José Luiz Nunes Moreira
Jornalista – DRT/RS 5759-21/100
Internacional
Censo das religiões
Nesse mês de junho foram publicados dados importantes sobre a presença das religiões no mundo e também no Brasil.
No dia 9 saíram os dados publicados pelo Pew Research Center´s Forum de Washington D.C sobre as religiões mundiais. Trata-se de um centro de estudos ou “laboratório de ideias” voltado para transmitir informações e dados que traduzem a realidade do mundo.
No dia 12 de junho, aqui no Brasil, saíram os dados preliminares do Censo do IBGE (2010-2022) sobre o campo religioso brasileiro.
Fonte: Faustino Teixeira – IHU/Paz e Bem /
fteixeira-dialogos.blogspot.com.
*¹ Saiba mais sobre a diversidade religiosa
Película
As religiões no mundo

O cristianismo continua sendo o grupo mais numeroso do mundo, com 2.3 bilhões de adeptos, seguido pelos muçulmanos, com 2.0 bilhões. Na sequência aparecem os não-afiliados (1.9 bilhão), os hindus (1.2 bilhão) e os budistas (0.3 bilhão). Os judeus aparecem com percentagem bem menor, com 0.01 bilhão.
Os não-afiliados (sem religião) traduzem hoje uma presença de 24.2% da população mundial.
O que se nota é que os muçulmanos constituem o grupo religioso mundial em maior expansão. Já ultrapassaram os católicos, e agora vão se aproximando dos cristãos. Os muçulmanos somam hoje 25.6% da população mundial, enquanto os cristãos somam 28.8%.
Os países com maior número de muçulmanos são a Indonésia, Paquistão, Índia, Bangladesh e Nigéria.
Quanto aos cristãos, os países com maior incidência são Estados Unidos, Brasil, México, Filipinas e Rússia, progressivamente.
Os não-afiliados estão mais presentes na China, com número bem expressivo, vindo na sequência os Estados Unidos, Japão, Vietnam, Alemanha, Rússia, Brasil e França.
Os hindus estão mais presentes na Índia, com presença mais moderada no Nepal, Bangladesh, Paquistão e Indonésia.
Por sua vez, os budistas marcam maior presença na Tailândia, China, Miamar, Japão e Vietnã.
Os judeus têm uma presença bem menor em âmbito mundial, estando mais presentes em Israel, Estados Unidos, França e Canadá.
Fonte: Faustino Teixeira – IHU/Paz e Bem /
fteixeira-dialogos.blogspot.com.
Veja mais em: https://www.pewresearch.org/religion/2025/06/09/how-the-global-religious-landscape-changed-from-2010-to-2020/
Tarifaço 1
Cancelada reunião com gestores da economia dos EUA e do Brasil
Prevista para esta quarta-feira (13), a reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, foi cancelada. A informação é do ministro Haddad, que atribuiu o cancelamento a uma articulação da extremadireita estadunidense.O ministro considera a motivação do cancelamento política, não econômica.
“Argumentaram falta de agenda. Uma situação bem inusitada. O que fica claro para nós é que a questão comercial não está em foco”, afirmou.
O ministro da Fazenda lembrou que o Brasil está tendo tratamento diferenciado em relação a outros países e blocos econômicos que conseguiram negociar com o governo de Donald Trump, como a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul.
Fonte: Agência Brasil
Nacional
As religiões no Brasil

No Brasil, 83,6 % se declararam cristãos, sendo 56,7% católicos e 26.9% evangélicos.
Os sem religião ocupam o terceiro lugar dentre os declarantes, na sequência dos católicos e evangélicos. As outras tradições religiosas continuam em 4 % de declaração de crença.
Católicos
De acordo com o Censo, o catolicismo liderou em todas as grandes regiões do Brasil, com presença destacada no Nordeste (63,9%) e no Sul (62,4%). A maior presença de católicos ocorreu no estado do Piauí, com 77,4% de declarantes. Foram também maioria em todos os grupos de idade.
Evangélicos
Os evangélicos têm sua maior presença no Norte (36,8%) e Centro-Oeste (31,4%), com concentração na fronteira agrícola e mineral do país, bem como nas favelas e municípios de regiões metropolitanas. A maior proporção de evangélicos foi detectada no Acre (44,4%), e a menor no Piauí (15,6%). Em algumas cidades, os evangélicos já ultrapassaram os católicos, como em Rio Branco (AC), Duque de Caxias (RJ), Nilópolis (RJ) e Búzios (RJ).
