez por medo, por dependência emocional, financeira ou ainda porque não têm conhecimento da rede de apoio que está ali para acolhê-las.

“Algumas mulheres ainda têm medo de buscar ajuda ou não têm conhecimento de que podem estar sofrendo violência doméstica, pois elas podem começar a acontecer de forma sutil”, explicou a gestora da Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres (CPPM), Priscila Judice Lemes.

Uma moradora de Amambai e estudante de licenciatura na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que prefere não expor seu nome, contou à nossa reportagem que durante toda a infância presenciou sua mãe sendo agredida. Segundo ela, a matriarca nunca teve coragem de denunciar.

“Ela tinha medo de denunciar o meu pai por vários motivos. Na época, ele dizia que homem que batia em mulher não ficava muito tempo preso e quando ele saísse da cadeia ele a mataria. Além disso, como ela trabalhava de doméstica e eu era ainda muito pequena, ela tinha medo de sair de casa e não conseguir suprir as minhas necessidades”, contou a estudante.

O ciclo da violência

De acordo com a gestora da CPPM, a violência doméstica pode ser separada em cinco tipos: violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. E pode ser compreendida em um ciclo.

“O ciclo da violência começa de forma mais branda, com xingamentos, pequenas ofensas e vai aumentando a tensão até que ocorre uma agressão física. Após essa explosão, vem a fase do arrependimento, em que o agressor pede perdão e diz que vai melhorar”, explicou Priscila. E completou: “Este ciclo tende a se repetir infinitas vezes”.

A estudante que presenciou a mãe sendo agredida concorda com a gestora e disse que presenciou diversos tipos de violência dentro de casa.

“Eu carrego as marcas da violência dentro de mim. Sou filha de uma mulher que era agredida rotineiramente pelo marido, que por sinal é meu pai. Eu, quando criança, via aquelas agressões, tentava entrar na frente para defender a minha mãe e acabava apanhando junto. Eram empurrões, chutes, apertões contra a parede. (…) Ele chegava bêbado, gritava, xingava, quebrava os móveis, tirava tudo que tinha dentro da geladeira e jogava no chão e eu e minha mãe tínhamos que guardar novamente, ficando apenas esperando os próximos chutes”, lembrou.

A rede de apoio

A gestora da CPPM destacou que é importante que a mulher tenha coragem de romper este ciclo de violência, lembrando que ela não está sozinha.

Em Amambai, a rede de apoio à mulher vítima de violência doméstica é composta pelas polícias Civil e Militar, Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres, Defensoria Pública, promotorias, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Assistência Social e apoio psicológico por meio do Sistema Único de Saúde.

“A rede funciona quando a vítima busca ajuda pelo 190 ou diretamente pela coordenadoria, além disso, quando recebemos uma denúncia aqui na CPPM, damos início aos atendimentos conforme a necessidade da vítima”, explicou Priscila.

Priscila ainda destaca que o conhecimento é a maior arma que meninas e mulheres detêm para poderem se libertar do ciclo da violência e identificar logo de cara que estão inseridas em um ambiente opressor.

“A educação ainda é a melhor arma que dispomos para tirar a nossa sociedade dessa situação machista. Devemos ensinar as meninas a se valorizarem, terem autoestima, respeito a si e ao próximo, bem como a reconhecer situações desagradáveis e sair delas; aos meninos, devemos ensinar o respeito, o amor mútuo e que a violência não é a solução para os conflitos. As políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher devem ser ensinadas desde tenra idade, a todos os sexos”, finalizou a gestora da CPPM.

Foto Ilustrativa

Foto Ilustrativa

Priscila Judice Lemes é a gestora da CPPM / Foto: Reprodução

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