O envelhecimento populacional é uma realidade global e brasileira, trazendo consigo a necessidade urgente de olhar com atenção às questões que afetam diretamente a qualidade de vida dos idosos. Nesse contexto, surge a campanha Junho Prata, uma iniciativa de extrema importância que dedica o sexto mês do ano à conscientização e ao combate a todas as formas de violência contra essa parcela tão significativa da sociedade.

“Mais do que um simples marco no calendário, o Junho Prata é um chamado à ação, um convite para que todos, Poder Público, sociedade civil e cada cidadão, reflitam sobre o respeito, o cuidado e a dignidade que devemos assegurar aos nossos idosos”, afirmou o deputado Renato Câmara (MDB), criador da campanha instituída pela Lei 5.215 de 2018 e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa.
A violência contra a pessoa idosa é um problema complexo e muitas vezes silencioso, manifestando-se de diversas formas: física, psicológica, financeira, patrimonial, sexual, por negligência ou abandono. Frequentemente, ocorre no ambiente doméstico, perpetrada por pessoas próximas, o que torna a identificação e a denúncia ainda mais difíceis.
A campanha Junho Prata busca justamente romper essa barreira do silêncio. Em Mato Grosso do Sul, anualmente, é realizada uma programação diversificada, com palestras, exposições, atividades culturais e campanhas informativas. “O objetivo é disseminar informação, sensibilizar a população e fortalecer a rede de proteção e atendimento à pessoa idosa, mostrando que existem canais de denúncia e apoio disponíveis”, destacou Câmara.
O silêncio dos idosos
Dona Helena sempre foi sinônimo de cuidado. Aos 70 anos, dedicou boa parte da vida a fornecer assistência física, emocional e social para quem mais precisa: os idosos. Como cuidadora, ela tratava cada paciente como se fosse um membro da sua própria família — com carinho, paciência e dignidade.
Já aposentada, dona Helena, que sempre protegeu e acolheu, se tornou vítima de algo que nunca imaginou: a violência dentro da própria casa. Foi o filho, o mesmo que ela criou com sacrifícios, a agrediu. Um tapa, empurrões, gritos e humilhações. Por vergonha, medo e amor de mãe, ela não o denunciou.
Dona Fátima é pensionista e sente orgulho em ter a própria casa, com um jardim florido. Aos 78 anos, a viuvez por vezes traz uma sombra de solidão, mas ela se mantém ativa, frequentando o grupo da terceira idade da igreja. Um sobrinho distante começou a visitá-la com mais frequência, ajudando com pequenas compras e pagando algumas contas.
Contudo, Dona Fátima começou a notar que seu dinheiro parecia acabar mais rápido do que o normal. Os extratos bancários mostravam saques ou transferências que ela não havia autorizado. O sobrinho tinha sempre uma explicação, culpando taxas ou o aumento dos preços. O incômodo, a desconfiança e o medo ficaram crescentes.
As histórias de Helena e Fátima, embora individuais, expõem uma dor coletiva — a da violência que, na maioria das vezes, acontece entre quatro paredes, longe dos olhos do mundo. O Junho Prata surge como um farol de esperança e conscientização, iluminando o que por muito tempo foi mantido na sombra. Mais do que uma campanha, é um chamado à responsabilidade coletiva: proteger, respeitar e cuidar da população idosa.
Panorama da população idosa
Segundo o Censo Demográfico 2022, a população com 65 anos ou mais atingiu 22.169.101 pessoas, representando 10,9% do total da população brasileira. Este número representa um aumento de 57,4% em relação ao Censo de 2010. Em Mato Grosso do Sul, os dados indicaram que há 43,6 idosos para cada 100 crianças, um aumento significativo no envelhecimento relativo da população.
Os dados sobre violência contra a pessoa idosa são alarmantes e indicam um problema social grave que necessita de atenção contínua. O Disque 100 registrou mais de 657,2 mil denúncias de violações de direitos humanos em 2024, um aumento de 22,6% em relação a 2023. Desse total, os casos envolvendo idosos foram significativos, totalizando 179,6 mil vítimas reportadas no ano passado.
O perfil das vítimas mostra que a maioria é do gênero feminino e a faixa etária entre 70 e 74 anos. Os principais agressores costumam ser familiares próximos, como filhos e cônjuges. Os tipos de violência mais recorrentes incluem negligência, violência psicológica (tortura psíquica) e violência física.
As informações do Atlas da Violência 2024 apontaram Mato Grosso do Sul como o Estado com a maior taxa proporcional de notificações de violência interpessoal contra idosos do país – 312,9 casos por 100 mil habitantes.
Compromisso da ALEMS pelo respeito e dignidade

Além de aprovação leis, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) realiza outras ações de enfrentamento à violência contra os idosos. Entre essas iniciativas, está o livro infantil “Uma festa para a vida: animais do Pantanal e os direitos dos idosos”, produzido pela Comunicação Institucional da ALEMS.
O livro, que integra a coleção “Cidadania é o bicho”, usa a fauna pantaneira para inserir no universo infantil temas sérios e graves relativos à violência contra a pessoa idosa, como negligência, chantagem emocional, violência material e agressão física. Acesse a obra digital aqui.
Fonte: Heloíse Gimenes/Agência ALEMS.