Enquanto os católicos estão mais presentes entre os mais velhos, os evangélicos têm um perfil mais jovem, sendo a maior proporção entre aqueles que têm de 10 a 14 anos (31.6%).
Esse perfil jovem também se verifica entre os sem religião.
Sem religião
Cresce também no Brasil a presença dos sem religião. Quase 10% da população brasileira define-se hoje como sem religião. São índices que se aproximam de outros países da América Latina, como México (10,6%), Argentina (9,2%) e Equador (8,4%). A proporção aumenta em países como Uruguai (52,4) e Chile (30,3%).
Presença Afro
Com respeito às tradições afro-brasileiras (umbanda e candomblé), houve um crescimento expressivo, com um aumento de 233% com respeito ao Censo de 2010. Naquela ocasião, a presença afro era de 0,3% dos declarantes.
Agora, o quadro se transforma, com o aumento da declaração de crença afro-brasileira, que alcança 1.0%. Pode-se atribuir tal crescimento a todo um movimento de afirmação e valorização do debate racial no Brasil.
Fonte: Faustino Teixeira – IHU/Paz e Bem /
fteixeira-dialogos.blogspot.com.
Saiba mais em:
Meio Ambiente
Foi publicada no dia 8 último, em edição extra do Diário Oficial da União, a Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei 15.190, 2025), com 63 dispositivos vetados. O Executivo argumenta que os vetos buscam garantir maior proteção ambiental e segurança jurídica e que o texto retirado da lei poderia eliminar ou reduzir exigências para o licenciamento.
Lula vetou 63 dos 400 dispositivos do projeto aprovado pelo Congresso (PL 2.159/2021), que foi apoiado pelo agronegócio e setores empresariais, mas vinha sendo denunciado por organizações ambientalistas e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como um grave retrocesso.
Uma medida provisória (MP 1.308/2025) e outro projeto de lei, com urgência constitucional, também foram assinados por Lula, para recompor em parte os dispositivos vetados. A MP trata exclusivamente da regulamentação do chamado Licenciamento Ambiental Especial (LAE), com regras que garantam agilidade ao processo.
Diretrizes do Governo Federal
O Governo Federal reforça que as medidas foram tomadas após avaliação técnica e jurídica, para seguir quatro diretrizes:
1ª – Garantir a integridade do processo de licenciamento, que proteja o meio ambiente e promova o desenvolvimento sustentável.
2ª – Assegurar os direitos de povos indígenas e comunidades quilombolas.
3ª – Dar segurança jurídica a empreendimentos e investidores.
4ª – Incorporar inovações que tornem o licenciamento mais ágil, sem comprometer sua qualidade.

Entre os principais pontos avaliados do PL, destacam-se:
1. Restrição da Licença por Adesão e Compromisso (LAC) a empreendimentos de baixo potencial poluidor
O que foi feito: Vetada a ampliação para atividades de médio potencial poluidor.
Por quê? Evita que empreendimentos de risco relevante, como barragens de rejeitos, realizem licenciamento simplificado sem análise técnica adequada. O PL do Executivo, além de restringir a LAC para baixo potencial de impacto, acrescenta limites ao procedimento auto declaratório.
2. Assegura que entes federativos respeitem padrões nacionais de critérios e procedimentos
O que foi feito: Vetados dispositivos que transferiam de forma ampla a cada ente federado, sem padronização, a responsabilidade por estabelecer critérios e procedimentos de licenciamento — como porte, potencial poluidor, tipologias sujeitas a licenciamento, modalidades específicas de licenças e atividades passíveis de LAC.
Por quê? A medida evita uma descentralização que poderia estimular uma competição antiambiental entre os entes federativos, em que a flexibilização de regras ambientais se tornaria moeda de troca para atração de investimentos com potencial de causar danos. O alinhamento nacional assegura previsibilidade para empreendedores, reduz disputas judiciais e mantém um padrão mínimo de proteção ambiental, garantindo segurança jurídica aos empreendimentos.
3. Preservação da Mata Atlântica
O que foi feito: Veto para impedir a retirada do regime de proteção especial previsto na Lei da Mata Atlântica em relação à supressão de floresta nativa.
Por quê? A Mata Atlântica é um bioma reconhecido como patrimônio nacional pela Constituição Federal e já se encontra em situação crítica, com apenas 24% de sua vegetação nativa remanescente.
