14/10/2021 08h35
Fonte: Patrícia Dapper – Da Redação; colaboração Cassiana Melissa e Thaysa Tobias
Amambai (MS)- Um dos pensadores da educação brasileira, Paulo Freire, certa vez disse que é impossível falar de educação sem se falar de amor. Esse sentimento está ainda mais latente e visivel neste ano, em especial, neste 15 de outubro, dia em que celebra-se o Dia do Professor.
Depois de quase dois anos de aulas remotas motivadas pela pandemia de Covid-19, onde o olhar nos olhos e o afago não puderam estar presentes durante as ministrações de conteúdo, o encontro entre professor e alunos finalmente aconteceu e é um motivo a mais para comemorar o dia 15 de outubro.
As aulas presenciais retornaram gradativamente e agora, mesmo com todas as dificuldades que existem, como ainda o distanciamento social, o trabalho para a recuperação do aproveitamento escolar, que segundo especialistas, foi mínimo durante a pandemia, os professores buscam (e encontram) a força que precisam para superar tudo isso, dentro do coração que escolheu fazer do seu dom de ensinar, a sua profissão e no olhar curioso de cada aluno.
Diante disso, pedimos para duas professoras falarem sobre a educação em meio a pandemia e o retorno tão esperado às salas de aula, ao “chão da escola”, como muitos educadores dizem. Afinal, quem melhor que um professor para falar do professor?
Uma delas é a diretora da escola estadual Fernando Correa da Costa, a professora Cassiana Melissa da Rosa Oliveira. Estando há 28 anos atuando na área da educação, a educadora tem graduação em Pedagogia e foi concluinte nos cursos de Letras e História. Além disso, é especialista em Interdisciplinariedade na Escola, Metodologia do Ensino Superior e Gestão Escolar.
Ela conta que muitas mudanças têm acontecido na escola e que este retorno das aulas presenciais tem um friozinho a mais na barriga para os educadores da escola Fernando, em especial, porque a instituição agora oferece o Ensino Integral.
A segunda professora é a jovem Thaysa Tobias, da escola estadual Vespasiano Martins. Graduada em Português e Inglês e suas respectivas literaturas, Thaysa já ostenta um currículo forte e que incluí, entre pós-graduação, certificados de proficiência de Inglês como Língua Estrangeira (Toefl) reconhecidos internacionalmente a até mesmo participação na elaboração de um livro didático de Língua Inglesa por meio de uma parceria do programa Skills for Prosperity, do Reino Unido em parceria com a Editora Nova Escola e cinco estados brasileiros.
Ela fala que por conta da pandemia, muitos professores recém-graduados não tiveram a chance de exercer sua profissão do modo tradicional e presencialmente e, que por conta disso, o retorno às salas de aula neste momento proporciona a esses educadores um momento único em suas vidas.
Confira abaixo o que ambas professores escreveram:
O último biênio certamente ficará para a história…
Começou nos trazendo inúmeros desafios: muitas mudanças na rotina da escola. No mês de março do ano de 2020, surpreendentemente, nos deparamos com a suspensão das aulas e com a necessidade de nos adequar a uma realidade muito diferente, onde o toque, o afeto, o olhar e a expressão facial foram substituídos pelo distanciamento e pelo uso de máscaras; onde a utilização dos recursos tecnológicos mostrou-se o único caminho possível e às vezes “impossível”, onde em alguns casos atividades impressas foram a única opção.
E a angústia prosseguiu…
A suspensão das aulas foi prorrogada e continuamos nos reinventando, mesmo a contragosto, pois nenhum de nós escolheu passar por isso. Foram férias antecipadas, sala de aula virtual, atividades remotas vinculantes e outros termos que não constavam do nosso vocabulário corriqueiro, gerando obrigatoriamente a necessidade de adaptação. Todos estávamos ansiosos pela volta à normalidade, mas insistentemente nos deparamos com o termo “novo normal”, o que continua gerando incertezas, embora a escola, com a atitude responsável dos funcionários, dos estudantes e de suas famílias, mostrou ser um local seguro.
Foi emocionante ver a alegria estampada nos olhos dos estudantes no seu retorno à escola, sensação indescritível, mesmo receosos com possíveis riscos, foi um recomeço responsável e acolhedor. E nosso Ensino Médio em Tempo Integral, que “nasceu” num momento tão delicado, tornou-se “a menina dos olhos da escola”, com todos os esforços voltados à sua implantação, com vistas ao seu sucesso.
Mas hoje, todos os olhares voltam-se aos PROFESSORES, pelo seu dia. Mestres que, heroicamente, driblaram todas as dificuldades, que muitas vezes foram apontados por estarem recebendo sem trabalhar, mesmo tendo transformado seus lares em sala de aula e seus celulares e computadores em lousas, doando-se exaustivamente muito além da sua carga horária, sem perder o foco, a persistência e a esperança em dias melhores. E os desafios estão só começando, pois agora os nossos guerreiros precisarão amenizar as disparidades impostas pela pandemia, onde pedagogicamente falando, lacunas tornaram-se evidentes, entrando a missão da recomposição da aprendizagem.
A sociedade precisa reconhecer o valor da docência, pois é a base de todas as profissões. Parabéns a você, Professor, que faz a Educação acontecer com tamanha sensibilidade e resiliência!
Quando uma pessoa decide exercer a missão de ser um professor, imediatamente se imagina em uma sala de aula, rodeada de estudantes sedentos por aprendizado, realizando diversas atividades interativas e propocionado variados mecanismos para que a construção do conhecimento se suceda. Porém, por um período de quase dois anos, tivemos essa idealização contida devido à pandemia. Muitos professores recém graduados sequer tiveram a opotunidade de exercer sua atividade de maneira presencial, não conhecendo o processo de aprendizagem através do contato mútuo entre professor e estudante.
Recentemente, com o retorno às aulas presenciais, pudemos perceber diversas situações e sentimentos em torno da comunidade escolar. Jovens professores que tiveram suas primeiras experiências em sala de aula; professores mais experientes podendo voltar com suas atividades habituais; opiniões divididas entre a comunidade escolar acerca da segurança, medos e ansiedades. Um misto de sentimentos variados. Mas uma coisa é certa: o retorno às aulas nos sensibilizou e permitiu que percebêssemos o quanto os estudantes, e até mesmo professores, necessitavam da vivência social, afeto, troca de ideias e opiniões.
Neste primeiro momento de contato presencial, os professores puderam perceber que a defasagem acadêmica dos estudantes não se compara com a carência emocional que muitos jovens apresentaram. Cada integrante da comunidade escolar teve sua própria experiência no período que se passou, e muitos, tiveram o rumo de suas histórias alterado de forma inesperada. Digerir estas situações requer foco, esperança e força, habilidades essas que, muitas vezes, não são encontradas sozinhas. Podemos perceber que a importância da escola vai além de seus muros e da construção de conhecimentos dos estudantes que ali frequentam, ela faz parte da formação cidadã de seu corpo discente.
Dado o exposto, estamos engajados em proporcionar aos estudantes um espaço agradável para que a aprendizagem aconteça, onde eles possam se sentir livres para expressarem suas opiniões, dividirem suas vivências, e protagonizarem seu conhecimento. As emoções fazem parte do nosso cotidiano e não devem ser desconsideradas na sala de aula; pelo contrário, através dela, os estudantes poderão significar os objetos de conhecimento a seu favor, o que o poderá ajudá-los a vencerem diversos obstáculos ao longo da vida.



