Ontem o mundo perdeu Ozzy Osbourne.
Sim, o príncipe das trevas. O eterno frontman do Black Sabbath. Aquele que, mesmo com a voz já cansada e o corpo marcado por décadas de excessos e resistência, subiu ao palco semanas atrás e nos lembrou o que é um verdadeiro show de rock.
Queria ter escrito esse texto ontem.
Mas não consegui. Fiquei lembrando de tantos outros nomes que também já se foram, e de como a vida passa depressa. Uma sensação agridoce que deixa a gente com aquela tristeza melosa, difícil de explicar, como se a alma ficasse um pouco mais silenciosa.
E agora ele se foi.
Assim como Bowie, Paulinho do Roupa Nova, André Matos, Chrystian da dupla Chrystian & Ralf, Renato Russo, Elvis Presley… e tantos outros que deixaram sua marca no mundo antes de partirem. Freddie Mercury, Tom Petty, Dolores O’Riordan, Chester Bennington, Cássia Eller, Elis Regina, Raul Seixas, Belchior, João Gilberto, Whitney Houston.
A lista é longa — e pesada.
A sensação que fica é a de que, aos poucos, o palco da vida vai se esvaziando dos grandes, das lendas, dos que faziam arte com alma.
Fico pensando como isso mexe com a gente.
Não só pela perda em si, mas porque cada artista desses carrega em sua trajetória um pedaço da nossa história. Uma lembrança. Uma fase da vida. Uma revolução interior.
Hoje, olho em volta e percebo que já não surgem bandas de rock como antes. Cadê os novos Legião Urbana? Os novos Raul Seixas? Onde estão as duplas sertanejas de raiz, que contavam histórias com poesia, que falavam de saudade, de terra, de verdade? O que restou das letras que a gente sentia na pele?
Não é saudosismo barato, não é desmerecer o novo. É só uma constatação triste de que algo está mudando — ou sumindo. Pode ser culpa da pressa, da informação demais, da desinformação também. As playlists são instantâneas, o sucesso é viral, e a profundidade parece ter sido deixada de lado pra caber em 15 segundos de vídeo.
E tudo bem se me julgarem por isso.
Eu não estou aqui pra dizer que “antes era melhor”. Estou aqui pra dizer que “antes era diferente”, e que tem coisas que fazem falta.
Faz falta ouvir um solo de guitarra que arrepia. Faz falta uma letra que emociona. Faz falta ver no palco alguém que viveu o que canta.
As lendas estão envelhecendo.
E isso dói mais do que eu imaginava.
Nessa hora, ecoam versos que nos atravessam:
“Chora, peito, me mata de uma vez, porque aos poucos eu não vou morrer.”
Ou aquele sopro de força e poesia do Roupa Nova:
“Não há vento ou tempestade que te impeçam de voar.”
E em meio a tudo isso, as palavras do próprio Ozzy nos tocam com ainda mais sentido — como quando ele perguntava ao mundo:
“Me diga onde me encaixo nessa sociedade doente.”
Ou quando lembrava, com a sabedoria de quem viveu tudo:
“A vida não vai esperar por você.”
E talvez sua frase mais sincera, a que fica martelando na mente nesses dias de silêncio:
“Sou apenas um sonhador, passo a vida sonhando.”
Talvez sejamos todos um pouco assim: sonhadores tentando encontrar um lugar num mundo que mudou rápido demais.
Mas talvez, se a gente continuar ouvindo, lembrando e valorizando o que essas pessoas deixaram, a música nunca morra de verdade.
E quem sabe…
Se a gente parar pra escutar, ainda dê tempo de criar algo novo com alma de verdade.
As lendas não morrem. Elas ecoam.
Fonte: Nádia Rocha/Redação Amambai Notícias