4. Proteção dos direitos de povos indígenas e comunidades quilombolas
O que foi feito: Foram vetados dispositivos que restringiam consulta aos órgãos responsáveis pela proteção de povos indígenas e comunidades quilombolas.
Por quê? A limitação proposta no texto do PL aprovado deixaria de fora uma série de povos e territórios em fase de reconhecimento pela Funai e pela Fundação Palmares, contrariando a Constituição Federal. O novo PL assegura a participação de ambos, prevenindo conflitos e fortalecendo a participação social nas decisões que impactam diretamente modos de vida e territórios tradicionais. Assim, mantém o que está previsto no regramento federal específico.
5. Veto à dispensa de análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR)
O que foi feito: Vetada a proposta que dispensa o licenciamento ambiental para produtores rurais com CAR ainda pendente de análise pelos órgãos ambientais estaduais.
Por quê? A medida protege o meio ambiente, uma vez que somente serão dispensados do licenciamento os proprietários rurais que tiverem o CAR analisado.
6. Mantém as condicionantes ambientais e medidas compensatórias para impactos diretos e indiretos previsíveis
O que foi feito: Vetado dispositivo que limitava a aplicação de condicionantes ambientais e medidas compensatórias apenas aos impactos diretos, excluindo os impactos indiretos ou os efeitos sobre serviços públicos agravados pela implantação do empreendimento.
Por quê? A medida assegura que, sempre que houver nexo de causalidade entre o empreendimento e os impactos ambientais – diretos ou indiretos -, possam ser exigidas medidas adequadas de mitigação, compensação ou controle, preservando a efetividade do licenciamento ambiental. No PL do Executivo a ser enviado, fica garantida a adoção de medidas para reforçar temporariamente serviços públicos que venham a ser pressionados ou sobrecarregados de forma excepcional em razão da implementação do empreendimento.
7. Proteção às Unidades de Conservação
O que foi feito: Vetado artigo que retirava o caráter vinculante de manifestação de órgãos gestores de Unidades de Conservação no licenciamento de empreendimentos que afetem diretamente a unidade ou sua zona de amortecimento.
Por quê? A medida reforça a importância da avaliação técnica especializada na proteção de áreas ambientalmente sensíveis, assegurando que os impactos sobre Unidades de Conservação sejam devidamente analisados e considerados nas decisões de licenciamento pelos órgãos gestores responsáveis por essas áreas.
8. Manutenção da LAE com veto ao processo monofásico
O que foi feito: A criação da LAE (Licenciamento Ambiental Especial) constitui importante instrumento para modernização do processo de licenciamento. Contudo, foi vetado o dispositivo que estabelecia um procedimento monofásico, que autorizaria a expedição de todas as licenças ao mesmo tempo.
Por quê? Porque o processo monofásico exigiria dos empreendedores antecipação de despesas relevantes antes mesmo de comprovada a viabilidade ambiental do empreendimento, que é um dos primeiros passos do processo. Por outro lado, geraria insegurança jurídica passível de judicialização.
9. Manutenção da responsabilidade de instituições financeiras na concessão de crédito
O que foi feito: Foi vetado o dispositivo que enfraquecia a responsabilidade de instituições financeiras em casos de danos ambientais de projetos por elas financiados.
Por quê? A medida reforça a importância de que o crédito seja condicionado ao cumprimento da legislação ambiental, estimulando a prevenção de danos e alinhando o financiamento ao desenvolvimento sustentável. O PL do Executivo estabelece que o financiador deve exigir do empreendedor o licenciamento ambiental antes de conceder crédito.
Avanços
Foram preservados dispositivos do PL aprovado pelo Congresso que asseguram o licenciamento e a proteção ambiental. Entre os principais avanços preservados estão:
- Elevação ao status de lei de diversos dispositivos atualmente dispersos em normas infralegais, estaduais e municipais, conferindo maior segurança jurídica, estabilidade normativa e fortalecimento da política nacional de meio ambiente.
- Definição de prazos para análise dos processos, promovendo maior previsibilidade para os empreendedores e para a administração pública.
- O PL do Executivo a ser enviado garantirá que a Licença por Adesão e Compromisso (LAC) tenha parâmetros unificados em todo o país para sua aplicação em projetos de baixo impacto, respeitando parâmetros técnicos e critérios ambientais.
- Aumento da pena para quem operar atividade ou empreendimento sem licença ambiental.
Palavra final
Todos os dispositivos vetados serão analisados em sessão do Congresso Nacional e podem ser mantidos ou cancelados. Para a rejeição do veto é necessária a maioria absoluta dos votos de deputados e senadores, ou seja, 257 votos de deputados e 41 votos de senadores, computados separadamente. Registrada uma quantidade inferior de votos pela rejeição em umas das Casas, o veto é mantido.
Fonte: Agências de Notícias do Governo Federal e do Senado
Estadual
Tarifaço 2
MS correndo atrás

Comitiva sul-mato-grossense realizou agenda internacional em países asiáticos visando buscarnovos parceiros comerciais para superar as medidas tarifárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump.
Ampliar o mercado de exportação de proteína animal, de celulose e atrair investimentos em energia renovável foram as metas da comitiva, encabeçada pelo governador do Estado, Eduardo Riedel.
Foram mantidos encontros com segmentos empresariais e instituições governamentais da Índia, Japão, Arábia Saudita e Cingapura.
Diversificando mercados
O governador Eduardo Riedel Fies avalia a missão como estratégica diante do cenário internacional incerto. Com os Estados Unidos impondo barreiras comerciais à importação de produtos brasileiros, entre eles a carne bovina e a celulose, o Mato Grosso do Sul busca diversificar seus mercados e reduzir a dependência de acordos que podem instáveis.
Segundo Riedel, a Índia, a China, assim como demais países da Ásia e da Europa,passam a ser novas oportunidades de comércio para a carne bovina do MS.
Além do governador do MS,a missão contou com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gerson Claro; o presidente da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Sérgio Longen;o diretor de Relações Internacionais da Fiems, Aurélio Rolim; o diretor superintendente do Sebrae-MS, Cláudio Mendonça, o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae e vice-presidente da Famasul, Maurício Saito, e osecretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento, Jaime Verruc.
Fonte: Comunicação Governo de MS
Alto Amambai
Programa de medicamentos

Na coluna anterior, publicamos texto do debate ocorrido na Câmara de Vereadores de Amambai sobre a necessidade de melhorias nos serviços na área da saúde prestados pelo executivo municipal. Entre as falhas citadas, está a falta de medicamentos nos postos de saúde.
Nesta coluna, publicamos texto informativo sobre a gestão, aquisição e implantação do programa de medicamentos.
Como que funciona a compra de medicamentos da gestão pública?
Mayara Gomes de Farias, coordenadora da assistência farmacêutica da prefeitura de Amambai explica:
São três os componentes da compra de medicamentos: o básico, o estratégico e o especializado.
O município é responsável pelo componente básico, que são os medicamentos distribuídos nas unidades básicas de saúde.
A compra é feita por licitações e se baseia na Relação de Medicamentos Essenciais – Rename. Os recursos são das três esferas – municipal, estadual e federal.
A licitação é on line e todas as empresas do Brasil podem participar. A aquisição dos medicamentos vale por um ano, ou seja, durante 12 meses a empresa selecionada no pregão eletrônico é responsável pelo medicamento da licitação que participou. Uma licitação pode abranger cerca de 60 mil medicamentos.
Muitas vezes a empresa demora para entregar o medicamento. A prefeitura notifica-a judicialmente. Esta notificação pode ser feita por três vezes; em todas, a empresa tem direito de resposta. Se, por fim, esta empresa for desclassificada porque não atendeu a entrega do medicamento, a prefeitura tem que contatar as demais empresas que participaram da licitação para ver se essas podem oferecer o mesmo valor do medicamento ofertado pela empresa que ganhou a licitação, posteriormente desclassificada.
Todos os trâmites de licitações são determinados pelo Tribunal de Contas.
Fonte: entrevista em rede social
Glossário

Com intuito de contribuir com o regionalismo, esta coluna publica vocábulos típicos e expressões regionais do Alto Amambai com seus devidos significados.
Mocorongo – indivíduo de pouca instrução e modos rústicos, pessoa lerda.
Mandinga – maldição que se lança em voz alta
Mbore (Guarani) – xingamento forte; expressa repulsa pela pessoa de mau caráter ou situação indesejável.
Guaxire (Guarani) – dança casual, pode ser cantada com músicas alegres.
Gancho – pessoa teimosa
Culture-se
Literatura

Corpo de Baile
Carlos Drummond de Andrade
Publicado em 1984, Corpo é um dos grandes livros da última fase de Carlos Drummond de Andrade. Com mais de oitenta anos de vida e cinquenta de carreira literária (Alguma poesia, sua estreia em livro, é de 1930), o mineiro jamais se acomodaria: a força dos poemas reunidos neste volume é testemunha do inesgotável talento para ajustar, numa poesia tão comunicativa quanto poderosa, grandes temas como o amor, a morte, o meio ambiente e os afetos.
Entre as poesias do livro sugerido, destaco esta abaixo.
Adeus a Sete Quedas
Sete quedas por mim passaram,
E todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
A memória dos índios, pulverizada,
Já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,
Aos apagados fogos
De ciudad real de guaira vão juntar-se
Os sete fantasmas das águas assassinadas
Por mão do homem, dono do planeta.
Aqui outrora retumbaram vozes
Da natureza imaginosa, fértil
Em teatrais encenações de sonhos
Aos homens ofertadas sem contrato.
Uma beleza-em-si, fantástico desenho
Corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno
Mostrava-se, despia-se, doava-se
Em livre coito à humana vista extasiada.
Toda a arquitetura, toda a engenharia
De remotos egípcios e assírios
Em vão ousaria criar tal monumento.
E desfaz-se
Por ingrata intervenção de tecnocratas.
Aqui sete visões, sete esculturas
De líquido perfil
Dissolvem-se entre cálculos computadorizados
De um país que vai deixando de ser humano
Para tornar-se empresa gélida, mais nada.
Faz-se do movimento uma represa,
Da agitação faz-se um silêncio
Empresarial, de hidrelétrico projeto.
Vamos oferecer todo o conforto
Que luz e força tarifadas geram
À custa de outro bem que não tem preço
Nem resgate, empobrecendo a vida
Na feroz ilusão de enriquecê-la.
Sete boiadas de água, sete touros brancos,
De bilhões de touros brancos integrados,
Afundam-se em lagoa, e no vazio
Que forma alguma ocupará, que resta
Senão da natureza a dor sem gesto,
A calada censura
E a maldição que o tempo irá trazendo?
Vinde povos estranhos, vinde irmãos
Brasileiros de todos os semblantes,
Vinde ver e guardar
Não mais a obra de arte natural
Hoje cartão-postal a cores, melancólico,
Mas seu espectro ainda rorejante
De irisadas pérolas de espuma e raiva,
Passando, circunvoando,
Entre pontes pênseis destruídas
E o inútil pranto das coisas,
Sem acordar nenhum remorso,
Nenhuma culpa ardente e confessada.
(“assumimos a responsabilidade!
Estamos construindo o brasil grande!”)
E patati parati patatá…
Sete quedas por nós passaram,
E não soubemos, ah, não soubemos amá-las,
E todas sete foram mortas,
E todas sete somem no ar,
Sete fantasmas, sete crimes
Dos vivos golpeando a vida
Que nunca mais renascerá.
O poema Adeus a Sete Quedas de Carlos Drummond de Andrade foi originalmente publicado no Jornal do Brasil, em setembro de 1982. Posteriormente, foi incluído no livro Corpo de Baile.
O poema é uma elegia à destruição das Sete Quedas do rio Paraná, que ocorreu com a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Drummond lamenta a perda da beleza natural e critica a ação humana que levou à sua submersão.
É importante notar que o poema também foi publicado em outras coletâneas e plataformas, como no site Alguma Poesia e em vídeos no YouTube, mas sua primeira publicação e inclusão em livro ocorreu em Corpo de Baile.
Em tempo: A construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu iniciou em 1975 e foi inaugurada em 1984. A inundação das Sete Quedas ocorreu em outubro de 1982, durante 14 dias.
Fonte: www.carlosdrummond.com.br
*¹ Película
Híbridos: Os Espíritos do Brasil
Documentário – 2017
Direção: Vincent Moon
O documentário Híbridos, os espíritos do Brasil, é resultado de um estudo experimental e etnográfico sobre diversos cultos religiosos do Brasil. O filme aborda, de maneira poética e sensorial, a diversidade da cultura espiritual no país e os laços entre curandeiros, xamãs, místicos, devotos e iniciados, em uma espécie de cinema-transe que dá início a um novo ritual cinematográfico.
Fonte: ufmg.br
Produção: @arte85
Edição: Viviane Viaut